26 de novembro de 2010

Da "pequena forma de dizer não"

Os jornais desportivos já quase não falam dos quatro irmãos Starostin. Afinal Nikolai, o mais velho dos quatro, morreu há já década e meia, aos 96, encerrando definitivamente um ciclo de glória, perseguição e resgate que durou quase meio século. Em conjunto com Aleksandr, Andrey e Pyotr, constituíra, na década de 1930, o núcleo motor da equipa de futebol do Spartak de Moscovo. Os «irmãos Starostin» foram por esses anos terríveis – os do pior período das purgas estalinistas e das grandes fomes – os mais populares jogadores da União Soviética, responsáveis pelo futebol tecnicista, ao «estilo europeu», do Spartak de Moscovo. Os seus êxitos rapidamente incomodaram o regime, que apoiava as outras duas grandes equipas da capital, o CSKA, clube do exército, e o Dynamo, do NKVD/KGB, ambos partidários de um jogo mais atlético, mas não o Spartak. Os Starostin acabaram por ser acusados de «vedetismo» e, a dada altura, indiciados por integrarem uma pseudo-conspiração destinada a assassinar José Estaline.
A enorme popularidade de que dispunham salvou-os do pelotão de fuzilamento – a acusação foi convertida numa outra, menos grave – mas não de passarem dez anos em campos do Gulag, onde «terminaram a carreira» jogando futebol em equipas de prisioneiros. Alguns testemunhos referem que para a sua desgraça não terá contribuído pouco uma derrota humilhante um dia imposta pelo Spartak ao Dynamo, numa altura em que neste actuava um jovem de fugaz carreira desportiva de nome Lavrenti Beria, nem mais nem menos do que o futuro «comissário dos assuntos internos», o chefe da polícia politica. Nikolai e os irmãos, bem como outros responsáveis, jogadores e adeptos do Spartak envolvidos na mesma purga, apenas foram definitivamente reabilitados, alguns deles a título póstumo, na época de Kruchtchev. Toda a história, muito útil para perceber uma «pequena forma de dizer não» conservada como instrumento de resistência na era de Estaline, é-nos contada em Spartak Moscow. A History of the People’s Team in the Workers’ State, de Robert Edelman. A Cornell University Press publicou-o em 2009.

25 de novembro de 2010

Os futebolistas bascos vão jogar com a selecção para relançar a exigência da oficialização




Vai haver jogo de Natal da selecção. E muitos dar-se-ão por satisfeitos pelo facto de se retomar a celebração de uma festa que, na opinião dos protagonistas, deveria ir bastante mais além.

É precisamente o objectivo final dessa jornada, a sua essência, aquilo que separou a Federação e os futebolistas nos últimos anos. E, na verdade, continua a fazê-lo. Porque, como os jogadores explicaram ontem numa nota pública, desta vez também não se chegou a um acordo com a Federação, que acusam não só de «não ter vontade de dar passos em prol da oficialização», mas também de manter um discurso ambíguo a esse respeito, incumprindo permanentemente os compromissos assumidos.

A pesar disso, os futebolistas tomaram «a decisão de jogar, para acabar com as interpretações interessadas e para que a sociedade entenda claramente que os futebolistas bascos estão sempre dispostos a defender as nossas cores, no campo ou em qualquer outro lugar». Mas as suas intenções têm pouco a ver com o aspecto folclórico ou, mais ainda, pecuniário com que se conforma a Federação. «Só quer organizar os jogos com o objectivo de obter benefícios económicos - denunciam. Essa é a sua verdadeira preocupação a respeito da selecção. Para arredondar o orçamento anual, essa fonte de rendimentos é imprescindível à Federação Basca. E é isso que a leva a fazer o esforço de organizar o jogo, não o sonho da oficialização da nossa selecção».

Daí que, face à atitude federativa, os futebolistas façam um apelo para que as aparições da selecção não se reduzam a festivais anuais para amealhar verbas. «Tomámos a decisão de vestir a camisola do nosso país. E, unindo-nos à vontade dos aficionados bascos e da maioria da sociedade, gostaríamos que o jogo de Natal fosse um dia de reivindicação do nosso direito e não um acto teatral para cobrar dinheiro», insistem.

