31 de dezembro de 2008

30 de dezembro de 2008

Resultado da última enquete:

Qual o principal problema atualmente existente no futebol?

Racismo: 12%
Corrupção: 10%
Violência: 14%

Mercantilização: 63%

29 de dezembro de 2008

Entrevista: José Paulo Florenzano (parte 1)

Cientista social com atuação na área de Antropologia do Esporte conta sobre a Democracia Corintiana e os reflexos desse movimento no futebol atual

Bruno Camarão e Marcelo Iglesias




Um dos períodos mais marcantes da história do futebol brasileiro,principalmente naquilo que se refere à gestão de uma equipe, foi a Democracia Corinthiana. O movimento surgido na década de 1980, sob a liderança de atletas como Sócrates, Wladimir, Casagrande e Zenon, constituiu o marco de caráter ideológico mais relevante do futebol nacional.
Durante esse período da história da agremiação do Parque São Jorge, todas as decisões importantes, tais como a contratação de atletas, as regras da concentração, entre outras, eram decididas pelo voto dos membros do time – um autêntico processo de auto-gestão do clube.
Um dos maiores pesquisadores sobre esse intervalo de tempo é João Paulo Florenzano, que falou com exclusividade para a Cidade do Futebol. Graduado, mestrado e doutorado em Ciências Sociais pela PUC-SP, Florenzano tem experiência na área de Antropologia do Esporte.
O futebol é um fato social total, isto é, ele contempla os múltiplos aspectos da vida social, revelando essa realidade com todas as suas linhas de força e contradições. Ou seja, o futebol é reconhecido como um objeto de estudo”, comentou o professor.
Além de tratar do tema da Democracia Corinthiana, ele abordou nesse bate-papo, que será dividido em duas partes – uma indo ao ar nesta sexta, e a segunda na próxima semana, no dia 2 de janeiro – aspectos de rebeldia na modalidade e o jogador-problema (que resultou em uma obra sua referente aos jogadores Afonsinho e Edmundo), as relações de poder, o futebol-força e o corpo-máquina, a figura “sem cor” de Pelé e a criação do Museu no estádio do Pacaembu.
Cidade do Futebol – Uma das características marcantes do futebol é a maneira como ele consegue assumir bem a interdisciplinaridade. Na década de 1980, tem-se um movimento que marca a história da modalidade, a Democracia Corinthiana. O que ela tem de tão relevante para ser lembrada até hoje como um dos maiores movimentos sociais organizados da história do futebol e do Brasil como um todo?
José Paulo Florenzano –A importância dela reside no fato de romper com a hegemonia do modelo do futebol-força, propondo para a modalidade o reequilíbrio entre os exercícios do corpo e os exercícios da mente. A Democracia Corinthiana reintroduz no espaço do futebol as aulas de filosofia, pois se pensarmos o que era o ginasium na antigüidade clássica, vemos que era o local onde os gregos exercitavam o corpo, buscando esculpir o ideal do belo, mas era também onde, por vezes, os filósofos realizavam as suas palestras e diálogos
Portanto, a importância da Democracia Corinthiana está exatamente na busca desse ponto de equilíbrio entre um modelo que se volta a favor do desenvolvimento da força física e um outro que prevê o espaço da reflexão, do questionamento, capaz de religar aquilo que a modernização separou: corpo e alma, atleta e cidadão, o governo de si próprio e o auto-governo coletivo da equipe.
Esse movimento resgata uma tradição de autonomia que percorre a história do futebol brasileiro. Para não precisar citar exemplos tão distantes, na década de 1960, se pensarmos no Santos de Pelé, no Palmeiras de Ademir da Guia, no Cruzeiro do Tostão e no Botafogo do Garrincha, lembraremos dos heróis, das figuras míticas, mas dificilmente nos recordaremos do técnico.
Isso não acontece por acaso, pois a questão é: quem governava essas equipes? Por isso, sem irmos para o extremo oposto e dizermos que, naquele momento, o técnico não possuía nenhum papel, no mínimo, tem-se um equilíbrio em relação a quem comandava uma equipe de futebol.
Então, a Democracia Corinthiana, no início dos anos 1980, irá resgatar a tradição de autonomia e levá-la às últimas conseqüências com a proposta da auto-gestão, que é o ponto culminante desse processo.
Quando o movimento se radicaliza, Mário Travaglini, percebendo esse momento, deixa o Corinthians, e, ao invés do clube buscar outro técnico para substituí-lo, elege-se um representante para a função. É um curto momento, basicamente o mês de abril de 1983. Segundo a manchete do Diário Popular: “Corinthians abole o técnico”. A partir daí, pode-se avaliar o significado dessa experiência.
Cidade do Futebol – Em algum momento da trajetória da Democracia Corinthiana ela demonstrou ser contraditória do ponto de vista do comprometimento dos membros daquele cenário que rodeava a agremiação?
José Paulo Florenzano –Como todo e qualquer movimento social, político e cultural, a Democracia Corinthiana também teve uma série de contradições. A principal delas era o fato de tentar conciliar dois projetos antagônicos: um modelo de futebol empresa, isto é, a Democracia Corinthiana tentava legitimar-se diante dos demais atores do futebol e da imprensa esportiva como uma proposta de modernização do futebol, com inscrição publicitária na camisa e uma série de ações voltadas para esse modelo. Ao mesmo tempo, inclusive porque ela estava inserida no contexto da redemocratização da sociedade brasileira e, nesse sentido, partilhava com uma multiplicidade de sujeitos coletivos, o ideal da autonomia também desenvolve o exercício da democracia direta.
Esses dois aspectos se desenvolvem e vão entrar em choque, porque me parece inconciliável imaginar o modelo da democracia direta no âmbito de um modelo empresarial. O que expressa esse conflito é a contratação do Leão, porque isso vai rachar o grupo. Essa cisão acontece não por conta da personalidade conservadora do goleiro, como as lideranças atribuem, mas à maneira como ele foi contratado.
Esse processo rompe com o pacto estabelecido pelo grupo de que tudo deveria passar pelo crivo, pela discussão e pelo consenso de todos. Quem decide a contratação do Leão são alguns dirigentes e os líderes do grupo, e, em decorrência daquilo que havia sido pactuado, tem-se uma divisão interna no elenco do Corinthians.
A questão é: por que se procedeu dessa maneira na contratação do Leão? É exatamente nesse momento que fica claro o conflito do modelo empresarial e o exercício da democracia direta.
O Corinthians tinha como estratégia globalizar a marca, e buscava, além do Sócrates, outro atleta que tivesse apelo internacional para tornar o clube um candidato interessante para uma excursão no exterior. Por isso, havia urgência em concretizar a contratação do Leão, e o ritmo dos negócios não é o mesmo que aquele que requer o andamento da democracia. Por isso, o Adilson Monteiro Alves (dirigente do Corinthians), juntamente com o técnico, com o preparador físico e com alguns líderes decide pela contratação do goleiro.
Ou seja, esse acordo tem uma razão empresarial, mais do que um motivo técnico que justificasse que o Solito não seria o goleiro ideal para o Corinthians. Afinal, ele havia acabado de ser campeão paulista, em 1982, e o Leão chega no início de 1983.
Cidade do Futebol – Esse pensamento que foi levando em conta no caso do Leão para além das quatro linhas, como um atleta vendável, surge com esse jogador ou existem outros exemplos anteriores? Como se dá esse processo hoje quando, por vezes, inverte-se o valor de campo e o jogador como produto é o que mais importa?
José Paulo Florenzano –Existem outros exemplos, porque o papel do ídolo no futebol, enquanto esse ele pode favorecer o clube e os produtos que se associam ao mesmo é algo muito mais antigo do que se está habituado a reconhecer. Poderíamos mencionar casos desse tipo desde o Friedenreich que fez anúncios publicitários, assim como Leônidas da Silva, o qual foi contratado pelo São Paulo em uma estratégia de popularização do clube. Enfim, esse tipo de estratégia é muito mais freqüente do que parece.
