24 de julho de 2010

Racismo no futebol


Datado de 2005, Abdias Campos, escreveu Racismo no Futebol, onde discute o racismo e preconceito no futebol, motivado por fato real entre jogador brasileiro e argentino. A capa traz uma xilogravura de Dila, de Caruaru/PE.




RACISMO NO FUTEBOL
Autor: Abdias Campos

(1)
Neste folheto de versos
Minha homenagem singela
Aos jogadores negros
Que sofrem com a mazela
Do racismo inoportuno
De decadente tabela

Vamos fechar a janela
Na cara dessa vergonha
Combater com veemência
A atitude bisonha
do racismo que apregoa
A jogada mais tristonha

Em todo canto do mundo
Tem-se ouvido um grito só
Do gramado à arquibancada
O campo de futebol
Virou palco de racismo
Que chegamos a ter dó

(2)
Dó de saber qu’inda há
Dentro dos seres humanos
Esses sentimentos podres
Que provocam desenganos
Quando nos julgamos mais
Mais nos tornamos insanos

Jogam bananas no campo
Quando o negro jogador
Pega a bola e vai
Com seu jeito driblador
Encantando aos que sabem
Quais os meandros do amor

A vida não pede cor
Para aquele ou para aquela
A quem pintou nesse quadro
A mais bonita aquarela
Trazendo a arte da bola
Por entre as traves da tela

(3)
Entretanto esta querela
Da cor da pele da gente
Parece ter importância
Para muitos que a mente
Infelizmente parou
Nada enxergou pela frente

Tem francês na Inglaterra
Brasileiro na Espanha
Tem negro por toda a parte
Que com sua arte assanha
A sanha dos infelizes
Matizes da artimanha

Aqui, os vizinhos nossos
Nossos irmãos argentinos
Coitados parecem cegos
Em seus loucos desatinos
Confundido entre as cores
“Los irmanitos bambinos”

(4)
Chamam Grafite de negro
Negrito sim, sim sinhô
Negrão que é bom de bola
Exemplo de jogador
Que tem o vício de ser
Um grande goleador

Mas quem repara na cor
Para se posicionar
Dificilmente consegue
A outro identificar
Tenta vê, mas não há luz
Para que possa enxergar

Somos irmãos uns dos outros
Preto, amarelo, branquinho
O preconceito, sim, erra
Por desviar o caminho
Nunca acertará o gol
Porque só joga sozinho

(5)
Quem pensa que é maior
Sofrerá a queda imensa
Pois sua alma flutua
Numa camada suspensa
Sem base nenhuma vive
A mercê dessa doença

Futebol arte do povo
Para o qual foi coroado
Um negro que até agora
Não pode ser igualado
Em virtude do que fez
Quando esteve no gramado

Como é que então essa gente
Comete tanta asneira
E ainda assim consegue
Repetir essa besteira
À frente de autoridades
Que não saem da cadeira?

(6)
Mas houve uma vez primeira
Foi um homem/delegado
Que pôs a mão num sujeito
Jogador intitulado
De xerife na Argentina
Que perdeu seu rebolado

O dito foi acusado
De racismo em pleno jogo
Tentou se sair por cima
Mas acabou com o fogo
Quando se viu enjaulado
Sob a custódia do rogo

Esses processos deviam
Ser de fácil conseqüência
Agrediu com preconceito?
Depois de tomar ciência
A justiça prescrevia
Receita de consciência

(7)
Ao invés de uma prisão
Entre paredes escuras
Essas pessoas, por lei
Que atingissem criaturas
Teriam que aprender
A viver suas culturas

Seus costumes ancestrais
Suas danças, a comida
Seus cantos e vestimentas
Seus sotaques, sua lida
Seus motivos de alegria
A sua dor contraída

Levariam-na a um quilombo
Um gueto remanescente
Entregaria ao chefe
Um conselheiro da gente
Que se perde quando fala
Mas se cala quando sente

(8)
Deixaria o meliante
O tempo que precisasse
Até ele alcançar
A transformação da face
Ao invés do preconceito
A este ele rejeitasse

No futebol, na escola
No campo e na cidade
Na beira-mar, no Sertão
Que a nossa felicidade
Seja de ter nosso irmão
No mesmo pé-de-igualdade

Racismo: cor da maldade
Do infeliz que o conduz
Ainda bem que existe
Pela remissão da cruz
Perdão à quem se arrepende
Pela graça de jesus.

Fonte: http://www.camarabrasileira.com/cordel02.htm

E 2010 segue em frente


Chargista: Lute

23 de julho de 2010

Maradona: Chávez é uma 'pessoa fantástica e um defensor do Sul'


CARACAS — O técnico da seleção argentina de futebol, Diego Maradona, foi recebido nesta quinta-feira pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que disse que "admira desde sempre" por ser uma "pessoa fantástica" e um "defensor do sul".

"Para mim é realmente um orgulho poder estar ao lado do presidente Chávez, porque ele luta pela gente, por seu país, por seus ideais, e estou com ele até a morte", disse Maradona no palácio presidencial de Miraflores em Caracas, onde foi recebido pelo presidente venezuelano.

"Todo o povo venezuelano te admira desde sempre, você é um defensor do sul", disse Maradona a Chávez, depois de assegurar que o considerava "uma pessoa fantástica".

A pedido de Chávez, Maradona estenderá sua visita para acompanhar a inauguração do torneio de futebol feminino dos XXI Jogos da América Central e do Caribe Mayaguez 2010, que serão disputados na Venezuela esta semana.

"Te consideramos venezuelano, Diego. Argentinos, não fiquem com ciúmes", disse Chávez.

Maradona tinha visitado Caracas pela última vez no início de 2009 e participou de atos políticos com Chávez.

Maradona prevê reunir-se na semana que vem em Buenos Aires com o titular da AFA, Julio Grondona, para discutir seu futuro à frente da seleção argentina, que foi eliminada da Copa da África do Sul nas quartas de final.

Fonte: AFP

Caso Bruno, o espelho de uma sociedade capitalista em completa decomposição

Após o fracasso da seleção brasileira com a eliminação da Copa do Mundo e a frustração dos anunciantes, a mídia buscou encher seus noticiários com mais um episódio envolvendo jovens em um crime. E mais, de um famoso jogador de futebol, o goleiro do Flamengo, Bruno Fernandes. Para chamar atenção e ganhar uns pontos a mais no “Ibope” foi necessário rechear o crime com fortes doses de sensacionalismo macabro.

De quebra, tal como ocorrera no episódio dos Nardoni há dois anos, a manipulação dos fatos, principalmente pela Rede Globo, é algo explícito: a investigação é totalmente falha, não há provas concretas; há apenas suspeitos e a polícia corrupta colabora com a comoção manietada pela emissora dos Marinhos. No entanto, o réu em questão já está condenado antecipadamente pela opinião pública. No circo midiático, sangue e desgraça de outrem são peças altamente rentáveis. Contudo, esta é apenas a casca do ovo.

HÁ MUITO MAIS A SE ENTENDER DO QUE O “ESPETÁCULO” MONTADO PELA MÍDIA

É preciso ter a compreensão de que nos tempos atuais o esporte mercantilizado, no caso o futebol, perdera seu caráter amador, transformando-se em verdadeiras empresas em busca de lucro. Clubes formam jogadores, alguns poucos privilegiados que superam a peneira das categorias de base, para que sejam negociados como mercadoria a clubes europeus. Estes jogadores ganham grandes fortunas antes mesmo de serem “vendidos” beneficiados por salários e cotas de patrocínio. A grande maioria deles advêm de famílias muito pobres e humildes, tendo nas favelas desde a infância vínculos com traficantes e grupos de extermínio formados por policiais. Aqui há um campo fértil para que, por exemplo, atletas multimilionários atuem não como esportistas, mas na condição de verdadeiras máfias em contato com o mundo do crime organizado.

O capitalismo bestificante faz com que as relações interpessoais sejam cada vez mais vazias, individualistas, superficiais e, bastante comum, prostituídas em busca de status social e poder. Neste contexto, o caso Bruno é apenas um elo desta corrente que aprisiona política e ideologicamente as pessoas dentro do atual regime. A chamada geração “orkuteira” é a expressão mais bem acabada destas concepções, na qual o que mais vale é a forma não o conteúdo, ou seja, a superficialidade, não as relações balizadas por verdadeiro espírito de companheirismo e de um projeto de vida em comum.

O MÉTODO MARXISTA: PARA ALÉM DAS APARÊNCIAS

O feminismo burguês, encampado lamentavelmente pela esquerda revisionista não vai a fundo ao que tange às causas que levaram o ex-atleta do Flamengo cometer o suposto crime contra uma “garota de programa” que pretendia vender seu corpo e de seu filho a quem melhor pagasse. Além do mais, esta esquerda sem os menores princípios de classe, reivindica que o Estado capitalista intervenha como resolução policial para estes casos, configurando um campo completamente distante da luta de classes e do marxismo revolucionário. Ontem defenderam a criação das delegacias da mulher para encarcerar os “operários machistas” e hoje são devotos da reacionária Lei Maria da Penha, revelando assim a ausência de qualquer independência de classe na questão feminista. Não podemos deixar de lado o caráter, já mencionado acima, mafioso do referido jogador proporcionado pelo enriquecimento abrupto e sem limites, e pela mercantilização (“coisificação”) da mulher, muitas das quais vendem seu corpo aos ricos jogadores de futebol na expectativa de ascensão social. Os grandes meios de comunicação difundem cotidianamente na população a ideologia burguesa de que a mulher deve ser esteticamente “perfeita” para ter “algum valor” no mercado da sociedade. Por esta razão não podemos reduzir este caso simplesmente como mais um ataque bestial machista contra uma “ingênua” mulher proletária, Eliza é vitima e ao mesmo tempo foi parte integrante e ativa de uma engrenagem totalmente corrompida.

A mulher é encarada pelo sistema capitalista como uma mercadoria de consumo e quanto mais se adequar aos padrões de beleza capitalista mais se incorpora valor “agregado” a esta “mercadoria”, isto é, quanto mais bela, mais alto o valor do “produto” no leilão de seres humanos. Semelhante situação ocorre inclusive nos casamentos atuais nas chamadas “famílias tradicionais” de classe média alta. Não à toa, disseminam-se em todo o mundo academias e clínicas estéticas, onde o culto ao corpo é a tônica e entendido como mais uma “necessidade” criada para o consumo de um produto.

