24 de novembro de 2010

Eric Cantona convoca boicote aos bancos


Estudantes e funcionários públicos em toda a Europa que se preparam para um longo inverno de protestos e manifestações acabam de receber ajuda de peso de Eric Cantona, jogador de futebol afamado e modelo arquetípico de rebelde.

Aos 44 anos, o ex-jogador recomendou corrida massiva aos bancos mundiais, em entrevista a um jornal, filmada também para ser exibida pela televisão. A entrevista virou sucesso imediato no YouTube e já desencadeou vasto movimento político (em http://www.youtube.com/watch?v=-Uop5R7E314).

Cantona começou por intervenções de ação direta dentro e fora das quatro linhas. Em 1995, foi punido com nove meses de suspensão, quanto atacou com um golpe de caratê, no Crystal Palace, um espectador que gritou slogans racistas contra um jogador, depois de ter sido expulso (no detalhe da foto ao lado). Agora, solidário ao protesto dos franceses, o já aposentado Cantona prega abordagem mais radical e mais sofisticada para forçar melhores condições de negociação.

O jornal regional Presse Océan em Nantes perguntou a Cantona sobre seu trabalho social com a Fundação Abbé Pierre, que faz campanha por moradia para os pobres e para a qual produziu um livro de fotografias no ano passado. A discussão rapidamente tomou outro rumo e o entrevistador comentou as manifestações de rua na França e em toda a Europa contra os cortes nos investimentos governamentais na melhoria da assistência aos cidadãos, na atual 'nova era de austeridade'.

Cantona, usando uma brilhante jaqueta vermelha, disse que os protestos, como estão sendo feitos, jamais trarão qualquer resultado. Cartazes e palavras de ordem já não mudam nada. Em vez disso, os manifestantes poderiam provocar verdadeira revolução social e econômica, se sacassem todo o dinheiro que todos têm depositado nos bancos.

Disse Cantona: "Não acho que alguém possa sentir-se completamente feliz, vendo a horrível miséria que nos cerca. A não ser que você viva numa redoma. Sempre há alguma coisa que qualquer um pode fazer. De qualquer modo, sair às ruas já não resolve problema algum. Há outros meios para fazer as coisas andarem melhor.

"Tampouco acredito em pegar em armas e sair matando gente, para iniciar a revolução. De fato, a coisa hoje ficou até muito mais fácil do que antes. Qual é a base sobre a qual todo o sistema foi construído? Todo o sistema está hoje construído sobre o poder dos bancos. Portanto, o sistema só pode ser modificado ou destruído se modificarmos ou detruirmos os bancos.

"Se as três milhões de pessoas que levaram seus cartazes para as manifestações de rua fossem ao banco e sacassem todo o dinheiro que têm depositado lá, os bancos entrariam em colapso. 3 milhões, 10 milhões de pessoas sacando todo o dinheiro que têm depositado em bancos é movimento civil, de que qualquer um pode participar sem medo de represálias. E começaríamos uma revolução.

"Bastaria que cada um fosse ao banco e sacasse todo o próprio dinheiro. Não é difícil. Em vez de ir para as ruas, ou de dirigir quilômetros para participar das manifestações na capital, cada um vai ao próprio banco, na cidade e no país em que estiver, e saca o próprio dinheiro. O dinheiro fica na mão do seu legítimo proprietário e os bancos desmoronam. Serviço limpo. Sem armas, sem violência, sem sangue."

E concluiu: "Nada de complicado. E, imediatamente, os bancos passariam a ouvir de outro modo os cidadãos. Sindicatos? Quem pode reivindicar alguma coisa, com medo de ser demitido? Os sindicatos precisam entender melhor o mundo."

A ideia de Cantona parece ter tocado ponto sensível em muitas cabeças e gerou resposta imediata. Mais de 40 mil visitas imediatas ao filme no YouTube e um movimento francês (StopBanque) imediatamente começou a divulgar campanha para saques massivos, coordenados, de vários bancos, todos no dia 7/12 próximo. Até agora, mais de 14 mil pessoas já se comprometeram a sacar. O movimento agora começa a ser divulgado na Grã-Bretanha.

O trio de usuários do Facebook que agora organizam a campanha em toda a Europa, já convocaram o saque geral. "Nós controlamos os bancos, não o contrário", escreveram.

O documento-manifesto do movimento, pode ser lido na página Bankrun2010.com , onde se lê:

"Nosso movimento pode ser mais bem-sucedido do que podemos imaginar. É movimento popular (...) e não atacamos nada e ninguém em particular, além do sistema criminoso, corrupto, moribundo ao qual decidimos resistir pelos meios que temos, dentro da lei."

O documento é assinado por Géraldine Feuillien, 41, cineasta belga, e Yann Sarfati, 24, francês, ator e diretor de cinema.

Sarfati e Feuillien disseram que só pensaram em divulgar o clip de Cantona, mas, de repente, viram-se no meio de um moviemtno global de cidadãos". (...) "Não somos anarquistas nem ligados a partido político ou sindicado. Apenas entendemos que é outro modo de protestar."

Sarfati acrescentou: "Entre duas gravações de anúncios para a L'Oréal, Cantona achou jeito de deixar falar seu lado revolucionário. O sujeito vive bem, mas evidentemente tem consciência social. Pareceu-me sincero."

Guardian

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