A Democracia Corintiana deparava-se com um contexto econômico de crise brutal, que combinava recessão com inflação. Os clubes precisavam sobreviver. Fica fácil apontar contradições observando-se o processo à distância. Se o Corinthians queria preservar o Sócrates no seu elenco, com o futebol europeu fazendo propostas pelo jogador, o clube tinha que buscar mecanismos para mantê-lo no Brasil. Por isso, a contratação do Leão se insere nesse quadro da necessidade do clube enfrentar o assédio do futebol europeu sobre os seus atletas.
É nesse momento que o futebol italiano começa a se abrir novamente para os estrangeiros. Combinado com isso havia a crise econômica, o que tornava cada vez mais difícil manter-se um elenco com grandes nomes. Portanto, a contratação do Leão também se insere nesse sentido empresarial de fazer caixa para manter os principais jogadores no Corinthians. Logo, a estratégia de globalização da marca e a necessidade de manter um ídolo, o Sócrates, culminaram na chegada do Leão.
Cidade do Futebol – O técnico da Suécia, Lars Lagerbäck, comentou durante a edição deste ano do Footecom que comemora a saída de atletas do seu país, pois não é lá que eles conseguirão evoluir como jogadores. Dentro desse aspecto da transferência de atletas, o Brasil é, atualmente, um dos principais exportadores de jogadores para o futebol de todas as outras partes do planeta. Como ocorre o processo que coloca o país como um dos maiores criadores de talentos do cenário futebolístico mundial?
José Paulo Florenzano –Hoje em dia, existe, no grande palco do futebol que é a Europa, um intercâmbio cada vez maior de jogadores entre os clubes do próprio continente. Além disso, tem-se, mais do que aqueles que são considerados os grandes celeiros (Brasil, Argentina e Uruguai), um olhar voltado para a África, a qual também é um grande exportador de atletas para a Europa.
Voltando à questão empresarial, existem muitos orientais jogando nas grandes ligas da Europa, não só por se tratar de um bom jogador, mas porque é importante tê-los no elenco, visando-se os mercados da China, Coréia e Japão. Daí, podemos pensar no que decide a escalação de um atleta. Seria apenas o critério técnico e a boa forma física ou, ao mesmo tempo, o potencial que ele tem de despertar o interesse de um determinado mercado ou de abri-lo para a marca, para instituição européia?
Historicamente, tem-se Brasil e Argentina, que são economias sem poder para manterem os seus principais atletas e vão constituir-se em formadores dos artistas para o palco principal que está na Europa.
Cidade do Futebol – Qual é o passo que se está dando quando clubes abrem-se para empresas e financiadores de atletas como os casos da Traffic e do Grupo Sondas, do ponto de vista da interferência que esses grupos podem ter na vida das equipes? Isso auxilia na venda do clube internacionalmente como uma marca forte?
José Paulo Florenzano –Na realidade, nós estamos prisioneiros a um modelo global de futebol, e temos que perceber qual é o papel do Brasil nesse cenário. Parece que aqueles que detêm o poder de decisão no futebol brasileiro se saem muito bem na participação que o país tem nesse modelo que é a de fornecer atletas. Por isso, talvez, não haja tanto interesse em reposicionar o Brasil nesse quadro.
Uma segunda questão é que se há a perda da independência econômica, perde-se parte do poder de decisão dentro da instituição. Logo, se um clube fica dependente de empresários, da televisão e de empresas, provavelmente, a agremiação não terá mais soberania na composição da equipe. Isso reflete-se, na realidade, na perda crescente de autonomia das instituições.
A quantidade enorme de dinheiro que circula dentro dos clubes e empresas gera a conseqüência que eu vejo como a mais grave que é o empobrecimento de significados dentro do futebol. Todos nós reproduzimos essa significação econômica e mercantil da modalidade.
Então, vem ao caso, pensar-se o seguinte: o que faz a força de um clube? O São Paulo é a ilustração mais bem sucedida de que uma agremiação se torna de massa, à medida que ela conquista títulos e detém a hegemonia no plano esportivo. Por outro lado, o Corinthians passou mais de 20 anos sem vencer um campeonato paulista e tornou-se um fenômeno sociológico. A torcida corintiana daquele tempo se consolida como uma torcida de massa. O Corinthians também conquista dois campeonatos estaduais com a Democracia Corintiana e se torna um objeto de estudo da academia.
Esses exemplos mostram que a força cultural de um clube não é tão dependente quanto parece do fato dele obter títulos. Existem outros vínculos do clube, da metrópole e da identidade que ele proporciona a determinados segmentos nessa metrópole e até em escala global.
Cidade do Futebol – Algo que se tornou raro no futebol mundial é o atleta que se identifica com o clube e vice-versa, o chamado “jogador símbolo” de uma equipe, como é o caso dos goleiros Rogério Ceni e Marcos com o São Paulo e o Palmeiras, respectivamente. Como você enxerga essa carência de profissionais com laços fortes com as agremiações, fato que se via com maior freqüência em outros tempos com o Santos de Pelé, o Palmeiras de Ademir da Guia, o Botafogo de Garrincha, o Corinthians de Rivelino, entre outros?
José Paulo Florenzano –Eu penso que existe muita idealização desse pensamento do amor à camisa. Muitos atletas que tiveram amor à camisa acabaram na miséria. Por outro lado, existe uma perda de identidade, de se mencionar o nome de um jogador e, rapidamente, lembrar-se do clube em que ele atua.
No entanto, é bom que exista esse transito intenso. Eu não vejo essa movimentação como algo negativo, até mesmo em casos de atletas que foram ídolos em uma agremiação e têm a coragem de recomeçarem a carreira no clube rival. Isso, no mínimo, suscita uma problematização sobre a identidade desses clubes.
Por isso, podemos olhar essa questão de um ângulo diferente daquele que é comumente abordado. Eu não entendo esse fato como algo ruim para o debate do futebol. Um atleta identificado com um clube durante muitos anos vai jogar no elenco rival. O que isso representa? O que acarreta de mudanças nas duas agremiações?
Um exemplo que, na verdade, não é tão radical quanto um jogador passar de um clube para o rival, mas que mostra como é bom o trânsito dentro do futebol é o do Sócrates. Ele entra no Corinthians em 1978 como, talvez, o mais anti-corintiano dos atletas, porque o estereótipo do jogador corintiano é aquele que joga com raça, que se doa ao máximo. Mas, o estilo de jogo do Sócrates não era esse, ele era um artista, um artesão. Então, a contratação de um atleta que, talvez, se sentisse mais à vontade na academia do Palmeiras, com um time de mais toque de bola, que possuía o ritmo do Ademir da Guia, e não a correria do Wladimir e do Corinthians, coloca em questão a mitologia corintiana de jogar com raça. O Sócrates vai colocar em crise esse ideal, e ambos se transformam.
É extraordinário perceber-se como a entrada do Sócrates obriga a torcida do Corinthians a se readaptar a um ritmo de jogo que ele vai estabelecer, e, inversamente, como ele também tem que fazer concessões. O Sócrates também vai dar carrinho, também vai fazer gols e se emocionar, rompendo um pouco com a frieza que ele construía em torno de si.
Portanto, eu não vejo essa movimentação como um problema. É claro que se tem, mais no Brasil do que na Europa, a perda total de vínculo se o jogador fica dois ou três meses em uma agremiação e, de repente, já está em outra, e as pessoas mal conseguem montar a escalação do seu time.