No seio destas relações engrendram-se todo um arco de podridão: interesses meramente materiais e econômicos em detrimento de laços afetivos e/ou de camaradagem. A falsidade, agressões, belicosidade, espancamentos e assassinatos são as normas imperantes. Fenômeno similar a este sofrem a burguesia, artistas, atletas famosos e a classe média alta. Em suma, são relações típicas de uma sociedade em profunda decomposição, uma excrescência que a cada dia ganha terreno em uma época de intensa ofensiva imperialista sobre os povos do planeta onde se perdeu qualquer referência política no socialismo. Evidentemente, no caso do goleiro Bruno a parte socialmente mais frágil deste jogo de interesses, a mulher, foi brutalmente assassinada.

A ruptura com esta concepção de mundo burguesa só será possível através da violenta ação da classe operária contra seus algozes capitalistas, através da revolução socialista! A partir da qual pela necessidade de todo um coletivo, os interesses mesquinhos e podres oriundos da velha sociedade de classes serão pari passu extintos. Na edificação da sociedade comunista de amanhã será enobrecida a autêntica igualdade entre companheiros de relações afetivas e de vida conjunta, em que impere soberana e profundamente o sentimento de fraternidade entre o homem e a mulher socialistas.



Fonte: Site LBI.

18 de julho de 2010

Violência mancha o futebol brasileiro

Campeão da Copa das Confederações, pentacampeão mundial de futebol e, até recentemente, líder do ranking da Fifa, o Brasil ocupa uma posição nada honrosa no ranking da violência relacionada ao esporte. Estudo divulgado em 2009 pelo sociólogo Maurício Murad aponta que 42 pessoas foram mortas em confrontos envolvendo torcidas - dentro e nas imediações dos estádios, entre 1999 e 2008. Os dados são confiáveis, pois foram todos checados e conferidos pelos Institutos Médicos Legais (IMLs) e delegacias de polícia das cidades onde foram registradas as ocorrências.

Tristes episódios, como o de um torcedor corintiano espancado até a morte antes do duelo entre Corinthians e Vasco válido pela semifinal da Copa do Brasil, na noite de 3 de junho de 2009, em São Paulo, mostram que não apenas de glórias vive o “País do Futebol”.

A violência que mancha o futebol nacional é reflexo das mazelas sociais que campeiam pelo Brasil, violência esta que aumenta à medida que crescem a impunidade e a malversação dos recursos públicos. Essa combinação de fatores põe em cheque a capacidade de o Brasil sediar a Copa do Mundo em 2014, onde a segurança pública é um dos itens principais do catálogo de exigências da Fifa. Triste contradição!

A origem da guerra entre torcidas uniformizadas é a rivalidade insana do futebol. Não apenas no Brasil, mas também em países europeus e de outros continentes, o “povão” se envolve mais com futebol que com questões ligadas à religião ou à família, por exemplo. O que fazer para estancar essa violência irracional? Afinal, uma partida de futebol é tão somente uma partida de futebol. Deveria ser, mas infelizmente a “paixão” pelo esporte acaba acobertando verdadeiras escolas do crime.

O tema é momentoso e revela uma profunda crise de valores por que passa a sociedade contemporânea. A violência vai paulatinamente consolidando-se como uma linguagem universal entre os jovens. A internet serve de instrumento para a articulação de encontros entre “gangues” de torcidas, que usam o futebol para canalizar suas energias e deflagrar cenas de revolta e brutalidade.

O vazio cultural também encontra ressonância nos jogadores profissionais de todo planeta, cujos hábitos e valores já não servem de exemplo como outrora. Ao valorizar a posse de bens materiais, a sociedade de consumo ajuda a pintar um quadro, no qual futebol, comércio e violência formam cada vez mais, partes de um todo de difícil separação.

O problema deve ser enfrentado com pragmatismo, requerendo a intervenção direta do Estado e a mobilização da sociedade civil. Todos, a começar pelos dirigentes dos clubes profissionais e das federações de futebol, devem se envolver e articular acordos para coibir a violência crescente. É preciso aplicar medidas políticas, jurídicas e administrativas que sejam viáveis para transpor essa triste página do desporto nacional.

O Estatuto de Defesa do Torcedor (em vigência desde 2003) necessita ser mais amplamente divulgado, a fim de que os torcedores/consumidores estejam bem informados acerca de seus direitos e deveres para cobrar providências por parte dos clubes e do poder público. Igualmente salutar é a reforma do documento legal, no sentido de criminalizar ações de vandalismo praticadas por falsos torcedores. Há torcidas organizadas funcionando como verdadeiras associações civis, com sede própria, estatuto, CNPJ e corpo diretivo. À primeira vista, nada de errado, pois são grupos legítimos com os quais o Estado deve dialogar. Entretanto, há casos em que dirigentes de times criam laços promíscuos, por meio da manipulação de integrantes, chegando ao absurdo de permitir a isenção da compra do ingresso por facções das organizadas, estabelecendo-se uma relação tipicamente comensal ou parasitária.

A pouco mais de quatro anos de sediar a Copa do Mundo, o Brasil precisa agir rápido. Um aspecto crucial é promover a especialização de efetivos da polícia para atuar diretamente em ocorrências relacionadas a eventos esportivos. As autoridades públicas devem investir em recursos humanos e tecnológicos, como a implantação de um banco de dados informatizado, que reúna elementos úteis para uma ação de inteligência integrada por parte da polícia, Ministério Público e Poder Judiciário. Um primeiro passo para combater a impunidade no futebol seria a identificação dos líderes que conflagram a violência. Os jogos aglomeram multidões e na hora da confusão há sempre o insuflador, a quem os demais seguem. Câmeras potentes, de alta definição possibilitam a visualização real do tumulto, facilitando a prisão dos culpados e a conseqüente obtenção de provas que forneçam subsídios à ação estatal.

O combate à violência no futebol brasileiro só será eficaz quando o tema for inserido, de fato, no contexto macro da realidade nacional. Não adianta partir para a radicalização, pedindo a eliminação das torcidas organizadas. Isto atenta contra a democracia, já que representaria o fechamento de um espaço de convivência plural, que agrega cidadãos de diversas classes sociais.
Medidas enérgicas fazem-se prementes para frear o quadro tirânico e opressor reinante em nosso futebol. Ao mesmo tempo é necessário que o Estado esteja presente nas periferias, com campanhas sócio-educativas de inclusão social através do esporte, em parceria contínua com as comunidades e organizações da sociedade civil.


Escrito por: Lucas Nery.

17 de julho de 2010

Sócrates: "Imagina a Gaviões da Fiel politizada! Esse é o grande medo do sistema"

Como você está vendo a organização da Copa do Mundo aqui no Brasil daqui a quatro anos?
Sócrates
Aqui no Brasil, ainda não há organização nenhuma, pelo que eu saiba. Na verdade, existe uma desorganização dirigida para que os investimentos que sejam alocados nas obras não passem por licitações, então estão protelando o máximo possível para que isso ocorra.

Você acha que é intencional?
É claro! Isso aconteceu no Pan-Americano, acontece sempre. Quanto mais demorado melhor, porque aí tudo é feito a toque de caixa, e a toque de caixa tem situação emergencial que vale a pena para desviar alguma coisa.

Você acha que a exclusão do Morumbi como um estádio da Copa tem a ver com isso?
Não tenho dúvida. Eles querem construir um outro estádio. Desde o começo estava na cara, criaram todo tipo de dificuldade. E acho que o São Paulo fez certo, fazer um investimento de 700 milhões no Morumbi? É mais fácil o São Paulo construir outro estádio.

Você acha que o interesse é mais econômico ou político?
É para-econômico. Não é nem econômico. Economicamente não poderíamos escolher Manaus em vez de Belém. Cuiabá como sede, onde eles vão ter que construir o estádio para depois ficar parado, Brasília a mesma coisa, Natal a mesma coisa. É não é interesse econômico. É desperdício de dinheiro. Desperdício econômico. É para-econômico, para desviar verba.

Você não vê o fato de o São Paulo ter encabeçado uma chapa de oposição na eleição do Clube dos 13 como um elemento para a exclusão?
Não, isso vem lá de fora. Todos os estádios vão ser reformados. Alguns com um custo absurdo. Deve ser a quinta ou sexta vez que fazem reforma no Maracanã nos últimos três anos. O Minerão também. Vão construir outro na Bahia. Entendeu? É pro dinheiro andar. Andando o dinheiro alguém tá ganhando. Seja quem constrói, quem administra. O único que não ganha é o povo.

Você sempre diz que atualmente o futebol tem mais força do que arte. Você acha que a Copa de 1982 foi um marco na consolidação do esporte como está hoje?
Não existe um divisor aí. O que ocorre é uma falta de adaptação do futebol com a evolução física dos atletas. A questão não é só filosófica, claro que isso faz parte do processo. Mas ela é muito mais dependente da questão física. Inclusive na minha tese de mestrado, seria nove contra nove, tirar dois jogadores de cada time. Quer dizer, você resgatar os espaços que tínhamos há anos atrás. Então vão ter que jogar. Hoje tem gente que se esconde. Você pega um back central da vida ai que não sai do lugar. A única coisa que ele faz é chutar a bola pra frente, pro lado, isso não é jogar futebol. Com nove contra nove, o back central vai ter que saber jogar. Não só ele, todos vão ter que saber jogar, porque a bola vai correr. Na verdade o futebol é um dos poucos esportes que não se adaptou a essa evolução. Imagine uma prova de atletismo, 100 metros, hoje, com cronômetro manual... Iria dar empate para caramba. Ou 50 metros na piscina. Tem que se adaptar a isso. E futebol não mudou nada. Não quer mudar. Nem tecnologia se utiliza para se dirimir as dúvidas de arbitragem.

Você não acha que essa não adaptação beneficia maus jogadores, que mesmo não tendo tanto talento, mantêm contratos milionários?
Hoje, na verdade, se nivelou o futebol. Um ou outro jogador que se destaca, que tem mais técnica, mais talento. Na verdade, todo mundo privilegia o físico hoje e é isso que impera no futebol. Seja na seleção de Honduras, você comparar com a seleção da Inglaterra. Você vê as equipes que se classificaram, tem time que nunca passou para a segunda fase e tem um monte na segunda fase, tá tão igual.

