4 de dezembro de 2007

Torcidas de futebol se unem para falar de política

Debates políticos e faixas no estádio clamam por maior consciência do torcedor

Futebol e política se misturam para algumas torcidas organizadas no Brasil. Seus dirigentes acreditam que a consciência política pode substituir o ímpeto de violência de membros dessas entidades, que associaram o clima nos estádios a um ambiente de vandalismo e criminalidade.
Um exemplo é a Fúria Andreense, do Santo André, fundada em 2000. Desde sua criação, a torcida não teve nenhuma ocorrência policial. Seu presidente, Renato Ramos, no cargo desde 2004, tem promovido debates políticos, palestras e atividades com a entidade, muitas vezes na sede do PC do B local, partido em que Ramos é filiado.
Ramos, entretanto, deixa claro que a torcida está aberta a qualquer corrente política, desde que o novo integrante venha com o intuito de contribuir para um debate construtivo. Em muitas ocasiões, torcedores se reúnem na sede do partido para pesquisar na internet, ler os jornais do dia e conversar sobre questões relevantes para a sociedade.
O futebol promove uma das maiores concentrações de massa no Brasil e no mundo. A formação política e a identidade do povo brasileiro no geral ainda precisam evoluir e nada melhor do que a presença nos estádios como um instrumento para isso”, observou Ramos, 23 anos, estudante de Administração de Empresas na UNIA, de Santo André.
Segundo ele, toda a descrença no Brasil em relação à política, devido a escândalos de corrupção e à desigualdade social, pode ser modificada através do futebol. “Esse esporte é um meio eficiente para que o povo volte a acreditar na política como algo viável para o país. Hoje muitas vezes vemos torcedores vinculados a algumas entidades – não todas – que não têm controle e acabam produzindo violência, desgraça e mortes. Por que não transformar essa energia para lutar pelo fim da corrupção, por melhorias no país e com isso ajudar a diminuir a própria violência através do futebol?

FAIXA PROIBIDA

No Ceará, a torcida Ultras Resistência Coral, do Ferroviário Atlético Clube, tem postura semelhante. Sua mensagem, entretanto, foi mais além, quando seus dirigentes passaram a colocar uma placa de teor político nos jogos da equipe no estádio Presidente Vargas. Com os dizeres “Nem guerra entre torcidas, nem paz entre classes”, a torcida assumiu uma identidade socialista e comunista, o que provocou uma reação da Tropa de Choque local.
Desde 2006, a polícia vem impedindo a colocação da faixa, ato que a torcida insiste em repetir. E toda vez que a faixa é colocada, logo é retirada por ordens das autoridades. Em janeiro de 2007, segundo Renato Ramos, que tem contatos com a Ultras, a Tropa de Choque fez a advertência de que não permitirá mais referências ao comunismo nas laterais do campo.

Fonte: Eugenio Goussinsky
Cidade do Futebol

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