Se visto desse prisma, isso é um problema. Porém, eu acredito que não devemos cair no saudosismo de achar que era um mar de rosas, o atleta que, por muitas vezes, passava uma vida inteira em um clube e não saía, em certos casos, não por amor à camisa, mas porque, na época, havia a Lei do Passe e ele não tinha força política suficiente para romper com o clube.
Cidade do Futebol – Levando-se em conta o seu comentário de que o Sócrates teve que se adaptar ao estilo de jogo do Corinthians e a torcida corintiana à forma de jogar desse atleta, ainda é possível fazer uma relação entre os perfis do clube e das suas respectivas torcidas? O São Paulo é atualmente o verdadeiro time do povo?
José Paulo Florenzano –A identidade de um clube também sofre mudanças ao longo do tempo. Por exemplo, o Palestra Itália foi fundado para representar os diversos grupos italianos em São Paulo. Era ele que conferia essa identidade italiana a essas comunidades. Em um determinado momento, ele é obrigado a mudar de nome e se transforma em Palmeiras e, a partir daí, abre-se para outros grupos dentro da sociedade.
O Corinthians, ao contrário do que diz o mito fundador, é um clube que, como todos os demais, teve uma postura restritiva, chegando a barrar os jogadores negros, em um momento em que havia um grande preconceito em relação a esse grupo. Aos poucos, o Corinthians vai se tornar um clube de massa e, ao longo desse percurso, ele passa a representar dentro de São Paulo dois grandes grupos. Os descendentes de escravos, tomando o lugar de várias outras agremiações que haviam sido fundadas para representá-los. Não é a toa que o Wladimir dizia que ele sentia a identificação dele com a torcida à flor da pele.
Outro grupo do qual o Corinthians vai se beneficiar é dos nordestinos. O clube é quase que um rito de integração do migrante que vem do nordeste do país na sociedade paulistana. Dessa maneira, o time de Parque São Jorge consegue se implantar como clube de massa.
Hoje, porém, o Corinthians vive um conflito, pois a categoria “povo” foi posta em crise pela globalização e pelo Liberalismo, o que gerou uma crise de identidade no clube.
Por outro lado, o São Paulo que, historicamente, é identificado como um clube da elite, por conta de uma estratégia que passa pela construção do Morumbi em 1970, pela criação de centros de treinamento, pela aposta na preparação física, na elaboração de uma comissão técnica permanente, e pela constituição de uma “máquina de guerra”, é o exemplo mais bem acabado de uma estratégia de um clube para se tornar uma equipe de massa.
Portanto, percebe-se que, ao longo do século XX, esses clubes mudaram de posição, incorporando novos grupos nas suas respectivas identidades.
Cidade do Futebol – Por exemplo, a contratação do Bobô, que havia se destacado pelo Bahia, e foi jogar no São Paulo, ou a ida do Enéas para o Palmeiras, são contratações que não são feitas de maneira desinteressada. Existe uma intenção específica nesse tipo de aposta, tanto na construção da identidade do clube como na atração de certos tipos de torcedores? Pode-se apontar, hoje, o São Paulo como o verdadeiro “time do povo”?
José Paulo Florenzano –No caso do São Paulo, esse tipo de contratação passa pelas contratações de Leônidas da Silva, e depois pela do Didi, que teve uma curta passagem pelo clube, nos anos 1950. Outro caso, como foi citado, foi o do Bobô. Porém, não sei até que ponto essas contratações podem ser incluídas na conta de uma estratégia de popularização do clube, mas certamente, esse fator também é um efeito que deve ser levado em consideração.
Um fato real referente a esse aspecto é que o Corinthians está lapidando o seu capital simbólico, a sua identidade de clube do povo. Hoje, ele vê a sombra do São Paulo, que conseguiu uma forte penetração nas camadas populares, além da enorme dificuldade que há no elenco corintiano de se reafirmar como um time de raça. Mesmo porque a categoria “povo” se dissolveu.
Mais ainda, talvez como um paradoxo, à medida que o Corinthians se aproxima dessas parcerias milionárias, e suspeitas em alguns casos, ele tem uma perda dessa imagem do clube onde o atleta tem que se doar ao máximo, que é a torcida que tem um time e não um time que tem uma torcida. Todo esse sistema de significados sofre um pouco com esses modelos de acordos.
Cidade do Futebol – Trazer o futebol para dentro da academia ainda é algo difícil no Brasil para abordá-lo nos seus meandros mais sociológicos e históricos?
José Paulo Florenzano –Já houve uma mudança muito significativa. Ficou para trás a idéia do futebol como o “ópio do povo”, discurso que associava a modalidade a um mecanismo de alienação e um certo preconceito que impedia a academia de reconhecer o futebol como um objeto de estudo e um acesso privilegiado para a compreensão da realidade brasileira.
Atualmente, têm-se, em várias universidades, núcleos de estudo e pesquisa com uma massa significativa de trabalhos, dissertações, teses sobre esse tema abordado-o de diferentes ângulos (da psicologia, da sociologia, da história, da antropologia, da economia, etc).
O futebol é um fato social total, isto é, ele contempla os múltiplos aspectos da vida social, revelando essa realidade com todas as suas linhas de força e contradições. Ou seja, o futebol é reconhecido como um objeto de estudo. Quanto a isso, eu não tenho a menor dúvida.
Cidade do Futebol – Recentemente, foi inaugurado o Museu do Futebol. Nele, há algumas referências à figura de Charles Müller, ratificando-o como principal introdutor da modalidade no país. No entanto, existem algumas divergências quanto a essa questão. Como você avalia esses fatos conflitantes e a própria iniciativa da criação desse museu?
José Paulo Florenzano –O Museu do Futebol é uma idéia extraordinária e, aos poucos, ele irá se aprimorando, com a contribuição de jornalistas e historiadores, e com a participação dos seus assessores.
No caso do Charles Müller, alguns historiadores brasileiros já colocaram em cheque a leitura de que ele é o introdutor do futebol no Brasil e o grande responsável pela difusão da modalidade no país. Na realidade, ele foi a pessoa que difundiu o futebol dentro dos grupos aristocráticos.
Mas como diz José Geraldo Couto, “o futebol no Brasil já nasce com a marca da diversidade”. Ou seja, ele se propaga com extrema facilidade e rapidez em outros campos como a várzea e as fábricas.
Cidade do Futebol – A maneira de falar na terceira pessoa e o distanciamento em relação à luta racial direta foram fatores que contribuíram para que o Pelé se destacasse no futebol em nível mundial?
José Paulo Florenzano – É muito difícil manter-se na trajetória que o Pelé conseguiu ficar, com todo o sucesso por ele obtido. Esse autocontrole ao longo de toda a sua carreira, é um ponto que merece ser destacado. Logo, esse aspecto dele falar sobre ele mesmo afastando-se da figura Pelé é o mínimo que podemos citar nesse sentido.
Sem isso, dificilmente ele teria se comportado corretamente diante da projeção que o nome dele teve no mundo, de toda a idolatria que há em torno da sua figura, de como ele foi utilizado pelo regime militar, entre outros fatores.
Em relação à questão racial, ele foi bastante cobrado por não ter tomado uma postura mais explícita de condenação ao racismo dentro da sociedade brasileira. Por isso, ele passa como alguém que reproduziu o discurso da democracia racial supostamente existente no Brasil.
No entanto, o que ele significou para os negros dentro do Brasil e na América? Nesse sentido, se percebe que o Pelé desempenhou um papel muito grande na reelaboração da identidade negra. Isso passa pela admiração que o Bob Marley tinha em relação a esse atleta brasileiro, pela maneira como ele incandescia o imaginário dos países africanos e de outros lugares.
Portanto, bem feitas as contas, o Pelé teve uma participação significativa em um processo mais amplo de tomada de consciência da questão racial no Brasil, embora, explicitamente, ele não tenha elaborado um discurso contundente a respeito disso.