Como foi a democracia corinthiana?
Uma sociedade que decidia tudo no voto e a maioria simples levava vantagem nas decisões, absolutamente democrático. O roupeiro tinha o mesmo peso de voto de um dirigente.

Como a direção do time reagiu? Não só a direção, mas os patrocinadores, o Leão quis dar uma pernada?
O Leão não dava pernada em ninguém, ele nunca votou ué. Um voto nulo, em branco. Se você não quer participar de uma sociedade você não vota e agüente a decisão da maioria. A direção participava, um voto era da direção do clube e não tinha patrocinador, nessa época não tinha essas coisas.

Esse foi um dos poucos momentos em que o futebol cumpriu um papel mais positivo politicamente?
Na verdade cumpriu um papel importante nesse processo de redemocratização, porque o processo corintiano começou dois anos antes da grande mobilização das Diretas Já! Acho que foi um fator importantíssimo na discussão da realidade política brasileira. Você está dentro de um meio extremamente popular, com uma linguagem que é acessível a todo mundo está discutindo uma coisa que há muito tempo ninguém ou muita gente jamais teve a possibilidade de efetuar, que era o voto. Foi importantíssimo. Igual a isso eu não conheço nada parecido no futebol.

Você acha que o futebol pode cumprir um papel mais progressivo?
Claro. E esse é o grande medo do sistema. Você imagina a Gaviões da Fiel politizada. Né!? Você tem mobilização já pronta, você tem palco, duas vezes por semana, para exercer o seu direito, a ação política, só falta a politização.

Falta organização política para os jogadores?
Falta consciência! Falta... Por isso o sistema deseduca esses caras. Em vez de educar, faz de tudo para o cara não adquirir uma consciência social, política, porque esse é o mais importante. Ele é mais ouvido que o Presidente da República, esse cara pode mudar o país. Uma das brigas que eu tenho é “por que não educar esse povo, se é obrigação do Estado educar todo mundo?”. Pelo menos esse povo tem que ser educado. Agora mesmo, fui para a África do Sul, uma campanha pró-educação, inclusive com iniciativa da Fifa, com chancela da ONU, Educação Global, que é uma das metas do milênio, até 2015 pôr todas as crianças na escola. Então, no caso da Fifa, ponha primeiro os jogadores. (risos)

Você acha que o Estado deveria cumprir um papel mais importante na gestão do esporte?
É claro! Mas ninguém quer mexer muito nisso. Ninguém quer mexer, porque é um vespeiro. Mas deveria. Particularmente o futebol no Brasil é um negócio, como outro qualquer. Por que o Estado não tem controle sobre isso. Ele usa todos os símbolos nacionais, hino, bandeira, até a alma do brasileiro ele usa.

Você acha que o Estado deveria intervir para tentar segurar os jogadores no Brasil?
Já existe legislação para isso. O trabalho infantil ele é penalizado. Mas como você vai evitar que uma criança se transfira para outro país dentro das condições legais, quer dizer, arrumam emprego para os pais, os caras sempre fazem aquilo que precisa ser feito. Isso só vai ser educado quando tivermos consciência de que temos que valorizar a ‘commodite’ que temos em mão. Que é a qualidade do jogador brasileiro, o talento do jogador brasileiro. Em vez de vez de vender o artista, tem que vender a obra dele. Quando a gente começar a vender a obra dele, a gente vai ter muito mais riqueza. Um bom exemplo é o Ronaldo. O Ronaldo é um cara que vale ouro, que veio pra cá e está ganhando o mesmo que estava ganhando lá, ou mais. Então é possível sim, mas é uma mudança de mentalidade. Na verdade o futebol brasileiro vende seu artista porque também é uma forma mais fácil de se manipular os recursos. Nem todo dinheiro que saí de lá chega aqui, no meio do caminho tem muita gente intermediária.

Adeptos se mobilizam contra Manchester United

A má fama dos proprietários do Manchester United, a família Glazer, entre os torcedores pode prejudicar a ativação do patrocínio da Aon. O acordo entre a companhia e o clube foi firmado por cerca de 80 milhões de libras por quatro anos. A torcida ameaça ignorar as camisas que possuírem o logotipo da empresa por crer que o aporte contribui para que os Glazers não eliminem dívidas.

"Lendo vários fóruns de adeptos, é muito aparente que vários torcedores veem a nova camisa com a Aon como símbolo da gestão da família Glazer, mais do que um símbolo do Manchester United que nós historicamente conhecemos e amamos", disse um representante do Manchester United Supporters Trust, grupo organizado de torcedores.

"É importante que todos os torcedores entendam a necessidade de remover os Glazers do nosso clube para melhorar as chances de sucesso e sobrevivência no futuro", completou.

O Manchester United está iniciando a pré-temporada na América do Norte e deve disputar amistoso contra o Celtic, na próxima sexta-feira (16), em Toronto, Canadá.

Fonte: Maquina do Esporte.

16 de julho de 2010

Por dinheiro, Fifa pode mudar calendário para Copa

Para evitar que estrelas como Cristiano Ronaldo, Messi, Kaká e Rooney repitam o mau desempenho da Copa do Mundo da África do Sul em 2014, no Brasil, a Fifa planeja exigir que os campeonatos nacionais terminem cerca de um mês antes do mundial.

"Muitos jogadores têm chegado (à Copa) apenas com sua carcaça, sem energia", disse o ex-jogador liberiano George Weah, atual dirigente da Fifa encarregado em dirimir esses problemas. "Isso precisa mudar".

Além do término antecipado dos torneios nacionais, ainda espera-se que a entidade máxima do futebol exija uma semana de folga para todos os jogadores convocados ao mundial.

A medida, contudo, não tem como objetivo apenas a regeneração física dos jogadores. Por trás dela, está a necessidade da Fifa de organizar competição com alto nível técnico, a fim de atrair patrocinadores.

Fonte:
Máquina do Esporte.

15 de julho de 2010

Futebol brasileiro à beira do colapso

Mesmo que você seja mais jovem do que eu, certamente já teve a felicidade de assistir exibições de alto gabarito do futebol brasileiro em nossos estádios. Algo que era corriqueiro até o final da década de 1980. E que só resgataremos com a manutenção de nossos melhores jogadores em nosso território e algumas mudanças de comportamento por força de lei ou pressão da mídia.

De lá para cá, estas exibições têm sido raras. Os motivos são diversos. Os mais citados são:

- redução de espaços abertos onde outrora os moleques quase pelados praticavam peladas alimentando enormes celeiros de jovens com alto potencial futebolístico. Estas áreas foram substituídas por escolinhas que em muitos casos inibem a criatividade de alguns promissores adolescentes, obrigando-os a atuarem de forma "burocrática" e previsível.

-elevação do gabarito da preparação física que permite que os defensores rapidamente provoquem trombadas contra os atletas mais técnicos. Sempre é mais fácil destruir do que criar algo elaborado. Fora a brandura das penas
aplicadas.

-árbitros despreparados que não inibem com rigor as jogadas mais violentas. A legislação esportiva oferece muitas brechas para atenuar e perdoar atos violentos dos botinudos. A quantidade de faltas precisa ser reduzida (como no Futsal) para que o jogo possa transcorrer com mais desenvoltura.

-jogadores deslumbrados com a ascensão meteórica se desgastam em noitadas mal dormidas e não rendem o máximo nos dias de jogos onde a exigência de esforço seja maior. Não seguem as normas disciplinares do clube. Total falta de profissionalismo. Os clubes fingem não ver.

-êxodo maciço de nossos melhores jogadores para outros continentes. Nossa desorganização fora das quatro linhas não nos permite montar uma estrutura adequada para concorrer com os poderosos clubes europeus e oferecer condições atrativas para nossos atletas permanecerem aqui. Até a Ásia consegue atrair nossos promissores jovens. Só teremos bons patrocinadores quando a administração for transparente e livre de vaidades. E quando as leis fecharem as brechas que ora existem.

-contratação de jogadores em fim de carreira que os estrangeiros não desejam mais. Estes atletas já realizados financeiramente, retornam por saudade da terra nativa para desfrutar do que melhor temos: mulheres bonitas, praias, sambas, cervejas, recantos bucólicos sem neve e fãs atuantes. Certamente (pois são humanos) não se empenharão da mesma forma que quando estavam no início da carreira. Já não entram nas divididas com o mesmo entusiasmo.

-táticas e estratégias voltadas para a defesa aglomerada em função de regras que não incentivam o ataque constante que fatalmente resulta no que de mais belo e emocionante existe neste esporte: o gol! Jogos terminados em 0 x 0 não deveriam conceder pontos aos dois times! Times que goleiam (mais de três gols de diferença) deveriam ser premiados com ponto extra.

-legislação benevolente com empresários e procuradores que forçam contratações visando apenas seus lucros pessoais. A saúde financeira do clube fica em terceiro plano. Desta forma, os grandes clubes devem até a sede aos cofres públicos. Os clubes menores já não montam mais equipes
capazes de produzir "zebras" que empolgavam nossos campeonatos.

Este conjunto de fatores está afastando os torcedores dos estádios. Aliados a outros de importância semelhante, tais como:

-datas e horários inadequados de jogos. Alguns terminam após 23:55 hs. Fica difícil para quem precisa acordar às 5:00 hs só poder dormir 3 ou 4 horas. Sem contar os regulamentos confusos e ilógicos que às vezes regem os torneios.

-falta de segurança nos estádios e adjacências. Torcidas "organizadas" promovem badernas que espantam famílias. Após 50 metros dos estádios o
torcedor não conta com nenhuma proteção policial para trafegar rumo ao seu lar.

-desconforto dentro e fora dos estádios. Assentos sujos e quebrados. Sinalização e iluminação deficientes. Banheiros sem água, sabão e papel higiênico. Bares com alimentos de origem suspeita. Infiltrações nas coberturas e poucas bilheterias para atender a multidão de compradores de ingressos (mesmo antecipados). Confusão nas ruas próximas e nos estacionamentos irregulares.

-transporte inadequado. Redução dos veículos coletivos após 23:00 hs. Metrô abarrotado e quente. Trajetos equivocados nestes horários.

-custo do espetáculo. Um par de torcedores (em geral pai e filho) consome no mínimo R$ 140,00 (ingresso+transporte+lanche) para assistir a um jogo. O baixo nível salarial de nosso povo não permite esta aventura mais de uma vez por mês. E o padrão dos jogos não motiva a ponto de tanto sacrifício.

