22 de junho de 2010

O futebol no regime de Mussolini

Antes de falarmos sobre o uso do futebol para fins políticos, vale dar uma rápida explanada sobre onde e como surgiu a prática política. Estudos indicam que a política surgiu basicamente após o surgimento das cidades, tendo como ponto de partida, a Grécia Clássica, num período da história onde os homens começaram a trocar o pensar mítico pelo pensar racional. Trataremos cada caso separadamente, para que cada aspecto da utilização do futebol como material de fortalecimento de governos, seja bem explicado e conhecido.

Mussolini e o futebol

A Itália de Mussolini utilizava-se da cultura física como aspecto fundamental para a solidificar sua ideologia fascista. A partir de 1925, l’Opera Nazionale Dopolavoro, financiou e coordenou a construção de vários estádios, piscinas, pistas de ciclismo e atletismo. Mas o Duce demoraria um tempo para perceber que poderia se utilizar do futebol para tentar manipular a massa.Em 1926, Mussolini ansiava tanto em ser um dos maiores governantes do mundo, que resolveu alterar as regras do futebol através da Carta de Viarregio. Este documento fixava regras para jogadores estrangeiros, definia novos status para jogadores de futebol além de uma série de alterações no calcio.

Nesta mesma época, o calcio rivalizava e disputava espaço no gosto da população com a volata, modalidade que misturava futebol e rugby e que fora inventada por Augusto Turati, uma das figuras-chave do fascismo. A intenção era provar que a volata era um esporte genuinamente italiano, que os ingleses degeneraram com uma infinidade de regras, porém a volata não durou por muito tempo, caindo no esquecimento por volta de 1933.

Atento, Benito Mussolini tratou de assumir os encargos para sediar a Copa do Mundo de 1934, modo pelo qual o Estado Fascista viu chance ímpar de fortalecer uma infinidade de metáforas belicistas, perfeitamente aplicáveis aos valores do regime. Imediatamente após a confirmação da realização do II Mundial de Futebol na Itália, Mussolini tratou de vincular a conquista ao sucesso dos dez anos de regime fascista. Para a propaganda do Mundial, uma das imagens de cartazes, era a de um jogador com a bola no pé e a típica saudação fascista.

Estádios construídos para a Copa

O governo fascista começou a cosntrução de grandes templos esportivos bem antes de pensar em sediar o Mundial. Em 1927, era inaugurado o Littoriale, em Bologna. Em Roma, em 1928, foi inaugurado o Estádio do Partido Nacional Fascista. Em 1929, foi a vez do Il Testaccio di Roma, mais conhecido como giallorossi, por ter suas arquibancadas pintadas de amarelo e vermelho. Esta foi uma das primeiras obras do fascismo a receber a benção da igreja católica.

Em 1932, era inaugurado o Stadio del Littorio, em Trieste. Ainda foram construídos o L’Ascarelli di Napoli e Il Comunale di Torino, que por ser o mais imponente complexo esportivo do país, logo passaria a ser chamado de Benito Mussolini.

O Mundial

A abertura do Mundial demonstrou o quanto o povo apoiava Mussolini e o quanto a sua “preocupação” com o calcio, com a construção de estádios e mudanças nas regras para jogadores estrangeiros, elevariam o status do regime fascista. Apesar do prestígio alcançado especialmente com a presença do Duce em todos os jogos, a Azurra não teria um caminho fácil e, ficaria evidente que o preparo físico era fundamental para seguir adianta na competição. Com um regulamento que previa jogos no dia imediatamente posterior, caso uma partida terminasse empatada, a cada jogo da Azurra, era um bombardeio de propaganda fascista, utilizando amplamente os símbolos nacionais, como o uniforme preto, a bandeira e o hino, além da presença do Duce em todos os jogos da seleção italiana sempre comemorando cada vitória da Azurra com os “camisas-negras”.

Jogos marcantes Copa de 34

Italia x Espanha – Jogo de 210 minutos onde o herói da partida foi Giuseppe Meazza, autor dos gols da vitória que foi retirado de campo desmaiado. Uma das maiores demonstrações do espírito de sacrifício que o regime fascista exigia.

Itália x Tchecoslováquia – Final. Jogo com prorrogação, onde a Itália venceu por 2 a 1. Os tchecos nunca aceitaram o resultado, alegando que momentos antes da partida, o juíz fora visto na companhia do Duce em seu camarote.
Antes da Copa, porém, Mussolini utilizou amplamente o futebol como mecanismo de aproximação com outros governos. Um evento futebolístico poderia (e ainda pode, na verdade) ser um poderoso aliado para os governos em suas tentativas de aproximação e conclusão de seus interesses políticos.

Slavia x Juventus - Quando o time italiano viajou a Tchecoslováquia para o amistoso, foram recebidos com repulsa pelos tchecos, já que italianos e alemães se aproximavam aos poucos e com receio dos anseios de expansão de Adolph Hitler, que já governava a Alemanha. Na ocasião deste jogo, o embaixador italiano na Alemanha disse: “…as copas, os campeonatos, são situações muito importantes, mas há alguns casos em que se dá prioridade à suscetibilidade nacional, que então é posta em jogo em cada competição esportiva.”

Inglaterra x Itália, a Batalha de Highbury – Em 1934, apenas alguns meses depois de conquistar o Mundial, a seleção italiana enfrentou a seleção da Inglaterra no estádio de Highbury. Os inventores do jogo venceram por 3 a 2 numa partida violenta, em que muitos jogadores deixaram o campo com ferimentos consideráveis, entre eles, Eddie Hapgood, que teve seu nariz fraturado. Meazza mais uma vez foi a alma do regime fascista em campo marcando os dois gols da Azurra.

A Azurra de Mussolini na Copa de 1938 – França

Os jogadores da Squadra Azurra foram recepcionados da pior maneira possível ao chegarem ao pais sede da Copa de 38: a França. Os franceses já haviam se posicionado como antifascistas e lideravam esse movimento na Europa. A relação entre Itália e França já estava deteriorada especialmente depois de Mussolini hostilizar o governo francês em uma de suas declarações. O vagão do trem no qual se encontrava a seleção italiana em sua chegada à França, foi recepcionado por cerca e 3.000 antifascistas com gritos de “fascistas”, vaias, insultos os mais variados. Dentro de campo, na estreia com a Noruega, a saudação à romana da seleção de Mussolini, fez o estádio parecer que ia explodir.


Mussolini não media esforços para que a campeã Itália alcançasse o bi-campeonato, e enquanto as demais seleções viajavam de trem, a Azurra tinha um avião à sua disposição. Na semi-final, os azurri enfrentaram o Brasil e o discurso utilizado após a vitória italiana foi tipicamente fascistas: “Saudamos o triunfo da inteligência itálica contra a força bruta dos negros”.

Contra a Hungira, na final, uma história ficou bem conhecida. Contam que um telegrama foi enviado à concentração italiana, enviado pelo próprio Mussolini. A mensagem era clara: “Vencer ou morrer”. A Azurra sobreviveu vencendo a Hungria por 4 a 2 e seus jogadores foram recebidos em casa como verdadeiros gladiadores. O Fascismo saiu fortalecido, especialmente através de sua propaganda de governo, onde se colocava o esporte como meio exitoso para os fins do regime e aprofundamento da fidelidade nacional.

Fonte: LANCE!NET.

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