O Primeiro de Maio: memória, símbolo e rito da vida operária.
O Primeiro de Maio é talvez o mais importante dos ritos operários, momento em que se atualizam as reivindicações e a própria identidade dos trabalhadores enquanto classe. Originado a partir do imperecível episódio dos "Mártires de Chicago", tomou, mais que outros ritos operários, um caráter universal, consolidando-se como data-símbolo das lutas operárias contra a lógica espoliativa do capital, por mais liberdade e felicidade, pela paz, em suma, por uma vida digna. Enquanto rito, encerra um sentido pedagógico, com suas demonstrações em todo o mundo indo além do mero ato político simbólico, desenvolvendo múltiplas estratégias de manifestação dos trabalhadores, instaurando uma tradição de luta e educando sobre sua história e memória. As manifestações do Primeiro de Maio, com seus cortejos, estandartes das associações dos trabalhadores, hinos e alegorias remetem a valores constitutivos do movimento operário, tais como o internacionalismo e a solidariedade, plenos do intuito educativo e dos ideais de comunidade, união e luta. O esforço para consolidar este momento de expressão pública e coletiva de anseios por parte dos trabalhadores se completa na luta pela preservação do sentido de protesto dos oprimidos e explorados que a data encerra, furtando-se da intenção dos que a querem como "festa do trabalho", lugar da conciliação de classes. A memória operária é também objeto de lutas, o sangue derramado pelas "Oito horas de trabalho; oito horas de repouso; oito horas de educação" não pode ser esquecido.
No Ceará, como em todo o Brasil, os ecos das manifestações operárias em torno do Primeiro de Maio são ouvidos desde o final do século XIX. Os primeiros militantes socialistas cearenses expressam em seus jornais, discursos e partidos as idéias da redenção operária, fortalecendo uma tradição e formando e moldando a sua identidade. O Centro Artístico Cearense batiza seu jornal com o nome de Primeiro de Maio, já em 1905. A memória dos mártires é reverenciada em praça pública, em comício e demonstrações. Nas primeiras décadas do século XX, nas páginas do Voz do Graphico, Pedro Augusto Mota, trabalhador gráfico e militante libertário exalta a "data bendita", sintoma da luta pela construção da memória operária.
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