-canais fechados para que o clamor público se faça presente. Jamais as sugestões de torcedores (os que pagam) foram coletadas para ajudar na melhora do espetáculo. A mídia pode fazer isto com baixos custos e encaminhar com credibilidade. E cobrar. Todo este pacote de "maldades" contribui para que jogos como Botafogo x Flamengo e Palmeiras x Corinthians tragam menos de 20.000 torcedores para os estádios. Na década de 1980, este número nunca era inferior a 60.000 espectadores.

Como nossa seleção só tem sido formada por atletas que residem fora do país, não temos oportunidade de assistir os melhores em nossos campos, mesmo tendo de superar todos os obstáculos citados acima. Somente assinantes de TV a cabo desfrutam de tais jogos.

Este cenário contribui para uma gradativa redução do entusiasmo dos nossos torcedores. A persistir esta curva descendente, dentro de poucos anos dezenas de profissionais do ramo futebolístico (inclusive jornalistas) perderão espaço para trabalhar.

Esta visão que aqui registramos, deve refletir o sentimento de mais de 90% dos torcedores. Basta efetuar uma rápida (e barata) pesquisa em escala nacional através da mídia para comprovar esta suspeita.

Certamente cada um de nós tem diversas sugestões para minimizar (e eliminar) vários dos problemas que nos incomodam. Apesar de vocês serem especialistas competentes do ramo, com certeza não se furtariam a juntar opiniões de seus seguidores para montar um documento elencando as medidas mais adequadas com tal objetivo. Estas opiniões seriam coletadas por pesquisas simples através de seus canais de comunicação. Sem maiores ônus para gerenciá-las.

Após uma triagem de consenso, o tal documento seria encaminhado a uma comissão (CBF + federações + árbitros + donos de jornais + rádios + TVs + segurança pública + empresas de transporte + câmara legislativa + patrocinadores) para que fosse criada uma cruzada de recuperação da alta qualidade do nosso futebol que sempre nos encantou e que sem dúvida causa inveja e temor aos demais países. Pelas enormes dimensões de nosso território, certamente temos capacidade para montar de três a quatro seleções nacionais superiores a todas as restantes do planeta. E gerar postos de trabalhos e bons lucros.

Algumas medidas poderiam ser convertidas em leis. Outras passariam a fazer parte de uma norma de conduta da CBF. Outras fariam parte de acordos éticos (?) entre os dirigentes sem vaidades (??). Algumas experiências podem ser efetuadas nas categorias sub-17 e feminina com aval da Fifa. Com ajuda dos militantes lúcidos da imprensa, certamente chegaremos a consenso de agrado geral para combater este marasmo que se instalou em nosso esporte preferido e lentamente esfacela nosso entusiasmo.

Dentre as dezenas de questões possíveis a serem coletadas, de imediato (e humildemente) sugerimos a seguinte: a seleção de futebol deve ser convocada seguindo o seguinte critério (podendo mesclar alguns):

a) Apenas jogadores que estejam atuando no Brasil no mínimo por dois anos.
b) Convocar no máximo 25% de "estrangeiros" (a experiência deles lá
fora não deixa de ser útil ao treinador).
c) De forma que a média de idade seja inferior a 25 anos.
d) Que tenham atuado em mais de 80% das partidas da última temporada.
e) Não tenham tido mais de quatro expulsões durante a última temporada.
f) Outra sugestão (descreva em até duas linhas).

Sem mais no momento, despedimo-nos na esperança de que algo de útil possa ser extraído deste resumo e possa auxiliá-los nesta complicada batalha que certamente vai esbarrar em fortes interesses (às vezes escusos) para manter este "caos" dentro de nossas fronteiras. Mas se vocês se unirem e abraçarem esta causa e apoio de ex-atletas que criaram o entusiasmo que ainda nos alimenta, tenham certeza de que o povo os apoiará na pressão que forçará os dirigentes a adotar atitudes saudáveis no sentido de preservar nosso maior patrimônio: o fabuloso futebol brasileiro!

Uma cruzada comandada por jornalistas sérios, competentes e preocupados com o futuro de nosso esporte preferido, com certeza terá sucesso garantido e agradecimento dos fãs do tão decantado "futebol-arte". Além de alargar os horizontes profissionais para diversas categorias.


*Haroldo Pereira Barboza é matemático, analista e poeta, e escreveu o livro "Brinque e Cresça Feliz"

Fonte: Universidade do Futebol.

14 de julho de 2010

Tá na cara. E ninguém faz nada

Os ministros do Esporte, Orlando Silva, e do Turismo, Luiz Barretto, disseram que o Brasil terá estádios pequenos na Copa de 2014. A intenção do governo é adequar ou construir estádios com a capacidade mínima exigida pela Federação Internacional de Futebol (Fifa) para o torneio, 40 mil lugares.

Tudo isso para, segundo eles, respeitar a média de público normal do país e as exigências da Fifa. Apenas os estádios que receberão jogos da fase final do torneio terão maior capacidade. A medida é para reduzir custos com obras e baratear a manutenção dos estádios usados na Copa depois do fim do torneio. “Não podemos construir um estádio em Brasília com capacidade para 70 mil pessoas e depois nunca mais conseguir lotá-lo”, explicou o ministro.

Agora, amigos, a pergunta é: por que isso aparece só agora? Esse ar “bonzinho” de nossos governantes quando todos (ou quase) os projetos já foram apresentados e as cidades escolhidas.

A ideia é extremamente válida, mas falar isso agora é ter que mudar projeto a pouco mais de dois anos do prazo final para conclusão. Brasília apresenta falta de público e força no futebol há muito tempo. E o projeto também já foi feito a muito tempo.

No Brasil é assim. Simples. Nada fiscaliza e nada se faz. As licitações não saem, estádios não andam, outros sequer projeto tem. E os que tem agora podem ser mudados.

E a Fifa, que aprovou os projetos, deixa mudar assim. E ainda dizem que não houve influência política na escolha das cidades. Foi só análise dos projetos… sei…

Fifa que mandará no País até a Copa.

Fonte:
Blog Gol.

13 de julho de 2010

Fifa ignora caos aéreo e mantém elogios à África do Sul

Depois da crise na segurança, a última semana da Copa do Mundo de 2010 viveu um de seus problemas mais graves sobre gestão. O congestionamento das zonas de estacionamento do aeroporto de Durban provocou atrasos em voos e truncou o funcionamento do aparato. Nem isso, porém, foi suficiente para manchar a imagem da África do Sul para a Fifa.

Na última quinta-feira, a entidade promoveu entrevista coletiva em Johanesburgo para falar sobre saldos da Copa do Mundo de 2010. Assim como vinha fazendo em todos os eventos relacionados ao torneio, fez contundentes elogios à África do Sul e ao comitê organizador local (COL).

“Como presidente da Fifa, eu estou satisfeito demais. Quando o troféu for entregue às mãos de um novo campeão, tenho certeza que o que ficará é a imagem de uma excelente Copa do Mundo. Temos muitos fatores que comprovam isso”, disse Joseph Blatter, presidente da Fifa.

O dirigente usou diferentes argumentos para reforçar seus elogios à África do Sul. Sua explicação passou por temas como audiência, número de espectadores nos estádios e até o fair play: “Tivemos menos lesões nessa Copa, o que comprova que os atletas estão respeitando mais seus companheiros. Também não tivemos nenhum caso positivo de doping em todos os exames realizados antes e durante o torneio”.

Blatter também dividiu o mérito pelo sucesso da Copa do Mundo com todo o continente africano. “O povo daqui pode ficar orgulhoso e o futebol daqui pode ficar orgulhoso de tudo que foi feito na competição. É possível notar um grande esforço de todos os envolvidos”, encerrou o mandatário.

O discurso de ode à África do Sul também foi feito por dirigentes locais. Issa Hayatou, presidente da Confederação Africana de Futebol (CAF), estava no evento e reforçou as palavras de Blatter. A diferença é que ele retribuiu à Fifa o tom elogioso.

“Antes de a bola rolar, muita gente dizia que não seria possível fazermos a Copa. Houve erros, mas hoje eu posso dizer que nós fizemos. Antes mesmo da decisão, só posso agradecer a todos. Agradeço principalmente à Fifa, que teve a coragem de fazer a Copa do Mundo vir para a África”, disse o dirigente do futebol no continente.

Fonte: Máquina do Esporte.

12 de julho de 2010

Futebol e política: Hitler e o propósito nazista

Após a conquista de duas Copas pela seleção italiana durante o regime fascista de Benito Mussolini e sua aliança com Hitler que já comandava a Alemanha, o mundo se viu diante de um dos períodos mais negros da história da humanidade. A Segunda Grande Guerra estava prestes a eclodir e não havia espaço para o futebol. Não do jeito que costumamos vê-lo.

Der Arienparagraph

Em 1933, o futebol alemão já tinha sido atingido pelo anti-semitismo nazista, e os judeus foram proibidos de atuar nos clubes alemães, conforme determinava o Arienparagraph – “Parágafo Alemão”. A Alemanha perdia assim, muitos talentos, como foi o caso de Gottfried Fuchs, estrela dos Jogos Olímpicos de Estocolmo, em 1912, que marcou 10 dos 16 gols na vitória sobre a Rússia. Fuchs conseguiu fugir para o Canadá e livrar-se de Hitler.

Amistoso contra a Inglaterra

O regime nazista também se utilizou do esporte como forma de aproximação internacional, e se durante a República de Weimar, o país conseguiu realizar cerca de 20 encontros por ano, o regime nazista foi além chegando a 78 participações internacionais só em 1935. Um desses encontros deu-se com a seleção inglesa em dezembro do mesmo ano, no White Hart Lane, campo do Tottenham Hotspur, clube ligado à comunidade judaica inglesa. Claro que a chegada da seleção alemã nazista não foi recebida amistosamente, especialmente porque a Alemanha já outorgara leis anti-semitas, conhecidas como Leis de Nuremberg, que definia a essência racial de um legítimo alemão, tornando-a como base jurídica para a segregação dos judeus. Torcedores do Tottenham protestaram contra a realização de uma partida contra os nazistas, considerada como “uma afronta não somente à raça judaica, mas a todos aqueles que amam a liberdade“. A seleção alemã perdeu o amistoso por 3 a 0, e o único incidente que resultou em prisão, rolou dentro do estádio com a detenção de Ernest Woolwy, que desobedeceu às regras e empunhou uma gigantesca bandeira com a suástica nas tribunas do White Hart Lane.