24 de dezembro de 2008

Merry Christmas from Athens...

Crise mundial pode tirar maior patrocinador da Premier League


Como era esperado, a crise financeira mundial deve afetar o futebol, entre outros aspectos por conta da redução dos patrocínios. Prova disso, é que o Banco Barclays, principal investidor da Premier League, o campeonato inglês, já anunciou que fará uma revisão nas suas injeções de dinheiro em esportes.

Por conta disso, apesar de ser um dos torneios mais rentáveis do planeta, a liga de futebol inglesa deve ter que procurar um novo patrocinador de peso, já que as empresas estão receosas em aumentarem seus investimentos em fatores considerados supérfluos como os patrocínios.

O terceiro maior banco britânico detém os direitos da liga desde 2001, mas o atual contrato de 65 milhões de libras (cerca de 101 milhões de dólares) acaba no final da temporada 2009/2010.

Membro do departamento comercial e de marketing do banco, Libby Chambers afirmou que a parceria foi importante para dar visibilidade internacional ao banco, mas isso não significa que o futebol ficará de fora da revisão. "Haverá uma revisão de nossos patrocínios a fim de avaliar se estamos tendo forte retorno dos investimentos internacionais", afirmou.

O Barclays também patrocina os torneios de golfe Scottish Open e Singapore Open, o torneio de tênis Dubai Championships e a Churchill Cup de rúgbi. Além disso, em junho deste ano, o banco assinou o contrato para patrocinar o final da temporada da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP), oferecendo US$ 7 milhões (cerca de R$ 16,45 milhões) anuais.

Fonte: Cidade do Futebol

Fifa retira punições de Peru, Samoa e Kuwait

No último sábado (20), a Fifa, maior entidade do futebol mundial, suspendeu a punição que havia dado à Federação Peruana de Futebol em novembro deste ano. A pena impdia que o país e os seus clubes participassem de qualquer competição internacional.

A decisão acaba com as pretensões do Fluminense, vice-campeão da Copa Libertadores deste ano, e do Internacional, campeão da Copa Sul-Americana, de ocupar as vagas daquele país na Copa Santader Libertadores de 2009.


As vagas dos times peruanos estavam em aberto na tabela da competição continental, divulgada nesta semana. Agora, o Universitario, o Universidad San Martín e o Sporting Cristal estão liberados para participarem competição sul-americana.


"Foi possível aproximar no Peru as pessoas e os políticos. Nós esperamos que continue a funcionar", afirmou o presidente da Fifa, Joseph Blatter. A Fifa havia punido o futebol peruano após a intervenção do governo federal sobre a FPF. O presidente da Federação, Manuel Burga, reeleito em 2007, não era reconhecido pelo governo. Além disso, o IPD havia pedido uma mudança na diretoria da entidade, alegando que a FPF não aceitava as leis do país.


Depois que o Peru perdeu o direito de sediar o Campeonato Sul-Americano sub-20, em 2009, para a Venezuela, devido à punição, as entidades peruanas entraram em acordo no dia 13 de dezembro. O resultado das negociações foram enviados à Suíça, sede da Fifa.


A Fifa também retirou as suspensões que havia imposto Samoa (por má administração) e Kuwait (pot interferência política). "Nós retiramos a suspensão ao Kuwait temporariamente", afirmou Blatter. "Se as leis no Kuwait não forem mudadas para dar autonomia às organizações de esportes, então isso irá ao congresso. Se o congresso decidir suspender o Kuwait, a decisão durará por pelo menos um ano", concluiu.


Fonte: Cidade do Futebol

18 de dezembro de 2008

Gravado hino em homenagem à Resistência Coral

No final do mês de novembro, o músico Virgílio César Aires (foto à direita) esteve em estúdio para gravação de um hino de sua autoria em homenagem à torcida organizada do Ferroviário Ultras Resistência Coral.

Á convite do músico, membros da Resistência Coral estiveram presentes no estúdio para uma participação especial na gravação, deixando a marca da torcida na canção com um incisivo grito de guerra.