De facto, os jogadores querem que «este jogo represente o final de um ciclo e o princípio de uma nova era. Estamos dispostos a jogar este ano, mas, olhando para o futuro, julgamos que será necessário trabalhar também noutras áreas». E para isso solicitam a ajuda da sociedade basca. «Há muito trabalho por fazer e queremos dizer, com sinceridade, que nós, jogadores, não nos vemos capazes de fazer o caminho todo sozinhos. Por isso, com toda a humildade, queremos pedir ajuda à sociedade basca e especialmente a quem pude dar o seu contributo neste âmbito, para que entre todos construamos o caminho em direcção à oficialização».

Amaia U. LASAGABASTER


24 de novembro de 2010

Eric Cantona convoca boicote aos bancos


Estudantes e funcionários públicos em toda a Europa que se preparam para um longo inverno de protestos e manifestações acabam de receber ajuda de peso de Eric Cantona, jogador de futebol afamado e modelo arquetípico de rebelde.

Aos 44 anos, o ex-jogador recomendou corrida massiva aos bancos mundiais, em entrevista a um jornal, filmada também para ser exibida pela televisão. A entrevista virou sucesso imediato no YouTube e já desencadeou vasto movimento político (em http://www.youtube.com/watch?v=-Uop5R7E314).

Cantona começou por intervenções de ação direta dentro e fora das quatro linhas. Em 1995, foi punido com nove meses de suspensão, quanto atacou com um golpe de caratê, no Crystal Palace, um espectador que gritou slogans racistas contra um jogador, depois de ter sido expulso (no detalhe da foto ao lado). Agora, solidário ao protesto dos franceses, o já aposentado Cantona prega abordagem mais radical e mais sofisticada para forçar melhores condições de negociação.

O jornal regional Presse Océan em Nantes perguntou a Cantona sobre seu trabalho social com a Fundação Abbé Pierre, que faz campanha por moradia para os pobres e para a qual produziu um livro de fotografias no ano passado. A discussão rapidamente tomou outro rumo e o entrevistador comentou as manifestações de rua na França e em toda a Europa contra os cortes nos investimentos governamentais na melhoria da assistência aos cidadãos, na atual 'nova era de austeridade'.

Cantona, usando uma brilhante jaqueta vermelha, disse que os protestos, como estão sendo feitos, jamais trarão qualquer resultado. Cartazes e palavras de ordem já não mudam nada. Em vez disso, os manifestantes poderiam provocar verdadeira revolução social e econômica, se sacassem todo o dinheiro que todos têm depositado nos bancos.

Disse Cantona: "Não acho que alguém possa sentir-se completamente feliz, vendo a horrível miséria que nos cerca. A não ser que você viva numa redoma. Sempre há alguma coisa que qualquer um pode fazer. De qualquer modo, sair às ruas já não resolve problema algum. Há outros meios para fazer as coisas andarem melhor.

"Tampouco acredito em pegar em armas e sair matando gente, para iniciar a revolução. De fato, a coisa hoje ficou até muito mais fácil do que antes. Qual é a base sobre a qual todo o sistema foi construído? Todo o sistema está hoje construído sobre o poder dos bancos. Portanto, o sistema só pode ser modificado ou destruído se modificarmos ou detruirmos os bancos.

"Se as três milhões de pessoas que levaram seus cartazes para as manifestações de rua fossem ao banco e sacassem todo o dinheiro que têm depositado lá, os bancos entrariam em colapso. 3 milhões, 10 milhões de pessoas sacando todo o dinheiro que têm depositado em bancos é movimento civil, de que qualquer um pode participar sem medo de represálias. E começaríamos uma revolução.

"Bastaria que cada um fosse ao banco e sacasse todo o próprio dinheiro. Não é difícil. Em vez de ir para as ruas, ou de dirigir quilômetros para participar das manifestações na capital, cada um vai ao próprio banco, na cidade e no país em que estiver, e saca o próprio dinheiro. O dinheiro fica na mão do seu legítimo proprietário e os bancos desmoronam. Serviço limpo. Sem armas, sem violência, sem sangue."

E concluiu: "Nada de complicado. E, imediatamente, os bancos passariam a ouvir de outro modo os cidadãos. Sindicatos? Quem pode reivindicar alguma coisa, com medo de ser demitido? Os sindicatos precisam entender melhor o mundo."