Asbjorn, Isaksen e a fúria de Hitler com o primeiro grande vexame nazista

Seguindo o modelo de Mussolini, Hitler utilizou as Olimpíadas de Berlim como palco de demonstração da “grandiosidade” do regime nazista. Berlim fora transformada em sua arquitetura e sofreu melhorias em suas ruas, estradas e aeroportos. O Estádio Olímpico foi reconstruído com citações helênicas e abriu espaços enormes para a evolução de massa das SS, SA e Juventude Hitlerista. A abertura dos Jogos foi programada para dar ao mundo inteiro, a exata dimensão do Reich dos Mil Anos. Depois de 8 anos fora do calendário olímpico, o futebol voltava e foi pelos pés de Magnar Isaksen, um norueguês judeu e de seu técnico, Asbojorn Halvorsen, também judeu de origem, que a Alemanha foi eliminada dos jogos para aumentar mais ainda o ódio do Füher, que se retirou do estádio minutos antes de terminar a partida. No início da Segunda Grande Guerra, quando as forças de Hitler começavam a impor uma nova ordem européia, adversários esportivos como Asbojorn foram chamados para prestar contas. Seu destino era o campo de concentração em Alsace, nas proximidades de Hamburgo e aquele que fora um dos maiores jogadores de sua época, se resumia a um ser humano que pesava 40 kilos, acometido de tifo, desinteria e desnutrição.

Meses antes da Copa de 1938, a Alemanha já sob o comando de Hitler, anexou a Áustria aos seus domínios. O país passou a ser considerado território alemão naquilo que ficou conhecido como Anschluß ou Anschluss, desiginação alemã para conexão ou anexação. Assim, a Alemanha se utilizou de jogadores austríacos para ajudar na formação de sua seleção no mundial. Só por aí, a história do regime nazista com o futebol, começa com uma emocionante e corajosa demonstração de rebeldia e aversão ao propósitos de Hitler.

Por Hitler, não!

No dia 10 de fevereiro de 1903, nascia na Morávia, aquele que seria o exemplo de resistência ao mais sanguinário regime da história da humanidade. Matthias Sindelar mudou-se para Viena com os pais quando tinha 2 anos. Seu nome de batismo era Matěj Šindelář e começou a jogar futebol nas ruas da cidade. Em 1918 iniciou sua carreira pelo Hertha Viena e por lá permaneceu até 1924, quando se tornou jogador da equipe principal do Wiener Amateur, clube que deu origem ao Áustria Viena. Disputou a Copa de 1934 pela Áustria e por sua elasticidade, ganhou o apelido de “Homem de Papel”. Ajudou a seleção austríaca a se classificar para a Copa de 1938, na Itália de Mussolini, mas se recusou a defender a Alemanha. Antes do mundial, Áustria e Alemanha se enfrentaram no jogo de despedida da seleção austríaca e fiou combinado que o resultado do jogo seria um empate. A seleção austríaca parece ter deixado a inferior seleção alemã acreditar no resultado, quando Sindelar marcou o primeiro gol e comemorou efusivamente em frente aos oficiais alemães que acompanhavam o jogo da tribuna. O jogo terminou 2 a 0 para a Áustria. Sindelar nunca serviu aos alemães nazistas e foi encontrado morto junto com sua namorada no início de 1939. Sua morte foi dada como acidental por asfixia através de monóxido de carbono, mas por sua morte repentina e pela falta de testemunhas, evidenciou-se que o Homem de Papel morrera pelas mãos dos nazistas, especialmente por ter sido revelado posteriormente que Sindelar estava sendo investigado pela Gestapo (Polícia Secreta do Estado) que o taxou de “pró-judeu” e “social-democrata”. O nazismo perdia ali, o primeiro embate onde tentava utilizar o futebol como instrumento de imposição e fortalecimento de regime.

F.C. Start e o Jogo da Morte

O regime nazista utilizou o futebol para encobrir as dificuldades pelas quais as forças alemãs começavam a passar nos campos de batalha. O noticiário esportivo tratou de preencher espaços para evitar que a divulgação de notícias sobre o desgaste da máquina de guerra chegasse aos ouvidos dos aliados. Como as competições internacionais ficaram suspensas por conta da guerra, era primordial que diversas partidas fossem realizadas nos territórios dominados pelos alemães para que sua “superioridade” fosse efetivamente provada. Passando por cima do que ficou conhecido como “Pacto de Não Agressão” firmado com Stálin, Hitler invadiu Kiev e foi aí que provou o gosto amargo da vergonha. Com a dissolução das equipes Dinamo de Kiev e Lokomotiv pelos nazistas, vários jogadores de origem judia, foram “contratados” por Iosif Kordik, dono de uma padaria que era fundamental para o abastecimento da cidade, incluindo ai, as tropas nazistas. Nos momentos de “folga”, jogar futebol era a diversão mais que natural para os atletas e ali se formou o F.C. Start, o time que preferiu a morte a saudar Hitler. A equipe que representava a seleção alemã se chamava Luftwaffe, e era composta por oficiais da Força Aérea. Em agosto de 1942, foi marcado um jogo entre o F.C. Start e o Luftwaffe que ficou marcado como o Jogo da Morte – Macth Smerti. Antes do iniciar a partida, o juíz adentrou o vestiário dos ucranianos exigindo que os nazistas fossem cumprimentados à sua moda, ou seja, braços estendidos e a evocação “Heil Hitler!”. Após a saída do árbittro, os jogadores se reuniram e decidiram não reverenciar o invasor e no momento da apresentação das equipes, os jogadores do F.C. Start bradaram a plenos pulmões “FitzcultHura!”, o que significava uma tradicional saudação esportiva na União Soviética. No jogo, superioridade ucraniana: 5 a 1 para o F.C. Start. Inconformados com a derrota, os jogadores do Luftwaffe pediram revanche e três dias mais tarde ela aconteceu com nova vitória dos ucranianos: 5 a 3. Dias mais tarde a “Padaria Número 3″ foi invadida pela Gestapo e os jogadores do F.C. Start presos, levados para campos de concentração e oito deles foram executados meses depois. Há até hoje em Kiev, um monumento erguido em homenagem aos corajosos jogadores do F.C. Start.

A campanha futebolística do Füher não foi de toda má, mas não foi pelo futebol que o regime nazista impôs sua vontade. Dentro de campo, muitos opositores respeitaram a condição do jogo: somos todos iguais.

Fonte: Futebol para meninas.

11 de julho de 2010

O futebol como negócio e ideologia

Estamos em ano de Copa do Mundo e a mídia burguesa já retrata o maior acontecimento do futebol como um espaço em que não há diferenças raciais (em se tratando de África do Sul chega a ser um desrespeito), sociais e de classes. É o mesmo discurso de sempre. Mas, uma análise marxista não pode cair nesse discurso porque a Copa o Mundo, longe de ser um evento de esportividade, se insere na lógica do capital, ou seja, do lucro. Futebol não é mais paixão, é negócio, o que se expressa na idéia de que um clube, para se vitorioso, tem que ser empresa.

Em um evento de tamanha envergadura, o montante de dinheiro em circulação é vultuoso. A FIFA terá um renda de U$$ 3,5 bilhões no período de 2011-2014 só com a organização da Copa no Brasil. Para ajudar, a FIFA e a rede de TV que terá os direitos de transmissão terão isenção fiscal do Governo Federal. Mais dinheiro público.

Se os jogadores sequer se identificam com o país que juram amar, as empresas que "vivem de futebol" se identificam financeiramente muito bem com o futebol (e com outros esportes também). A região de Sialkot (fronteira do Paquistão com a India) é o local onde se produzem 40 milhões de bolas (costuradas manualmente) todos os anos (em ano de Copa do Mundo esse número sobe 50%) abastecendo parte importante do mercado mundial. Para se ter uma idéia do nível de extração de mais valia, cada trabalhador recebe entre U$$ 0,60 e U$$ 0,75 (Estadão de 21/04/2010) por bola costurada, e em um dia de 8 horas de jornada de trabalho costura-se no máximo seis bolas, com um salário mensal de aproximadamente R$ 205,00. Considerando que cada bola é vendida no mercado europeu por R$ 260,00 podemos fazer rapidamente as contas do tamanho da exploração: uma única bola vendida paga com sobras o salário de um mês de um operário paquistanês. Isso que é mais valia!

Como se vê por esse exemplo, tanto dinheiro na FIFA tem origem: a exploração dos trabalhadores, pois é desse lucro exorbitante que empresas como a Adidas (que é fabricante oficial de bolas para as Copas desde 1970) tiram dinheiro para o pagamento dos patrocínios, propaganda, etc. O capital já tomou conta de todos os eventos esportivos, descaracterizando-os completamente. Se as pessoas querem que seu país seja o campeão, para o capital o que determina se esse evento teve sucesso ou não é o tamanho da lucratividade. O esporte preferido do capital é a exploração.

Fonte:
Espaço Socialista.

10 de julho de 2010

O fim da patriotada nos pés dos mercenários da seleção brasileira

Após quase um mês de histeria midiática no país, a seleção brasileira de futebol foi eliminada nas quartas de finais da Copa do Mundo da África do Sul pela equipe da Holanda, perdendo o jogo por 2 a 1. Mesmo que a escrete de Dunga tivesse passado para outra fase, toda a ilusão em torno da Copa e seu significado para os trabalhadores obriga-nos a fazer uma necessária reflexão de classe: o futebol profissional há muito superou a categoria de esporte para se converter em um dos principais aparelhos estratégicos-ideológicos do modo de produção capitalista levados a cabo pelos grandes proprietários dos meios de produção.

Globalizado, desde o seu nascedouro – a partir dos clubes nacionais – o futebol brasileiro deságua na CBF até desembocar na Fifa, o esporte-indústria cimentou-se sobre uma estrutura mafiosa, cujos dirigentes remetem livremente a paraísos fiscais (empresas off-shore) grandes quantidades de capital para lavar dinheiro de negociatas, trambicagens, fraudes. A enorme quantidade de capital exportado serve para corromper e controlar sistemas obscuros de apostas clandestinas em todo o mundo (Falta! O mundo secreto da Fifa: subornos, compra de votos e escândalos com ingressos, Andrew Jennings, 2006).