Na ocasião, foi gravado também um jingle feito por Virgiío César para a Rádio Ferrão.

Não é a primeira vez que o funcionário público Virgílio César grava músicas relacionadas ao Ferroviário. Virgílio compôs as canções Ferrão Setentão e Levada do Ferrão, lançadas em CD em meados de 2008 pela AAFAC (Associação dos Amigos do Ferroviário), numa compilação que além de destacar os novos trabalhos, resgata ainda as tradicionais e antigas músicas corais.

Virgílio César entrou para o seleto grupo dos compositores corais, formado por nomes como Zezé do Vale, J. Augusto, Zé Limeira, Olavo Barros, entre outros.

Confira a letra do Hino à Ultras Resistência Coral:

ULTRAS RESISTÊNCIA CORAL
Nasceu da luta social
Pra combater qualquer discriminação
No nosso futebol e em qualquer canto da nação

Não somos meros torcedores do FERRÃO
Somos trabalhadores que engrandecem um país
Não admitindo qualquer forma de exclusão
Igual a que sofre o povão e o
FERRÃO

História bonita do nosso FERROVIÁRIO
Que surgiu da mão do operário
Tal qual a
RESISTÊNCIA CORAL
Na luta de classes somos revolucionários

A ULTRAS RESISTÊNCIA CORAL
É hoje opção de nossas vidas
Nem paz entre as classes
Nem guerra entre as torcidas

A ULTRAS RESISTÊNCIA CORAL
De esquerda, anti-racista, anti-capitalista

Nada diminui nossa paixão incendiária

FERROVIÁRIO, orgulho da classe operária!

Para baixar a música, clique aqui.
(Link alternativo: http://www.badongo.com/audio/12551523)


Ficha técnica:

Compositores: Virgílio César Aires e Leonardo Carneiro
Voz: Virgílio César e participação especial de membros da Resistência Coral
Instrumentação musical: Alano
Gravação e mixagem:
Arão Stúdio - Produção sonora
(85) 8898.0154 / 30817914
email: araostudio@hotmail.com



A Ultras Resistência Coral agradece ao compositor Virgílio César pela belíssima homenagem!


Resistência Coral presente em ato contra o assassinato do torcedor são-paulino

Do ato

Por KADJ OMAN

Treze.

O número de pessoas que compareceu ao ato de domingo contra a morte do torcedor são-paulino pela polícia em Brasília.

Menos do que os que estavam na fila para o Museu do Futebol, no último dia da exposição sobre as "marcas do Rei".

Menos do que o número de blogs que retransmitiram o chamado pra ação, que até notícia na "Folha Online" virou.

Menos até do que o próprio número de jogadores do Autônomos FC que compareceu ao habitual jogo do time aos sábados.

Desanimador, um fracasso, prova de que o futebol não tem a ver com política, diriam alguns.

Não para nós.

Poucos, mas loucos.

Que armaram a quadra, esperando a polícia aparecer para o jogo.

Que distribuíram panfletos sobre o que se passava para os que apareceram pra conferir aquela agitação estranha.

Que decretaram o W.O. da polícia depois de esperar mais de uma hora.

E que disputaram uma partida ali mesmo, todos contra todos, sem muitas regras, como é o futebol de rua.

Três corinthianos, três andreenses, dois juventinos, um santista, um flamenguista, dois portugueses e um torcedor do Ferroviário-CE, membro da Resistência Coral.

Escalados como um time, um único time, autônomo e reivindicativo de uma liberdade cada vez mais tomada.

Pouca gente? Um retrato do Brasil? Fosse a Argentina estariam milhares de hinchas pelas ruas?

Talvez.

Mas, se não se pode superestimar o que foi na verdade uma confraternização de amigos, também não se pode tirar mérito desses 13 primeiros que saíram de suas casas em um domingo frio e com cara de chuva pra firmar presença em algo que julgam essencial para o futebol e a sociedade.

Porque não se pode tirar leite de pedra, também.

Esperar milhares com três dias de agitação apenas e após o término das atividades futebolísticas oficiais seria um deslumbre.

Desvalorizar os 13 que compareceram, um desdém.

O que podemos, e devemos, é tomar na medida certa este 14/12, como um ponto de partida para construir algo maior.

Porque já se disse que não começou em Seattle.

E não vai terminar em Atenas.

Política não tem nada a ver com o futebol?

Há controvérsias:

Torcida do Bayern München no jogo contra o Lyon pela UEFA Champions League em 10 de dezembro último.

Fonte: Blog do Juca Kfouri

13 de dezembro de 2008

A força que vem dos ventos


O torcedor coral que for a Vila Olimpica Elzir Cabral vai se deparar com uma grande novidade. Devido aos altos custos com energia elétrica, recentemente o presidente Paulo Wagner Pinheiro dotou o complexo coral de um sistema de geração de energia própria para bombear água para a irrigação do campo.

O cata-vento possui várias utilidades, seu nome está associado comumente ao aproveitamento da energia eólica em aplicações engenhosas, como a moenda (os moinhos de vento), o bombeamento de água, ou em conceitos mais modernos, para geração de energia elétrica, através dos aerogeradores.

Alguns estudiosos acreditam estar na Pérsia 915 a.C, hoje Irã, a origem do cata-vento. A energia obtida com os cata-ventos prestou muitas aplicações no passado, moer grãos e bombear água foram apenas algumas delas. Eles foram utilizados também para extração de óleo, transformação do papel, preparação de pigmentos e tinturas, dentre outras. Foram também a principal fonte de energia durante toda a Idade Média.

Apesar de parecer ultrapassado, é justamente a energia eólica que sinaliza ser a solução para geração de energia no futuro. Investir na geração de energia que vem dos ventos além de ser uma política ecologicamente correta, incorre em baixos custos comparados com obras como hidroelétricas. Vale ressaltar também que é uma fonte de energia inesgotável comparada com as energias geradas pelos combustíveis, gás natural e atômica.

Espero que a força dos ventos da Barra do Ceará gerem muito mais que simples energia, espero que traga consigo fluidos positivos para o Ferrão obter sucesso em 2009. E se for depender de vento, não tem pra ninguém, o título ficará na Barra do Ceará.

Por Vitor Monteiro


Fonte: Portal oficial do Ferroviário

Idéia inteligente e benéfica! O meio ambiente agradece!

12 de dezembro de 2008

Crise F. C.



Chargista: Lute

Ato contra a morte de Nilton César de Jesus

Domingo último, dia 07/12, deveria ter sido um dia de festa: um clube brasileiro pela primeira vez se tornava tricampeão nacional de forma consecutiva.

Mas o que deveria ser amplamente comemorado como o sucesso de uma nova fórmula de campeonato no Brasil acabou se transformando na repetição de algo que o país se "acostumou" a assistir desde há muito, algo que rememora os anos de chumbo da ditadura: o assassinato de um torcedor já rendido por um policial que, ao tentar abusar do poder pela sociedade nele investido com uma coronhada absolutamente desnecessária, atirou contra a cabeça da vítima.

