Antes de falarmos sobre o uso do futebol para fins políticos, vale dar uma rápida explanada sobre onde e como surgiu a prática política. Estudos indicam que a política surgiu basicamente após o surgimento das cidades, tendo como ponto de partida, a Grécia Clássica, num período da história onde os homens começaram a trocar o pensar mítico pelo pensar racional. Trataremos cada caso separadamente, para que cada aspecto da utilização do futebol como material de fortalecimento de governos, seja bem explicado e conhecido.
Mussolini e o futebol

Nesta mesma época, o calcio rivalizava e disputava espaço no gosto da população com a volata, modalidade que misturava futebol e rugby e que fora inventada por Augusto Turati, uma das figuras-chave do fascismo. A intenção era provar que a volata era um esporte genuinamente italiano, que os ingleses degeneraram com uma infinidade de regras, porém a volata não durou por muito tempo, caindo no esquecimento por volta de 1933.
Atento, Benito Mussolini tratou de assumir os encargos para sediar a Copa do Mundo de 1934, modo pelo qual o Estado Fascista viu chance ímpar de fortalecer uma infinidade de metáforas belicistas, perfeitamente aplicáveis aos valores do regime. Imediatamente após a confirmação da realização do II Mundial de Futebol na Itália, Mussolini tratou de vincular a conquista ao sucesso dos dez anos de regime fascista. Para a propaganda do Mundial, uma das imagens de cartazes, era a de um jogador com a bola no pé e a típica saudação fascista.
O governo fascista começou a cosntrução de grandes templos esportivos bem antes de pensar em sediar o Mundial. Em 1927, era inaugurado o Littoriale, em Bologna. Em Roma, em 1928, foi inaugurado o Estádio do Partido Nacional Fascista. Em 1929, foi a vez do Il Testaccio di Roma, mais conhecido como giallorossi, por ter suas arquibancadas pintadas de amarelo e vermelho. Esta foi uma das primeiras obras do fascismo a receber a benção da igreja católica.
Em 1932, era inaugurado o Stadio del Littorio, em Trieste. Ainda foram construídos o L’Ascarelli di Napoli e Il Comunale di Torino, que por ser o mais imponente complexo esportivo do país, logo passaria a ser chamado de Benito Mussolini.
O Mundial
A abertura do Mundial demonstrou o quanto o povo apoiava Mussolini e o quanto a sua “preocupação” com o calcio, com a construção de estádios e mudanças nas regras para jogadores estrangeiros, elevariam o status do regime fascista. Apesar do prestígio alcançado especialmente com a presença do Duce em todos os jogos, a Azurra não teria um caminho fácil e, ficaria evidente que o preparo físico era fundamental para seguir adianta na competição. Com um regulamento que previa jogos no dia imediatamente posterior, caso uma partida terminasse empatada, a cada jogo da Azurra, era um bombardeio de propaganda fascista, utilizando amplamente os símbolos nacionais, como o uniforme preto, a bandeira e o hino, além da presença do Duce em todos os jogos da seleção italiana sempre comemorando cada vitória da Azurra com os “camisas-negras”.
Jogos marcantes Copa de 34
Italia x Espanha – Jogo de 210 minutos onde o herói da partida foi Giuseppe Meazza, autor dos gols da vitória que foi retirado de campo desmaiado. Uma das maiores demonstrações do espírito de sacrifício que o regime fascista exigia.
Itália x Tchecoslováquia – Final. Jogo com prorrogação, onde a Itália venceu por 2 a 1. Os tchecos nunca aceitaram o resultado, alegando que momentos antes da partida, o juíz fora visto na companhia do Duce em seu camarote.
Antes da Copa, porém, Mussolini utilizou amplamente o futebol como mecanismo de aproximação com outros governos. Um evento futebolístico poderia (e ainda pode, na verdade) ser um poderoso aliado para os governos em suas tentativas de aproximação e conclusão de seus interesses políticos.
Slavia x Juventus - Quando o time italiano viajou a Tchecoslováquia para o amistoso, foram recebidos com repulsa pelos tchecos, já que italianos e alemães se aproximavam aos poucos e com receio dos anseios de expansão de Adolph Hitler, que já governava a Alemanha. Na ocasião deste jogo, o embaixador italiano na Alemanha disse: “…as copas, os campeonatos, são situações muito importantes, mas há alguns casos em que se dá prioridade à suscetibilidade nacional, que então é posta em jogo em cada competição esportiva.”
Inglaterra x Itália, a Batalha de Highbury – Em 1934, apenas alguns meses depois de conquistar o Mundial, a seleção italiana enfrentou a seleção da Inglaterra no estádio de Highbury. Os inventores do jogo venceram por 3 a 2 numa partida violenta, em que muitos jogadores deixaram o campo com ferimentos consideráveis, entre eles, Eddie Hapgood, que teve seu nariz fraturado. Meazza mais uma vez foi a alma do regime fascista em campo marcando os dois gols da Azurra.
A Azurra de Mussolini na Copa de 1938 – França
Os jogadores da Squadra Azurra foram recepcionados da pior maneira possível ao chegarem ao pais sede da Copa de 38: a França. Os franceses já haviam se posicionado como antifascistas e lideravam esse movimento na Europa. A relação entre Itália e França já estava deteriorada especialmente depois de Mussolini hostilizar o governo francês em uma de suas declarações. O vagão do trem no qual se encontrava a seleção italiana em sua chegada à França, foi recepcionado por cerca e 3.000 antifascistas com gritos de “fascistas”, vaias, insultos os mais variados. Dentro de campo, na estreia com a Noruega, a saudação à romana da seleção de Mussolini, fez o estádio parecer que ia explodir.

Mussolini não media esforços para que a campeã Itália alcançasse o bi-campeonato, e enquanto as demais seleções viajavam de trem, a Azurra tinha um avião à sua disposição. Na semi-final, os azurri enfrentaram o Brasil e o discurso utilizado após a vitória italiana foi tipicamente fascistas: “Saudamos o triunfo da inteligência itálica contra a força bruta dos negros”.
Contra a Hungira, na final, uma história ficou bem conhecida. Contam que um telegrama foi enviado à concentração italiana, enviado pelo próprio Mussolini. A mensagem era clara: “Vencer ou morrer”. A Azurra sobreviveu vencendo a Hungria por 4 a 2 e seus jogadores foram recebidos em casa como verdadeiros gladiadores. O Fascismo saiu fortalecido, especialmente através de sua propaganda de governo, onde se colocava o esporte como meio exitoso para os fins do regime e aprofundamento da fidelidade nacional.
Fonte: LANCE!NET.
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