14 de junho de 2010

Futebol finta crise.

Diz-se que é em tempos de crise que as sociedades mais necessitam de “circo” – talvez por isso, o grande circo do futebol parece viver bastante bem no cenário de crise económica global.

Há mais de um ano atrás, a 16 de Setembro de 2008, a crise financeira internacional atingia o seu auge com a maior falência da história dos EUA, a do banco Lehman Brothers, um dos pilares da Wall Street. A recessão económica mundial estava definitivamente instalada.

Exatamente um ano depois, a 16 de Setembro de 2009, o mundo centrava a sua atenção na recepção do Inter de Milão ao campeão da Europa, Barcelona, no arranque da fase de grupos da Liga dos Campeões. No estádio Giuzeppe Meazza, 80 mil adeptos enchiam as arquibancadas; nas televisões, centenas de milhões de espectadores dos cinco continentes seguiam as incidências do encontro. No relvado, entre os jogadores das duas equipes, encontravam-se diversos reforços para a nova época, que representaram um investimento conjunto superior a 200 milhões de euros, com destaque para o sueco Zlatan Ibrahimovic que custou 66 milhões ao Barcelona, transferido exatamente do Inter.

Os investimentos dos 20 clubes que mais gastaram em novas contratações para a temporada 2009/10 quase triplicaram em relação a 2008/09, sendo que as “loucuras” cometidas pelo Real Madrid e pelo Manchester City contribuíram grandemente para tal crescimento.

A crise mundial que afeta todos os setores económicos e de atividade, parece não chegar ao futebol. Pelo menos, ao de topo, ou seja, ao patamar mais elevado do futebol europeu de clubes. E a grande questão é: porquê?

Se analisarmos as receitas dos clubes provenientes das quotizações dos seus sócios e da bilheteira não encontramos grandes diferenças relativamente ao tempos anteriores à recessão económica. As assistências nos estádios nas principais ligas europeias mantêm-se estáveis nos últimos anos, acusando até algumas perdas residuais.

A razão para o sucesso relativo do futebol no combate à crise prende-se diretamente com o apetite que o futebol – ou pelo menos os seus melhores produtos, leia-se clubes e competições – continua a despertar nos investidores. Desde logo, esta situação reflete-se no permanente crescimento do valor dos direitos televisivos das principais ligas europeias. Por exemplo, na Inglaterra, os direitos televisivos representam atualmente 60% das receitas dos clubes. Os novos contratos da Premier League com as televisões prevêem qualquer coisa como um valor de 2 237 milhões de euros por três anos (2010/11 a 2012/13), o que constitui um acréscimo na ordem dos 17%. E não se contabiliza aqui a venda dos direitos internacionais que são negociados diretamente com cada país interessado, que podem chegar aos 1000 milhões de euros. Não é por acaso que é já perfeitamente habitual a marcação de jogos da Premier League para a hora de almoço, porque coincide com o horário nobre no Sudeste Asiático. Também se tornou prática habitual as tournées de início de temporada dos grandes clubes pelo Oriente e pelos EUA, mercados em grande expansão para o futebol europeu.

O apetite pelo produto futebol reflete-se igualmente no crescimento das receitas comerciais, de merchandising e publicidade, dos grandes clubes. Também no passado dia 16 de Setembro de 2008, o Liverpool FC anunciou um acordo com o Standard Chartered Bank para o patrocínio da camisa do clube por 91 milhões de euros (nos próximos quatro anos). Um contrato ao nível do existente entre o Manchester United e a Aon, suplantando as parcerias Bayern Munique/T-Home (19 milhões/ano), Real Madrid/Bwin e Juventus/Tamoli (17 milhões/ano).

Bem distante destes números está o futebol português, incapaz de aumentar os investimentos em jogadores, limitado pela incapacidade de atrair mais adeptos aos estádios e de rentabilizar devidamente os direitos televisivos, cujo valor se encontra estagnado há demasiado tempo.

Fonte: Football Ideas.

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