O caso, como tantos outros, foi notícia por todos o país. Serviu, como sempre, pra chocar de uma forma paralisante. Quatro dias depois, Nilton César de Jesus, 26 anos, o torcedor baleado, faleceu no hospital no Distrito Federal, enquanto José Luiz Carvalho Barreto, o policial autor do disparo, recebeu o bônus do habeas corpus ao ser enquadrado por "lesão corporal grave".

Qualquer um que viu o vídeo do tiro pode perceber que a imprudência do policial claramente qualificaria seu ato como "homicídio culposo", ato sem a intenção de matar, mas que acabou matando. Mas a força política da corporação policial é grande, e o assassino está - e muito provavelmente continuará por longo tempo - solto.

O caso, infelizmente, não é único. No mesmo dia, outro torcedor foi morto a tiros na zona leste de São Paulo durante as comemorações do título. E tantos outros já morreram em tantos jogos pela história de nosso futebol.

A violência, entretanto, não é exclusiva do esporte, está em todo lado. Violência que começa quando a relação social mais comum entre duas pessoas é a de comando, de hierarquia, de força, algo que se transforma em risco de morte quando entram em ação armas de fogo.

No futebol, onde a aglomeração de pessoas por partida é enorme, tal violência se instaura com ainda mais facilidade quando se assiste uma elitização e uma militarização crescentes de tudo que envolve o jogo: torcida impedida de levar faixas, preços de alimentos e horários de jogos absurdos, polícia que humilha e trata o torcedor enquanto bandido. E que entra em campo e leva jogador preso, como se viu no Recife por mais de uma vez em 2008, e que atira em torcedor desarmado e já rendido, como Nilton. Isso sem falar que o comandante da arbitragem paulista é um coronel da polícia.

Na Itália, a morte do torcedor da Lazio Gabrielle Sandri, em episódio bastante parecido com este de Brasília, causou revolta nos torcedores de todas as equipes do calcio, inclusive da rival Roma. Jogos foram paralisados e adiados ante a ameaça de invasão do gramado por parte das torcidas, em ação de protesto pelo assassinato sem sentido. O caso levou tanto o poder público quanto a federação de futebol de lá a ao menos parar para repensar as relações de força.

Aqui, no país pentacampeão do mundo, já tivemos, enquanto torcedores, inúmeras possibilidades de agir da mesma forma, e as desperdiçamos. Pensando nisso é que o Autônomos FC, equipe amadora de futebol de várzea, convoca os torcedores de todas as equipes a comparecerem com suas respectivas camisas a um ato em repúdio à violência policial e à militarização do futebol, domingo, 14/12, com concentração saindo da frente do cemitério das Clínicas e partindo para a Praça Charles Miller, onde acontecerá uma partida de futebol espontânea e livre em protesto à tentativa de controle de nossos corpos e mentes nos estádios do país e em memória de Nilton e de todos os torcedores mortos de maneira estúpida pela corporação policial.

Futebol é um lugar de festa. E festa não combina com botas, fuzis e capacetes, nem com proibições arbitrárias como as que perpetram nos estádios paulistas. Vamos mostrar que para além de apaixonados por esta ou aquela equipe, os mesmos que sustentam todo o mercado do negócio futebol, somos torcedores, classe única, que não aceita a morte de um companheiro de boca fechada e braços cruzados.

Em nome de todos os torcedores que querem um futebol mais democrático,

Autônomos FC
http://autonomosfc.blogspot.com





Daqui de Fortaleza nos solidarizamos com Nilton e com todas as milhares de vítimas que sofrem cotidianamente a violência da repressão policial, seja ela nos estádios, nas periferias ou na luta de classes.

3 de dezembro de 2008

O silêncio do PV

Há dez meses sem receber jogos, o estádio Presidente Vargas permanece interdidato.

A situação é pouco esclarecida pelos órgãos públicos.

E 2009 promete ser mais um ano inativo para o PV.

Confira a matéria veiculada no Grande Jornal, da TV O POVO, desta quarta-feira.

Postado por Equipe do Blog - esportes@opovo.com.br



Fonte: Blog de Esportes do Jornal O POVO

O Ferroviário possui estádio próprio (a Vila Olímpica Elzir Cabral) e não sofrerá tanto com a ausência do PV. Mas de qualquer forma o estádio Presidente Vargas é um bem público, de usufruto dos demais clubes de futebel e da coletividade em geral, cujo a reforma será financiada pelo dinheiro dos impostos pagos pela população e, portanto, merece nossa preocupação. O valor a ser gasto é exorbitante! Devemos, portanto, ficar de olho se tal quantia monetária será realmente aplicada na reforma do histórico PV e se tal processo não estará a beneficiar empreiteiras que realizaram doações milhonárias à campanha da prefeita Luizianne Lins em 2008 (Ver matéria).

Jogador belga é punido por saudação nazista em campo

A Federação Holandesa de Futebol anunciou nesta quarta-feira que o meio-campista belga Daniel Guijo Velasco (foto) está suspenso por cinco partidas, por fazer uma saudação nazista a um adversário, durante jogo da segunda divisão do campeonato nacional.

Velasco, que defende o Helmond Sport, estendeu o braço em direção a um rival do RBC Roosendaal, em partida na sexta-feira. O gesto foi interpretado como uma alusão ao cumprimento usado pelos alemães no período do governo de Adolf Hitler.

Em entrevista após a partida, que terminou empatada por 1 a 1, o jogador afirmou que fez a saudação porque o adversário estava se comportando como um alemão em campo.

O Helmond Sport afirmou que não vai recorrer da punição de cinco partidas. Antes mesmo da pena imposta pela federação, o clube já havia suspendido o meia por uma partida.

Fonte: Agência Estado

Atleta da saudação "black power" diz que acredita em sucesso de Obama

O ex-velocista americano Tommie Smith (foto), bronze nos 200m rasos dos Jogos Olímpicos da Cidade do México, em 1968, disse que ficou satisfeito com a vitória de Barack Obama nas eleições dos Estados Unidos, e que acredita que o novo presidente saberá representar o povo.

Smith ficou conhecido pelo protesto que fez no pódio dos Jogos do México. Ao lado do também americano John Carlos, vencedor da prova, o velocista fez a saudação do "black power" ("poder negro") ao receber as medalhas.

Na manifestação, os atletas ergueram o punho com luvas pretas durante a execução do hino americano e abaixaram a cabeça em sinal de protesto ao racismo.

Smith, que está em Madri para receber um prêmio, afirmou a vitória de Obama foi importante pela sua capacidade de representar as pessoas e liderar o país.