Dentro desta perspectiiva, o mundo do futebol encerra em si mesmo um paradoxo: sendo uma “indústria” altamente rentável, globalizada, supranacional, inculca fortes sentimentos localistas, regionalistas e nacionalistas. Por isso, o clima “patrioteiro”, tão exacerbadamente difundido pela mídia burguesa na época das copas do mundo, não poderia ser outra coisa senão uma artificialidade, cuja essência não tem qualquer correspondência com os verdadeiros sentimentos nacionalistas de cunho progressivo. A caricatura de “nacionalismo” incentivada pela mídia e as grandes empresas transnacionais (!) serve apenas para euforizar e estupidificar as massas para que consumam produtos anunciados antes e durante a copa.

MERCENARISMO, CANELADAS, PISÕES, VIOLÊNCIA E BELICOSIDADE NO FUTEBOL COMO EXPRESSÃO DA IDEOLOGIA BURGUESA

“Patriotismo” e moderno futebol brasileiro são binômios irreconciliáveis. A começar pelo fato de quase todos os jogadores da seleção brasileira atuam fora do país, os quais são considerados no mercado como objetos de troca e venda nas mãos dos patrocinadores e empresários multinacionais, os que, de fato, mandam e desmandam na seleção brasileira e nas demais. Desta forma, jogadores trocam de camiseta a quem melhor lhes pagar cotas de patrocínios, salários, venda de imagem etc. Trata-se do que há de mais extremado no que tange a difusão do mercenarismo dentro do futebol, plenamente em correspondência às necessidades mercadológicas das grandes corporações capitalistas. Só para situar, tropas mercenárias estão sendo utilizadas em grande quantidade na guerra do imperialismo ianque contra o Iraque, Afeganistão e prepara o terreno para invadir nestes moldes o Irã.

A entidade máxima do futebol mundial, a Fifa e suas confederações, passa a desenvolver a filosofia da maximização do lucro a partir da copa de 1950, ou seja, vincular drasticamente o futebol à indústria do esporte. No entanto, foi na década de 80 do século passado que esta orientação se aprofundara através da comercialização milionária de jogadores em todo o mundo, os quais eram cotados inclusive nas bolsas de valores. O Brasil tornou-se um celeiro para o “Velho Mundo”.

Desde então o futebol brasileiro começou a ser europeizado, ou seja, a prática do uso excessivo da força, da correria e da violência em detrimento do futebol arte tão peculiar ao que o Brasil outrora praticava. Neste sentido, na copa da África do Sul o que predominou foi um festival de caneladas, pisões desleais, expulsões e notória falta de criatividade. Atitudes estas marcaram a atuação de Kaká, adepto da bispa Sônia da arqui-reacionária Igreja “Renascer em Cristo” e de “badboy” Felipe Melo que agrediram belicosamente seus adversários. Kaká foi belicoso até mesmo contra quem o criticava fora dos campos. Precisamente falando, foi o futebol pancada de resultados que vingou nesta copa, principalmente advindo do selecionado brasileiro dirigido por Dunga, um ícone do futebol truncado, defensivo e de resultados... péssimos resultados. Deslealdade, individualismo, competição, destruição sem criar nada de novo, estagnação (tediosa retranca armada pela comissão técnica) eis, em poucas palavras, o que representa a ideologia burguesa dentro dos campos de futebol.

O capitalismo tudo destrói de forma impiedosa. O futebol não poderia fugir à regra histórica da luta de classes. A atual lógica do mercado extirpa a alma do futebol, a alegria de jogar, a paixão e o espírito de coletividade. A “Era Dunga” matou soberbamente estas perspectivas grandiosas sob o signo do lucro de clubes e entidades corruptas. Por isso fomos eliminados nas quartas de finais...

Fonte: Liga Bolchevique Internacionalista.

Futebol de classe: a importância dos times de fábrica nos primeiros anos do século XX

Há várias décadas, o futebol é considerado o esporte mais popular do planeta, constituindo-se num dos maiores fenômenos de massa de todos os tempos. Na América Latina, a importância a ele atribuída alcança níveis extraordinários, tendo sido responsável até mesmo por guerras, como foi o caso do conflito envolvendo Honduras e El Salvador no ano de 19691.

Ao analisarmos a história dessa modalidade, constatamos a existência de equipes formadas a partir de diferentes origens. Elas podem estar ligadas a grupos étnicos: Vasco da Gama, Tuna Luso, Cruzeiro e Palmeiras (Brasil), Central Español (Uruguai), Audax Italiano e Palestino (Chile); cidades: Coritiba, Marília, Fortaleza, Caracas, Bucaramanga; personagens históricos: Bolívar e Jorge Wilsterman (Bolívia), O'Higgins e Colo Colo (Chile), Jorge Newberry (Argentina), Saprissa (Costa Rica), Juan Aurich (Peru); instituições de ensino: Universitário (Peru), Newell's Old Boys e Estudiantes (Argentina), Universidad Autonoma de Guadalajara (México), Universidad de Chile; bairros: Botafogo, Boca Juniors, Madureira, Campo Grande; e fábricas: Cruz Azul (México), Talleres de Córdoba (Argentina) e Bangu. Giulianotti (2002) afirma que o futebol moderno possui três formas fundamentais de identificação social: nação, localidade e classe (p.55). É exatamente a respeito do surgimento de um novo tipo de identidade de classe a partir do desenvolvimento do futebol no interior do ambiente fabril que nos dedicaremos no presente trabalho.

Iniciaremos com um breve histórico acerca da criação do futebol moderno e da sua rápida difusão pelo planeta. Posteriormente, analisaremos a sua chegada à América Latina, o estranhamento inicial por ele provocado, culminando na formação de uma Liga Contra o Foot-ball fundada pelo escritor Lima Barreto, e a resistência enfrentada por parte da militância anarquista e comunista. Por fim, estudaremos a importância que os times de fábrica tiveram não somente para o desenvolvimento do esporte, como também das sociedades locais, colaborando para a superação de barreiras raciais e sociais, e com a mudança nas relações de trabalho a partir do surgimento da figura do operário-jogador, uma espécie de transição entre o amadorismo e o profissionalismo.
Para tal, optamos por um estudo mais detalhado acerca do Bangu Atlético Clube, devido ao fato dele historicamente constituir-se no mais importante time de fábrica do país, por ter sido a primeira equipe a romper com a barreira da cor da pele no nosso futebol e por ser um marco numa nova perspectiva nas relações patrão-empregado no Brasil.

Assim sendo, não teremos a preocupação de percorrer a história do futebol brasileiro e latino-americano até os dias atuais. O nosso recorte temporal se limitará até o início da década de 1930, época da implantação do profissionalismo no nosso país, período áureo dos times de fábrica.

9 de julho de 2010

SporTV pede desculpas por ironias

O canal de esporte da rede Globo para televisão fechada SporTV pediu desculpas publicamente pela reportagem exibida no canal. No dia 1º de julho, a emissora passou um vídeo recheado de ironias e de preconceitos em relação ao Paraguai. O canal desdenhou a paisagem, a cultura e a economia do país. Até a população recebeu tratamento sarcástico: “Gente bonita e simpática desfila pelas ruas. Se você reparar nas fotos da Larissa (Riquelme), só tem ‘pitel’ junto no mesmo retrato”.

A reportagem provocou a ira dos paraguaios. Um dos principais jornais de Assunção, o La Nación, repercutiu o vídeo fazendo duras críticas ao Brasil, enaltecendo a vitória holandesa sobre a “soberba” brasileira. O texto questiona a rede Globo: “Terão humildade suficiente para a autocrítica ou seguirão com a hipocrisia por trás de seus grandes problemas, como o racismo, seus milhões e milhões de pobres, os assassinatos, o tráfico de drogas nas favelas do Rio de Janeiro e fazer crer que a Ciudad del Este é um oásis de contrabando?”

A SporTV, acudida pela péssima repercussão de suas palavras, fez uma matéria enaltecendo o futebol paraguaio e suas conquistas nas últimas Copas. Antes, o pedido de desculpa dado ao público, dito por um apresentador da emissora: “A gente aproveita esse momento para fazer um pedido de desculpas pela péssima maneira como o povo paraguaio foi abordado em reportagem exibida essa semana. Não foi nossa intenção ofender ninguém e nem é essa a linha de trabalho aqui do SporTV, que preza, é claro, pelo respeito a todos os povos”.

Fonte: Máquina do Esporte.

8 de julho de 2010

Mais um crime contra a mulher no futebol

Infelizmente, em meio à Copa do Mundo que faz bilhões de pessoas vibrarem em todo o planeta, o futebol é cenário de um caso revoltante de violência à mulher. O goleiro do Flamengo, Bruno, mais uma vez, é o protagonista de uma história que já era grave e chegou ao extremo por causa da impunidade. Ele é suspeito de matar e ocultar o cadáver de Eliza Samudio, com quem teve um relacionamento e um filho.

Eliza, 25 anos, está desaparecida há três semanas. Segundo amigas, ela teria ido passar uma temporada com o filho no sítio do goleiro, em Esmeraldas (MG). Bruno, com a ajuda de amigos, teria sequestrado a jovem e o bebê de quatro meses que seria filho do jogador. Eles teriam espancado Eliza até a morte e depois enterrado o corpo na propriedade do jogador.

A criança foi entregue a um terceiro pela esposa de Bruno, Dayanna Souza, que foi presa na sexta-feira e liberada em seguida. A pessoa depôs dizendo que tinha sido orientada a fazer o bebê desaparecer. O pai de Eliza já encontrou o menino e conseguiu sua guarda.

Esse não é apenas um episódio, mas mais um ato de um espetáculo de terror. A história de violência de Bruno com Eliza teve um crescimento gradual e podia ter sido interrompida.

Em outubro de 2009, Eliza Samudio, grávida de cinco meses, denunciou Bruno de tê-la sequestrado, ameaçado de morte, agredido fisicamente e apontado uma arma para a sua cabeça. Três amigos ajudaram Bruno. Ele a agrediu fisicamente.

Ela conta que Bruno dizia: “Eu não sei se te mato, não sei o que eu faço”. Ele queria que ela fizesse um aborto e tentou forçá-la a tomar Citotec, medicamento utilizado no tratamento de úlcera que pode provocar aborto. Ela recusou e ele a levou para o seu apartamento, onde lhe deu remédios sedativos e uma bebida que a moça não identificou.

