Existe uma espécie de ditado no mercado de futebol que diz que quanto mais ódio existe na relação entre dois clubes, melhor. Ou seja, quanto mais um torcedor de um time A odeia o torcedor de um time B, mais possibilidades de exploração mercadológica existem.
Natural, afinal o combustível, a essência mais básica do futebol é a rivalidade. Não existe jogo sem combate, não existe vitória sem derrota e não existe redenção sem a vontade de vingança. Quanto mais intensas forem essas características, mais intenso será o jogo e mais intensa será a ligação da torcida com o seu clube. E, obviamente, maior intensidade na relação torcida-clube significa maiores possibilidade de captação financeira dentro desse processo.
É claro que para uma observação mercadológica e social esse ódio precisa ser controlado sem que ultrapasse o tênue equilíbrio entre o respeito e a violência. Ódio é bom, violência é péssimo.
Bom. Tudo isso foi para falar sobre como as movimentações bélicas deflagradas por Venezuela, Equador e Colômbia podem afetar o futebol. Contemporaneamente, a América do Sul, pelo menos sob a perspectiva brasileira, não é um grande caldeirão de rivalidades pátrias. Obviamente existem discordâncias e afins, mas nada que signifique maiores tradições bélicas, com anos e anos de conquistas de territórios, mortes e coisas parecidas. Só uma guerrinha aqui, outra ali, mas nada que faça com que os habitantes de cada país manifestem seus desgostos em uma partida ou que motive dirigentes a fazerem declarações polêmicas na antecedência de algum confronto.
A coisa por aqui sempre foi meio tranqüila, principalmente se compararmos com Europa, Ásia ou, quiçá, África. Pelo menos até agora.
Futebol é notoriamente um dos grandes símbolos de uma nação, e isso toma muito corpo nas partidas entre seleções rivais. É, com o perdão do imenso clichê, uma batalha resumida a 90 minutos. E é em parte por isso que as pessoas gostam de futebol, porque ele permite que você xingue alguém sem que isso seja considerado uma ofensa pessoal. É coisa de jogo, é coisa de rivalidade. E, no mundo racional, o futebol possui essa permissividade.
É difícil acreditar que vá ocorrer um confronto de maiores proporções, mas certamente esse recente entrevero favorece, e muito, o recém começado campeonato continental. Mas é bom atentar que para o conflito ser benéfico, o ódio controlado é necessário não apenas entre nações, mas também entre cidadãos. Caso o problema seja apenas de ordem institucional, ou seja, caso ele não represente o real sentimento da população como um todo dos países envolvidos, as partidas dificilmente refletirão uma nova situação. Continuará tudo mais ou menos na mesma.
Levando-se em conta que o histórico da América Latina mostra que dificilmente uma população de um país é plenamente representada pelo seu governo, é provável que nada vai mudar e que a última hipótese tende a ser a verdadeira.
O que é ruim, mas é bom.
Por: Oliver Seitz
Cidade do Futebol
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