"Foi uma vitória esperada e necessária, não pela cor de sua pele, mas por sua personalidade e capacidade de liderança. Obama representará o povo e acho que será capaz de mudar as coisas", disse.

Outro que recebeu elogios do ex-atleta foi o jamaicano Usain Bolt, vencedor e recordista mundial dos 100m e 200m nos Jogos Olímpicos de Pequim.

"Bolt já tem os recordes dos 100m e 200m. Ele foi enviado por Deus ao atletismo, mas tem que trabalhar para ser o melhor", disse.

Em relação a seu famoso gesto em 1968, Smith disse que a idéia tinha o objetivo de chamar a atenção "não só para a defesa dos direitos dos negros, mas de todas as pessoas".

Entretanto, o ex-atleta disse que o incidente fez com que sua vida corresse perigo na época. Smith afirmou que recebeu ameaças de morte e enfrentou vários tipos de problema.

O ex-velocista também se mostrou insatisfeito com o tratamento que recebeu do Comitê Olímpico Internacional (COI) e do comitê de seu país.

"Os comitês não se desculparam. No americano, se aproximam de mim para dizer que sentem muito, mas sorrio, sei que é mentira. Acho que deveria ter um lugar no Hall da Fama dos Jogos Olímpicos, mas os dirigentes esportivos são estúpidos", afirmou.

"O então presidente do COI, Avery Brundage, forçou o comitê americano a nos tirar dos Jogos e cassar nossas medalhas. Acabaram com nossas vidas. Eu me divorciei e a mulher de John Carlos se suicidou", acrescentou.

Fonte: Agência EFE

A decepção vai ser grande...

AUTÔNOMOS FC: O A NA BOLA.





Clipe da Banda Fora de Jogo

30 de novembro de 2008

Autônomos FC: "futebol com alegria, mais espontâneo, menos mercadológico"


Entrevista concedida pelo Autônomos FC para a ANA, Agência de Notícias Anarquistas.




Criado por punks e anarquistas, desde 1º de maio de 2006, existe na Grande São Paulo um time de futebol autogestionado, com espírito anárquico. O Autônomos Futebol Clube, ou “Auto”, como é carinhosamente chamado por seus “fãs”. “Um time com ideal autogestionário, anti-racista, anti-fascista, contra o futebol mercadoria”, explica Kadj Oman, um dos fundadores do clube. Na entrevista a seguir, ele fala, com a espontaneidade e malandragem libertária de um bom boleiro varzeano, do Autônomos FC e do esporte mais popular do país, cada vez mais industrializado e burocratizado pelos interesses materiais. Mas que, também, sob sol e chuva, terra batida, bola improvisada, descalços, resiste, alegra e encanta nas mais diversas “peladas” das periferias e rincões miseráveis do Brasil. Confira o bate-bola:


Agência de Notícias Anarquistas > Fale um pouco sobre o Autônomos Futebol Clube, sua organização e objetivos, em que contexto ele surge…

Kadj Oman < Bom, no fim de 2005, eu comecei a organizar um campeonato de futebol de salão que se chamava Copa Autonomia. Nele, não havia juiz e as regras eram poucas. Fizemos 10 edições dessa copa sem nenhum problema. Mulheres jogavam, crianças, a gente se divertia (inclusive, dá pra ver o vídeo da 1ª edição do torneio procurando pelo nome no YouTube). Aí, no Carnaval Revolução de 2006, em Belo Horizonte (MG), acabei participando de uma palestra/bate-papo sobre futebol e revolução, e conheci o Mau, o Jão e a Mix, do Ativismo ABC. Compartilhando um pouco das nossas angústias sobre o punk e o futebol, tivemos a idéia de fazer algo nesse sentido quando voltássemos. Aí eu aproveitei que na Copa Autonomia tinha um pessoal interessado na idéia e fundamos o time, pra jogar futebol society, no início. Foi uma época de muitas alegrias e muitas derrotas, tirando as amizades que surgiram. Jogaram suíços (5 ao mesmo tempo, de uma banda de ska), argentinos, australianos, canadenses, colombianos. E muitos brasileiros, punks ou não, afeitos ao ideal de autogestão. Mas o societyera mercadológico demais pra gente, e então fomos pra várzea, onde mais e mais gente foi se interessando pelo time e ele cresceu. Hoje temos dois quadros e um time “júnior”, composto por alunos de um dos zagueiros do time. Sobre a organização, bem, a gente divide tudo, desde lavar os uniformes até ficar de gandula nos jogos, passando pela vaquinha pra pagar o campo em que jogamos, que é alugado. E os objetivos sempre foram o de resgatar o futebol com alegria, mais espontâneo, menos mercadológico, sem se fechar a qualquer um que concordasse com a idéia de autogestão. Faz pouco mais de um mês, traçamos um estatuto, já que o time está cada vez maior e a gente não quer perder o objetivo principal dele, que é se divertir. Lógico que jogamos pra ganhar, até porque fazer as coisas você mesmo pra gente significa fazer o melhor possível, mostrar o quão bom se pode ser assim. Mas não colocamos a vitória acima de tudo - aliás, só nos últimos 4 meses que o time passou a ganhar mais do que perder mesmo.


ANA > E que história é essa de futebol autogestionado?

Oman < Pra ser justo, toda a várzea é meio que autogestionada. Surgem campos onde quer que haja um pedacinho de terreno, por mais que a metrópole engula espaços e vomite de volta o futebol society e o futsal, além do profissional, é claro. Mas no nosso caso, a autogestão passa por uma questão estrutural, de não ter presidente, diretor, tesoureiro, nada. Temos sim capitão, técnico, goleiros, laterais-direitos, porque isso não tem a ver com hierarquia necessariamente, e sim com aptidões ou gostos pessoais por jogar aqui ou ali, ou fazer essa ou aquela função. E divulgamos essa idéia de autogestão por onde jogamos, distribuindo panfletos ou no boca-a-boca mesmo. Alguns jogadores que estão com a gente, inclusive, eram de times que enfrentamos e que gostaram do nosso jeito de lidar com as coisas. Então a nossa autogestão é tentar ser o mais livre possível dentro do que se quer ser, mas respeitando os princípios básicos e as responsabilidades inerentes a todo projeto coletivo, como chegar na hora, colaborar com a grana sempre que necessário etc. Claro que no meio disso tudo às vezes surgem conflitos, mas o que seria a vida sem conflitos?