Mesmo com as ameaças para que Eliza não recorresse à polícia – ele ameaçou matar a ela, à família e às amigas – ela recorreu à Delegacia de Atendimento à Mulher. O que aconteceu com Bruno? Nada. Continuou livre e, assim, confiante para levar à violência às últimas consequências.

Um crime previsível


O perfil do goleiro já era conhecido. Quando o então jogador do Flamengo Adriano – hoje no Roma da Itália – agrediu de forma selvagem a ex-namorada Joana Machado, Bruno deu uma entrevista coletiva, defendendo o colega. Justificando a agressão de Adriano a Joana, Bruno disse aos jornalistas: “qual nunca saiu na mão com sua mulher?”

No episódio, ocorrido em março, Adriano, Vagner Love, Bruno e Álvaro saíram de um jantar na luxuosa Barra da Tijuca e foram para um baile funk no Morro da Chatuba. Joana, então noiva de Adriano, foi atrás do craque para exigir satisfações. Joana atirou pedras nos carros dos jogadores, fato que foi mais destacado pela imprensa do que o que aconteceu depois.

Bruno, goleiro e capitão do Flamengo, conteve a moça aos gritos, quando ela se dirigiu ao seu carro, de forma nada gentil: “O meu carro você não quebra, não, sua puta”. Adriano tentou segurar Joana, que revidou. Ele não teve dúvidas: bateu na namorada, pediu aos traficantes que a expulsassem da favela e, caso ela resistisse, que a amarrassem numa árvore e a deixasse até o sol raiar.

O noticiário nacional tratou o caso como um “barraco”. Dois dias depois, a notícia era sobre a reconciliação do casal. Só uma sociedade doente e moralmente degenerada permite uma inversão dessas.

O que assusta é a naturalização como a violência à mulher é tratada. Só agora, depois desse filme de terror, Bruno foi afastado do Flamengo.

O carro de luxo, a mansão e a mulher

Há tempos que os jogadores deixaram de ser ídolos por causa de seu belo futebol, como foram Garrincha, Tostão, Pelé e tantos outros. Atualmente, a maioria deles é celebridade, como qualquer astro de Hollywood.

Com salários milionários, que um trabalhador não recebe numa vida inteira de suor, compram o que querem. E não são só os salários. É normal os mais famosos passarem mais tempo fazendo propagandas publicitárias do que treinando.

Para eles, a mulher é apenas mais uma coisa que eles podem comprar. É como a Ferrari, o Jaguar, o Lamborghini, a mansão na Europa, o apartamento de luxo na Barra da Tijuca.

Como ídolos, eles são referência para milhões de pessoas comuns, trabalhadores e jovens. Esses reproduzem suas atitudes. Os exemplos não faltam. Felipe Melo, volante da seleção brasileira, chamou a bola Jabulani de “patricinha que não gosta de ser chutada”.

A impunidade de Bruno e de outros jogadores e a falta de reprovação e condenação às falas machistas constantes autorizam qualquer homem a fazer o que bem entende com as mulheres, pois nada acontece com eles.

Para que serve a Lei Maria da Penha? Se já não funciona em tantos casos para as mulheres pobres denunciarem seus companheiros, menos efeito ainda tem sobre pessoas importantes, com um poder financeiro e social, como têm os jogadores. No caso Bruno, a lei sequer o intimidou.

Escrito por:
Luciana Candido do Opinião Socialita.

7 de julho de 2010

Tristeza não tem fim

Acabou-se a Copa do Mundo. Pelo menos para os brasileiros e argentinos, após a derrota de ambas as seleções diante da Holanda e Alemanha, respectivamente. Minha primeira análise destas derrotas esportivas será, precisamente, “esportiva”. Ou mais exatamente “psicológico-esportiva”.

Ainda que entrem vários outros fatores, acho que em ambas as derrotas há a responsabilidade dos dois técnicos. Dunga e Maradona são dentro do campo de futebol (e seguem sendo) dois técnicos, duas personalidades opostas. Inclusive parecem ser opostos em suas opiniões sobre temas políticos. Neste último sentido, é muito provável que Maradona seja visto com muito mais simpatia pelos ativistas de esquerda.

No entanto, apesar das diferenças, ambos têm uma característica comum: os dois são soberbos e personalistas ao extremo. E essa característica foi impressa em suas equipes, apesar de que isso (como não podia ser de outra maneira) tenha se expressado em erros bem diferentes entre as duas equipes.

Dunga atou a seleção brasileira a uma confusa “táctica de jogo”, e assim matou a criatividade natural do jogador brasileiro. Em um jogo que o Brasil estava ganhando, com uma equipe jogando muito melhor do que a Holanda, ao invés de pedir a seleção brasileira para continuar atacando, Dunga mandou jogar atrás, de contra-ataque, e assim permitiu a reação da equipe holandesa. Esclarecemos que a Holanda de hoje não é a “laranja mecânica” dos anos 1970. Parece mais com um “limão mecânico”, por seu escasso vôo futebolístico individual. Mas teve força e vontade suficiente para virar a partida.

Maradona, por sua vez, igual aos tempos em que era jogador, apostou todas suas fichas na criatividade individual dos jogadores, sem nenhuma consideração pela táctica nem a adaptação necessária diante de diferentes rivais. Contra a Alemanha, pretendeu jogar da mesma forma quando enfrentou a Coréia do Sul. Manteve uma defesa frouxa e deixou Mascherano sozinho no meio para marcar todos os alemães que passavam por aí, na velocidade de um Porsche. Uma tarefa que nem Patoruzú (1) poderia cumprir.

Poderá se alegar a favor de Dunga que seu ciclo, considerado globalmente, foi muito exitoso. Mas isso não impediu que perdesse uma partida fundamental diante de um rival um pouco mais que medíocre. E, o mais importante, a seleção nunca jogou do jeito que os brasileiros gostariam de vê-la. Poderá se alegar a favor de Maradona que sua aposta foi a favor de um futebol vistoso. Mas isso não impediu que a equipe argentina diante da Alemanha se assemelhasse à cavalaria polonesa enfrentando aos tanques alemães na Segunda Guerra (2).

Países exportadores de matérias primas


Minha segunda análise vai ser político-econômica. Na atual estrutura de nações, Brasil e Argentina são países semi-coloniais, cujo papel essencial na divisão internacional de trabalho é ser provedores de matérias primas para os países imperialistas. Este papel repete-se neste “show business” que representa o futebol mundial.

Nas praias e morros do Brasil, nos pampas e “potreros” (3) da Argentina formam-se muitos dos jogadores que, depois, vão brilhar nos torneios do imperialismo futebolístico dominante; isto é, o europeu. Os contratos e salários do campeonato espanhol, italiano, inglês ou alemão são muito superiores aos que se pode pagar por estas terras. Assim o destino inevitável de todo bom jogador sul-americano é emigrar para a Europa. Desta forma, a estrutura do futebol repete o mesmo “saque de recursos naturais” que se produz em outros ramos da economia.

A ilusão da “igualdade”


Mas a cada quatro anos a Copa do Mundo produz uma ilusão. Os países europeus nos “emprestam” esses jogadores para armar nossas equipes de futebol “nacionais” com possibilidades de vencer as seleções europeias. Até hoje, pelo menos metade das Copas disputadas foram ganhas por seleções sul-americanas. Assim, se alimenta a ilusão de “recuperar”, pelo menos no terreno do futebol, parte do que o imperialismo nos rouba quotidianamente.

Mas os dois últimos mundiais parecem querer acabar inclusive com esta ilusão. Muito se falou (apressadamente) de que este era o “mundial sul-americano”. Mas, nos três confrontos com equipes européias, os sul-americanos foram eliminados. Como diz a formosa canção de Vinicius de Moraes, “Tristeza não tem fim”.

Claro que o Uruguai ainda segue defendendo a “honra sul-americana”, e suspeito que a “celeste” tenha hoje a maior torcida virtual do planeta: mais de 500 milhões de latino-americanos clamando pela “vingança” frente aos europeus.

NOTAS


(1)Patoruzú foi um famoso personagem dos quadrinhos argentinos que representava um índio tehuelche de excepcional velocidade e força.

(2)Em 1939, o exército alemão invadiu a Polônia, com as armas mais modernas da época, entre eles os tanques Panzer. O exército polonês resistiu com meios muitos mais obsoletos como sua força de cavalaria e foi derrotado.

(3) “Potrero” significa literalmente “lugar onde pastam e descansam os potros”. Por extensão, é o lugar onde se jogam partidas de futebol improvisadas, como as “peladas” no Brasil


Escrito por: Alejandro Iturbe.

1 de julho de 2010

Dunga e as estruturas de poder do futebol brasileiro

Subindo a escada já no último degrau

Carlos Caetano Bledorn Verri atende pela alcunha de Dunga e recebeu uma oportunidade rara sob todos os pontos de vista. Temos de reconhecer que nenhum trabalhador, de ofício algum, seja ele ou ela classista ou arrivista identificado pelo selo de “profissional”, jamais inicia sua trajetória no mundo do trabalho pelo topo e consagração em sua carreira. Nem mesmo os mais críticos contra a marketização, inimigos viscerais da ampliação dos espaços de mercado na sociedade – como este aqui a escrever – vão admitir um neófito dar o primeiro passo a partir do posto máximo imaginável. Dunga, que justiça seja feita mais se parece com o anão zangado, atingiu o topo do mundo sem subir degrau algum. Jamais treinara nem sequer time de futebol de botão (outro patrimônio cultural dos povos brasileiros) e começa a coordenar a seleção mais cultuada do planeta.

A Confederação Brasileira de Futebol é uma entidade privada, supostamente federalista, mas na prática reflete um poder executivo quase imperial de seu presidente. Assim o foi na Era João Havelange (quando ainda havia a CBD), e após o mesmo passara com o almirante Heleno Nunes. Vale observar que este naval fora o “gênio” que forçou o capitão de artilharia do Exército e egresso de sua Escola de Educação Física, Cláudio Coutinho, a deixar o Falcão no Brasil e escalar o volante do São Paulo, Chicão, para a Copa de 1978 na Argentina. Dizem os porões que o volante são paulino era cutuado com um “Deus da Raça” do DOPS. Não me espanta. Seguindo na trajetória da entidade, já como CBF, houve a vexatória dupla de comandantes políticos, Octávio Pinto Guimarães e o então deputado Nabi Abi Chedid; culminando no Reinado de Ricardo Teixeira, o ex-genro (de Havelange). Este operador da Bolsa de Valores, amo e senhor da estrutura máxima do futebol identidade do país, atingiu o poder em 16 de janeiro de 1989.