A ideia de Cantona parece ter tocado ponto sensível em muitas cabeças e gerou resposta imediata. Mais de 40 mil visitas imediatas ao filme no YouTube e um movimento francês (StopBanque) imediatamente começou a divulgar campanha para saques massivos, coordenados, de vários bancos, todos no dia 7/12 próximo. Até agora, mais de 14 mil pessoas já se comprometeram a sacar. O movimento agora começa a ser divulgado na Grã-Bretanha.

O trio de usuários do Facebook que agora organizam a campanha em toda a Europa, já convocaram o saque geral. "Nós controlamos os bancos, não o contrário", escreveram.

O documento-manifesto do movimento, pode ser lido na página Bankrun2010.com , onde se lê:

"Nosso movimento pode ser mais bem-sucedido do que podemos imaginar. É movimento popular (...) e não atacamos nada e ninguém em particular, além do sistema criminoso, corrupto, moribundo ao qual decidimos resistir pelos meios que temos, dentro da lei."

O documento é assinado por Géraldine Feuillien, 41, cineasta belga, e Yann Sarfati, 24, francês, ator e diretor de cinema.

Sarfati e Feuillien disseram que só pensaram em divulgar o clip de Cantona, mas, de repente, viram-se no meio de um moviemtno global de cidadãos". (...) "Não somos anarquistas nem ligados a partido político ou sindicado. Apenas entendemos que é outro modo de protestar."

Sarfati acrescentou: "Entre duas gravações de anúncios para a L'Oréal, Cantona achou jeito de deixar falar seu lado revolucionário. O sujeito vive bem, mas evidentemente tem consciência social. Pareceu-me sincero."

Guardian

7 de novembro de 2010

Moradores da Favela do Metrô protestam contra demolição de casas p/ Copa de 2014

Segundo eles, as demolições não têm base legal e a Prefeitura não se dispôs a dialogar sobre as opções de remoção


Jéssica Barreiros


“As pessoas não querem ser tratadas como lixo urbano”, enunciou o orador de uma manifestação ocorrida na manhã de hoje em frente à estação ferroviária da Mangueira. Os moradores da Favela do Metrô protestaram contra a demolição de casas da comunidade iniciada há dois dias atrás. Segundo os moradores, não ocorreu um diálogo efetivo com a Prefeitura para procurar alternativas de remoção que suprissem as necessidades das mais de 670 famílias prejudicadas.

A demolição das casas foi anunciada no dia 22 de julho e faz parte do programa de preparação da região do Maracanã para a Copa do Mundo de 2014. Segundo Julio César Condaque, membro do Movimento Nacional Quilombo, Raça e Classe, o ato de interdição feito pela Prefeitura através da Defesa Civil não tem bases legais, já que não foram feitas as devidas justificativas para a remoção. “Estamos encaminhando ações contra esta forma ilegal da Prefeitura de agir. Mas o governo ainda não criou uma ação de remoção e isso nos impede de criar uma espécie de contra-ação”, contou.

Como alternativa de habitação, foram oferecidas aos moradores residências no bairro de Cosmos, porém, apenas 20 famílias aceitaram a proposta. Segundo eles, o local carece de infra-estrutura básica, como postos de saúde e escolas, e o morador ainda terá que pagar a casa por mais de 10 anos e arcar com despesas extras como a conta de condomínio. Além disso, a mudança resultará na perda de emprego de mais de 3000 trabalhadores. “Um morador foi para lá e voltou no mesmo dia, porque não tinha água nem luz”, contou um integrante da manifestação que não quis ser identificado. Apesar das más condições das novas residências, alguns foram persuadidos pela proposta da Prefeitura. “Todo mundo ficou com medo. Eles falaram que iriam demolir tudo, então alguns foram obrigados a aceitar. Algumas pessoas choravam enquanto eram removidas” conta a moradora Evelyn Jesus Santos.

Uma opção viável de realojamento seria o complexo residencial do programa Minha Casa, Minha vida, que está sendo construído perto da Mangueira. Entretanto, segundo os moradores, a Favela do Metrô não pode ser contemplada pelo projeto pois a secretaria de habitação declarou que se trata de uma comunidade informal, então a remoção para Cosmos seria a única alternativa viável. “O subprefeito não quis negociar um plano de urbanização, que incluiria a doação das casas que estão feitas para o Minha Casa, Minha vida. Estamos sendo tratados como cidadão de segunda categoria”, protestou Júlio Cesar.