ANA > E qual a relação do Autônomos FC com o anarquismo? A cor do uniforme é mera coincidência? (risos)

Oman < (risos) É não é não. Acontece que o time foi fundado por punks e anarquistas, então na hora de escolher o escudo e as cores do uniforme isso contou. Mas conforme foi crescendo, o Auto (apelido carinhoso do time) foi se abrindo. Nunca foi um time explicitamente anarquista, mas sempre foi um time com ideal autogestionário, anti-racista, anti-fascista, contra o futebol mercadoria. Na verdade, os fundadores e boa parte do time, hoje, é de românticos, que ainda enxerga o futebol como uma crônica continuamente narrada a muitas vozes sobre a vida. Até banda de “rock’n'gol” o time gerou, a Fora de Jogo, que toca trajada com os uniformes do time e fala de futebol (sob uma ótica política) em todas as suas músicas. Além de que, convenhamos, preto e vermelho é uma combinação de cores das mais bonitas que existe. Os anarquistas, além de tudo, sempre tiveram bom senso estético. (risos)


ANA > Como explicar um anarquista ser fanático por futebol, por um time profissional, que cada vez mais são verdadeiros instrumentos capitalistas de manipulação, consumo e controle social? Ou assim como o amor não tem explicação? (risos)

Oman < Olha, explicação mesmo acho que não tem. A gente cresce gostando de futebol, aprende nele e com ele a se expressar, a se entender no meio de um coletivo (a torcida), acaba virando um dos nossos primeiros lugares de socialização. E como é o único que é contínuo pela vida toda, difícil se desligar dele. Até porque existiram muitos times anarquistas na história, o começo do futebol é operário, e ele é mais do que tudo uma festa popular. No início do século anarquistas aqui em São Paulo nomeavam suas equipes de “Flor” ou “Estrela”. Então, sempre que você encontrar um boteco ou padaria com esse nome, são grandes as chances de ele ter um passado anarquista. (risos)

E se o profissional é cada vez mais instrumento de controle, ele permite também nas suas brechas diversos tipos de encontros essencialmente anti-capitalistas, pró-ócio, pró-festa. A Gaviões da Fiel, torcida do Corinthians, por exemplo, se aproximou do MST nos últimos anos, dos Sem-Teto, promove festivais de cinema político, entre outras coisas. Temos que tomar cuidado pra não tomar a festa do povo por ópio, esse velho clichê, porque não é simples assim. O futebol foi apropriado pelo capital, assim como todo o resto, mas o próprio capital, contraditório que é, recria possibilidades dentro do profissional mesmo de ir contra ele (um bom exemplo, embora já meio distante temporalmente, é a Democracia Corinthiana). Cabe encontrar essas brechas, aproveitá-las, aprofundá-las. Durante toda a sua história o futebol opôs controle à festa, foi usado para dominar de um lado e para contra-atacar o domínio de outro. São tantas as histórias possíveis de serem contadas dentro do futebol… Um livro legal sobre isso é o “A Dança dos Deuses - Futebol, Sociedade, Cultura”, do historiador Hilário Franco Júnior. O que podemos e devemos fazer é continuar a contá-las, do nosso jeito, sem deixar que as vendam como mero produto descartável.


ANA > Será mesmo que o futebol profissional recria possibilidades de ir contra ele mesmo? Não acredito. O futebol profissional brasileiro está tomado pela maracatuia, pelo mercado, pelo negócio, vide Rede Globo, CBF´s, Trafic´s, Adidas e por aí vai. E por outro lado, os jogadores profissionais, na sua maioria, são despolitizados, sem atitude, vão à mercê dos dirigentes, cartolas. E no grosso as torcidas organizadas não são muito diferentes disso tudo não, também vão a reboque de políticos, dirigentes, cartolas… Na Itália, e em outras partes da Europa, que foi criado um movimento interessante por vários grupos “Ultras”, chamado “Contra o Futebol Moderno”, que luta contra as condições precárias dos estádios, ingressos caros, partidas sendo jogados em horários não-tradicionais, jogadores sendo vendidos como mercadoria, a comercialização excessiva no futebol etc. As torcidas uniformizadas do Brasil poderiam seguir esse exemplo, não?

Oman < Não vou te dizer que o profissional dá possibilidades o tempo todo de se ir contra ele, mas as recria vez ou outra sim. Se está envolto em tudo isso que foi mencionado, me diga, em que é diferente de qualquer outra esfera da sociedade? Tudo foi apropriado pelo capital, as relações sociais baseadas na venda são quase totalitárias, então as brechas são mesmo pequenas, ainda mais em um país onde as organizações sociais são tão marginalizadas e politicamente tão superficiais (não todas). As organizadas seguem o mesmo caminho. Não dá pra esperar delas uma postura que nenhum (ou quase nenhum) outro movimento organizado da sociedade toma, como essa de ir contra o futebol moderno. As poucas torcidas que vejo tentando seguir algum exemplo de fora acabam copiando as formas estéticas, as faixas, os gritos de guerra, mas não o conteúdo das reivindicações. Mas mesmo assim há organizadas indo contra sim. Um exemplo é a Resistência Coral, do Ferroviáio do Ceará, abertamente anti-capitalista, que leva faixas com dizeres como “paz entre as torcidas, guerra ao Estado”. Normalmente são torcidas menores, frutos de movimentos pequenos, como em geral é o anarquismo e o anti-capitalismo no Brasil. Mesmo assim, nas grandes torcidas aparecem às vezes manifestações nesse sentido. Já citei a Gaviões, que este ano levou faixas contra o preço dos ingressos nos jogos fora de casa do Corinthians. A Mancha Verde, do Palmeiras, também recentemente protestou contra o preço dos ingressos no estádio do clube. Eu acredito que os próprios constrangimentos que o capital imprime junta pessoas em direção a lutas por direitos básicos. Essa história da Copa 2014 e seus estádios a la européia vai dar pano pra manga. Já dá, aliás. Ano passado, acompanhando a final da Taça Brahma no estádio do Palmeiras, vi um monte de gente de Itapevi, cidade periférica da Grande São Paulo, se deslumbrando com o Setor Visa, pedaço do estádio com preços altos e cheio de mordomias. Outras pessoas, ao mesmo tempo, achavam aquilo absurdo, porque elitizava o estádio. A força das organizadas, que a mídia insiste em colocar na violência e na coerção, na verdade reside no fato de que elas são aglutinadoras de gente da periferia, que é quem mais sofre com as restrições do capital. Disso sempre pode surgir algo. E há de lembrar também que na mesma Europa contra o futebol moderno estão torcidas neonazistas, que também são contra o futebol moderno, obviamente por outros motivos. A Eurocopa desse ano mostrou neonazistas croatas com faixas com esses dizeres. Então, temos sempre que pensar as possibilidades dentro das realidades históricas, sociais, políticas de cada lugar. Não dá pra querer no Brasil a força de um movimento anarquista organizado como o grego, por exemplo, do dia pra noite. Mas nem por isso não existem possibilidades ou se deve jogar fora o que há.


Confira o restante desta entrevista no blog do Autônomos FC.


Nós da Ultras Resistência Coral ficamos honrados com a lembrança dos camaradas do Autônomos FC e esperamos ansiosamente pelo dia em que poderemos disputar um racha com os camaradas, de preferência em alguma manifestação com bloqueio de rua!