Já naquele hoje distante primeiro ano à frente da entidade, indicara o ex-preparador físico do Flamengo e recém iniciado treinador de futebol, Sebastião Lazaroni, que recebeu o comando da seleção. Na seqüência, o gênio da CBF queima a carreira de Paulo Roberto Falcão como técnico, colocando-o na fogueira da Copa América do Chile. Neste caso, o de Dunga, o padrão se mantém. Ricardo Teixeira indica alguém com trajetória vencedora dentro das quatro linhas, uma pessoa com a marca da seriedade e empenho no trabalho, mas sem nenhuma experiência prática. Independente de valorarmos ou não o trabalho de Dunga (e me incluo nos críticos), um analista político tem como dever interpretar que fatos assim só ocorrem em organizações quase autocráticas, quando um Executivo “manda prender e manda soltar”, ou “bate, prende e arrebenta”, seguindo apenas os seus próprios critérios. Ou seja, desde que atenda os anseios dos aliados empreendedores econômicos do negócio da bola, o Presidente Imperador faz o que quiser.

Para quem imagina que exagero, basta uma lembrança. Indicar Dunga para a seleção brasileira sem nunca haver treinado nem time de pelada varzeana, é a réplica do padrão do ocorrido na noite anterior da final da Copa do Mundo de 1998 e que resultara na escalação de Ronaldo Nazário fora de toda e qualquer condição de jogo. Posteriormente o fato rendeu, gerando a CPI da Nike e da CBF, cujos relatórios foram velados e o livro escrito por um de seus relatores teve a edição apreendida das livrarias e distribuidoras. A bancada da bola, a cartolagem com mandato federal ou amizades planaltinas, é poderosa. Por estes e outros fatores, seria inimaginável supor que Dunga não tenha (ou tinha) uma boa relação com a diretoria da Confederação em geral e com seu presidente em particular. Este ato, relacionado com o padrão de jogo por ele imposto, mais a pregação da “ideologia da superação” e a abundância de patrocinadores, conforma um cenário perfeito para taxar Dunga e Jorginho de chapas-branca e subordinados.

Não seriam os primeiros tampouco. É o padrão da CBF (como na antiga CBD) e que muito poucos dele discordaram. Um exemplo máximo é o eterno saudoso João Sem Medo Saldanha, alegretense e gaucho sem acento, de outra estirpe, distinta do natural de Ijuí. Ou seja, qualquer pessoa com um mínimo de senso de rebeldia e dignidade, tem razões e motivos para discordar e até antipatizar com Dunga, seus métodos e aliados. O que ninguém esperava era a reação deste treinador para com a emissora líder da TV brasileira.

O entrevero de fundo

Assim como tenho diversos motivos para não suportar o técnico da seleção brasileira (por fatores futebolísticos mais que nada), confesso que me surpreendi com sua reação perante a TV Globo e ao vivo. Explico. Não foi a primeira vez e pelo visto nem será a última situação em que Carlos Caetano colide de fronte com a mídia comercial, oligopolista e corporativa brasileira. No caso dos conglomerados midiáticos nacionais, boa parte de seus funcionários na função de repórteres “apanharam” (na gíria jornalística) em coletivas e demonstraram indignação posterior. O silêncio de sempre vinha da amiga e parceira de Ricardo Teixeira, as Organizações Globo. Não me recordo de um ato de solidariedade desta emissora para com os colegas empregados nas concorrentes. E, grosserias sempre foram manifestadas pela dupla da comissão técnica em posto de comando. Sim, pois além de Dunga, Jorge de Amorim Campos sempre se indigna com as críticas e levanta a voz, repudiando as supostas posturas antipatriotas de coleguinhas da imprensa os atacando.

É preciso tecer algumas considerações:

Ninguém pode ocupar um posto de exposição pública e sentir-se imune às críticas. Assim, quem senta diante de uma roda de repórteres corporativos com um painel de patrocinadores atrás, tem uma previsão de comportamento estudado, trabalhado através de media training e decorando respostas água com açúcar, reforçando o senso comum, condensando idéias de consentimento forçado e ausentando-se de polêmicas. Ao menos nisso, segundo meu ponto de vista, Dunga se porta bem.

Carlos Caetano tem o dever de ouvir opiniões alheias e respeitar todas as formas de críticas. Ao mesmo tempo, não tem nenhuma obrigação de reconhecer um mandato societário da mídia corporativa. Os repórteres falam em nome de suas empresas, seus produtos irão para uma grade montada sobre um modelo de negócios e tudo está entreverado com entretenimento. Já resta pouca ou quase nenhuma vocação de jornalismo como paladino da cidadania na mídia corporativa esportiva brasileira e mundial. A liberdade de imprensa defendida por editores e patrões, é a liberdade de empresa. Quem mais executa a censura são as chefias a mando de anunciantes ou sócios majoritários. Os bastidores do futebol brasileiro revelam um nexo político-financeiro-criminal e até os adolescentes sabem disso. O padrão é o mesmo em poderosas ligas estrangeiras, como a inglesa, onde tem tudo menos capital inglês controlando seus clubes-empresa. Esse é o pano de fundo e é muito mais relevante do que a possível operação pubiana do marido da obispa Caroline Celico, operadora midiático-financeira da “Igreja” Renascer em Cristo no Estado Espanhol, o meio campista Ricardo Izecson dos Santos Leite (Kaká).

Nesse sentido entendo que Dunga está no seu direito, tanto o de reagir como bem quiser (e sentir as conseqüências da ação) diante de provocações de toda ordem. O exercício arbitrário das próprias razões até crime é, mas de peso leve, de tipo crime de honra. Não havendo violência gratuita, ele que reaja como bem entender e que sirva de lição. A gritaria é ampla: “O técnico da seleção não é um modelo de comportamento!”. É verdade; mas a crítica sobre ele se dá na relação de seu temperamento com os anseios de exposição midiática para atender as cotas de patrocínio e a figura de relações públicas que a bola como negócio exige de suas estrelas. Certa vez afirmei serem os boleiros de dimensão internacional uma espécie de commodity que anda, fala e faz besteira com a própria reputação e a alheia. Sob esse ponto de vista, Dunga é um desastre andante e falante. Para mim, nesse item, Carlos Caetano fez um golaço, lavando a alma na peleia simbólica de milhões de brasileiros.

Já da parte da Globo, a irritação tem sua origem na proibição de exclusivas e no fim de privilégios em zonas mistas especiais. Em 2002 a emissora transmitiu a Copa sozinha e no desastre de 2006, teve “concorrência” apenas na TV paga através do Band Sports. Na ocasião, Carlos Caetano era funcionário da família Saad e comentava a Copa da Alemanha para a concorrente da família Marinho. Aprendeu na planície a dureza que é enfrentar uma tropa completa estando em minoria. Deve ter visto poucas e boas também; afinal, estamos na era do jabá eletrônico e das estruturas de poder atravessadas pelo marketing e o comércio de imagens. Sabendo disso, atormentado com as reclamações vindas por cima (entre direções), Dunga se estourou diante da humanidade através das telas de TV.

Além da irritação da TV líder pela perda dos privilégios que sempre tivera, também consta o fato do exagero de treinos fechados. Os repórteres afirmam que assim eles não conseguem produzir “conteúdo” para alimentar as redes. Essa é uma meia verdade. A outra ponta é a captura de imagens das placas dos patrocinadores. Exposição de imagem é a moeda de troca do emprego de dinheiro em troca da estampa das logomarcas nos uniformes de treino e jogo, além das peças publicitárias, utilizadas pelos jogadores da seleção. Sem essa cobertura, Dunga ganha no controle do grupo, mas ao mesmo tempo diminui a satisfação dos aplicadores no seu investimento comum. Por estas duas brigas simultâneas, é do senso comum que o atual treinador tem seus dias contados, tanto diante de uma possível eliminação e mesmo saindo campeão do mundo.

A estrutura de poder do futebol brasileiro passa por quatro patas basilares e não tolera muita divergência. São elas: a geração e venda de imagens (via TV, e recentemente via TV paga, como nos canais Premiere Futebol Clube, pertencente da Globo via cabo e satélite); a negociação de direitos econômicos de jogadores (onde operam investidores e milionários mais reconhecidos, tendo ou não uma empresa laranja à frente, a exemplo da MSI); a negociação de direitos de imagens e publicidade (onde lidera a co-proprietária do futebol nacional, a empresa Traffic de J. Hawilla, patrão de Kleber Leite por exemplo) e; a comandância mais tradicional pela via da cartolagem, como é o caso de Ricardo Teixeira. Nenhuma dessas quatro partes sustenta ou tolera um comportamento independente e autonômico, mesmo que expresse um pensamento conservador e patrioteiro, ainda que tenha a sua imagem vinculada a uma série de patrocinadores de grosso calibre. Uma commodity não pode gerar incerteza no investidor. Dunga gera, e por isso, com o perdão do trocadilho, que ele – ganhando ou perdendo - já era.

Comentário final

Dunga e Jorginho passaram do limite de boa convivência com a mídia corporativa e isto acarreta uma sentença punitiva. Não nos espantemos se estiverem preparando matérias de fôlego, cujas pautas de gaveta já devem inclusive estar prontas, e apontando no lide a fritura do atual técnico da seleção.

Ao mesmo tempo, reafirmo que simpatizar com a atitude de Dunga diante da mídia corporativa não implica uma adesão nem ao seu estilo de jogo (que considero medíocre e medroso) e menos ainda uma defesa de sua permanência no cargo. Isso sim seria misturar futebol com política, elogiando um comportamento rebelde e a partir daí reconhecendo uma suposta expertise como treinador – característica que não reconheço de jeito algum. Podemos e devemos elogiar a conduta diante de um dos poderes de fato do país e não respaldar o desempenho no ofício que exerce. Tal é o caso.

Vejo que o episódio abriu precedente e pode e deve ser repetido sempre que alguém sentir-se acuado diante da indústria da mídia. E, por se tratar de futebol, a incidência e seu efeito didático são imensos. Cabe aos batalhadores da democracia na mídia como dos intérpretes e analistas do oligopólio trabalhar o fato para além do episódico e pontual. Se redescobertas e postas à público, as estruturas do futebol brasileiro são insustentáveis sob nenhum ângulo. Eis um bom momento.


Fonte:
Site Estratégia e Análise.