9 de março de 2008

Quem manda sou eu

Como era previsível, a Premier League não deu muita bola para as manifestações contrárias ao tal ‘Game 39’ e manteve o seu plano de dominância mundial. Nada mais natural, volto a dizer, para a Liga mais rica do planeta.
Obviamente, um monte de gente não gostou da idéia, em particular a Fifa, como eu também já disse na minha última coluna. Mas o que pega é que a Fifa não gostou tanto que já existem rumores sobre um possível boicote do órgão com relação à candidatura inglesa para sediar a Copa de 2018. Com isso, conseguiu jogar ainda mais a população e o poder público da Inglaterra contra a Premier League.
Esse fato mostra um pouco como o principal órgão do futebol mantém o seu controle. A estratégia da Fifa é bem clara. Quando há qualquer ameaça relevante, ela tende a colocar em jogo o registro da seleção nacional, ou seja, ameaça banir o selecionado nacional do país em que o problema acontece de qualquer competição internacional. Dessa forma, ela consegue inibir um símbolo que é chave para uma boa parte dos países do mundo, a seleção nacional de futebol, e assim fazer com que governantes e população pensem duas vezes antes de continuar qualquer tentativa de conflito com o establishment.
A grande vantagem da Fifa nesse processo é que os agentes que tomam as atitudes conflituosas tendem a ter um suporte das ações focado apenas e tão somente dentro do mundo do futebol. Entretanto, quando a Fifa faz qualquer ameaça contra o símbolo da nação, a represália se dá para um público muito maior, o que faz com que as pressões inicialmente internas sejam ampliadas para todos os ambientes. Como o ambiente externo ao futebol também tende a não entender muito das questões específicas do esporte em si, mas se preocupar bastante com o macro-jogo, ou seja, as seleções, o poder de barganha da Fifa fica quase que inigualável. A maioria das pessoas possivelmente não entende o motivo da revolta, mas compreende perfeitamente o efeito da punição. E foi isso que a Fifa fez com a Inglaterra, a ponto de sequer ter se sentado para discutir qualquer coisa com a Premier League.
Com práticas como essa, a Fifa consegue manter a estrutura hierárquica do futebol, ainda mais globalmente, uma vez que acaba por ser beneficiada pelos desequilíbrios econômicos e sociais presentes no mundo como um todo. Entretanto, a indústria do futebol cresce e se fortalece cada dia mais, o que favorece a abertura do processo de governança global e permite que novos e fortes agentes comecem a tomar parte do sistema. Lógico que isso não vai acontecer nem hoje e nem amanhã. Mas um dia vai.

Por Oliver Seitz
Cidade do Futebol

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