A derrubada de casas foi considerada pelos moradores como um gesto brutal contra a comunidade. “A própria remoção já é algo violento, pela definição da ONU, porque ela precede um abandono e um levantamento do patrimônio material -a mobília- e imaterial, que é a memória que as pessoas do local, já que alguns moram aqui há 30, 40 anos”, explicou Júlio Cesar. Além disso, moradores denunciaram que as operações de remoção foram auxiliadas pelo Setor de Operações Especiais do distrito de Irajá, o que descreveram como “terror psicológico. Muita gente não foi trabalhar ontem com medo que derrubem as casas”.

Vinte residências já foram demolidas desde quarta-feira, o que causou transtornos a muitos moradores. Marlene Guimarães, que presenciou as demolições, conta que “quando começaram a demolir foi a maior confusão. Houve batidas, estrondos e poeira para todos os lados. As crianças choraram, o ambiente era de terror. O que aconteceu poderia até mesmo ter sido prejudicial para as mulheres grávidas”.

Segundo a Secretaria de Habitação, o processo de derrubada e remoção está a cargo da Subprefeitura da Zona Norte, que não teve nenhum representante encontrado para comentar o caso até o fechamento de nosso expediente.


4 de novembro de 2010

Torcidas Organizadas fundam Confederação Nacional

Tatiana Melim – CUT/SP

No dia 13 de outubro foi fundada a CONATORG – Confederação Nacional das Torcidas Organizadas – com o objetivo de unir algumas bandeiras de lutas de todas as torcidas em âmbito nacional. Fundada no auditório da CUT-DF, a Confederação firmou o apoio da Central Única dos Trabalhadores como forma de fortalecer a luta e buscar organização para as pautas em comum das torcidas organizadas.

De acordo com Vagner Freitas, secretário de finanças da CUT, a participação da Central no apoio às torcidas se dá pelo fato da CUT acreditar na importância da luta contra a criminalização dos movimentos sociais. “A torcida organizada, assim como o MST e a própria CUT, sofre um processo constante de criminalização, pois, entre outras coisas, consegue organizar a massa de torcedores para lutar pelos seus direitos”.

A relação entre a CONATORG e a CUT poderá contribuir com as futuras experiências que enfrentará a CONATORG, seja no seu processo organizativo/estrutural, seja nas bandeiras a serem defendidas em favor das torcidas organizadas em todo o país.

A criminalização que vem sofrendo as torcidas organizadas pela grande mídia conservadora e que agora se materializa nos artigos 39-A e 39-B do Estatuto do Torcedor faz com que as torcidas precisem se organizar para barrar o processo de exclusão do torcedor organizado do futebol. Eduardo Fontes, presidente dos Gaviões da Fiel e da CONATORG, explicou que a aprovação do Estatuto do Torcedor sem a alteração dos artigos 39-A e 39-B, que pune civilmente a torcida organizada pelos danos causados por algum membro, é uma tentativa de desorganizar e sufocar as lutas e reivindicações dos torcedores que optaram lutar pelo futebol e seu clube dentro de uma torcida organizada.

A importância social e cultural que cumpre as torcidas organizadas na sociedade é ignorada sistematicamente pela imprensa, o que compromete, entre outras coisas, na própria organização da torcida ao tentar articular iniciativas em benefício do torcedor e do futebol. São lutas tais como a alteração dos horários de jogos, que atendem a interesses comercias; a não extinção dos setores populares dos estádios; melhores condições de tratamento ao torcedor; a busca por uma maior transparência nas transações e negócios dos clubes; entre outras pautas que passam despercebidos, fundamentalmente, pela imprensa.

“Torcidas organizadas e movimentos sociais são parte do mesmo projeto maior de transformação social e que, portanto, precisam caminhar juntos. Por isso, a CUT Nacional se solidariza com a Confederação Nacional das Torcidas Organizadas”, finaliza Vagner Freitas, ao firmar o apoio e o compromisso da CUT na luta das organizadas.

Veja abaixo o relatório da CONATORG a respeito da assembleia de fundação da Confederação:/sistema/ck/files/CONFEDERACAO NACIONAL DAS TORCIDAS ORGANIZADAS.pdf