Datado de 2005, Abdias Campos, escreveu Racismo no Futebol, onde discute o racismo e preconceito no futebol, motivado por fato real entre jogador brasileiro e argentino. A capa traz uma xilogravura de Dila, de Caruaru/PE.
RACISMO NO FUTEBOL
Autor: Abdias Campos
(1)
Neste folheto de versos
Minha homenagem singela
Aos jogadores negros
Que sofrem com a mazela
Do racismo inoportuno
De decadente tabela
Vamos fechar a janela
Na cara dessa vergonha
Combater com veemência
A atitude bisonha
do racismo que apregoa
A jogada mais tristonha
Em todo canto do mundo
Tem-se ouvido um grito só
Do gramado à arquibancada
O campo de futebol
Virou palco de racismo
Que chegamos a ter dó
(2)
Dó de saber qu’inda há
Dentro dos seres humanos
Esses sentimentos podres
Que provocam desenganos
Quando nos julgamos mais
Mais nos tornamos insanos
Jogam bananas no campo
Quando o negro jogador
Pega a bola e vai
Com seu jeito driblador
Encantando aos que sabem
Quais os meandros do amor
A vida não pede cor
Para aquele ou para aquela
A quem pintou nesse quadro
A mais bonita aquarela
Trazendo a arte da bola
Por entre as traves da tela
(3)
Entretanto esta querela
Da cor da pele da gente
Parece ter importância
Para muitos que a mente
Infelizmente parou
Nada enxergou pela frente
Tem francês na Inglaterra
Brasileiro na Espanha
Tem negro por toda a parte
Que com sua arte assanha
A sanha dos infelizes
Matizes da artimanha
Aqui, os vizinhos nossos
Nossos irmãos argentinos
Coitados parecem cegos
Em seus loucos desatinos
Confundido entre as cores
“Los irmanitos bambinos”
(4)
Chamam Grafite de negro
Negrito sim, sim sinhô
Negrão que é bom de bola
Exemplo de jogador
Que tem o vício de ser
Um grande goleador
Mas quem repara na cor
Para se posicionar
Dificilmente consegue
A outro identificar
Tenta vê, mas não há luz
Para que possa enxergar
Somos irmãos uns dos outros
Preto, amarelo, branquinho
O preconceito, sim, erra
Por desviar o caminho
Nunca acertará o gol
Porque só joga sozinho
(5)
Quem pensa que é maior
Sofrerá a queda imensa
Pois sua alma flutua
Numa camada suspensa
Sem base nenhuma vive
A mercê dessa doença
Futebol arte do povo
Para o qual foi coroado
Um negro que até agora
Não pode ser igualado
Em virtude do que fez
Quando esteve no gramado
Como é que então essa gente
Comete tanta asneira
E ainda assim consegue
Repetir essa besteira
À frente de autoridades
Que não saem da cadeira?
(6)
Mas houve uma vez primeira
Foi um homem/delegado
Que pôs a mão num sujeito
Jogador intitulado
De xerife na Argentina
Que perdeu seu rebolado
O dito foi acusado
De racismo em pleno jogo
Tentou se sair por cima
Mas acabou com o fogo
Quando se viu enjaulado
Sob a custódia do rogo
Esses processos deviam
Ser de fácil conseqüência
Agrediu com preconceito?
Depois de tomar ciência
A justiça prescrevia
Receita de consciência
(7)
Ao invés de uma prisão
Entre paredes escuras
Essas pessoas, por lei
Que atingissem criaturas
Teriam que aprender
A viver suas culturas
Seus costumes ancestrais
Suas danças, a comida
Seus cantos e vestimentas
Seus sotaques, sua lida
Seus motivos de alegria
A sua dor contraída
Levariam-na a um quilombo
Um gueto remanescente
Entregaria ao chefe
Um conselheiro da gente
Que se perde quando fala
Mas se cala quando sente
(8)
Deixaria o meliante
O tempo que precisasse
Até ele alcançar
A transformação da face
Ao invés do preconceito
A este ele rejeitasse
No futebol, na escola
No campo e na cidade
Na beira-mar, no Sertão
Que a nossa felicidade
Seja de ter nosso irmão
No mesmo pé-de-igualdade
Racismo: cor da maldade
Do infeliz que o conduz
Ainda bem que existe
Pela remissão da cruz
Perdão à quem se arrepende
Pela graça de jesus.
Fonte: http://www.camarabrasileira.com/cordel02.htm
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