
31 de dezembro de 2008
30 de dezembro de 2008
Resultado da última enquete:
Qual o principal problema atualmente existente no futebol?
Racismo: 12%
Corrupção: 10%
Violência: 14%
Mercantilização: 63%
29 de dezembro de 2008
Entrevista: José Paulo Florenzano (parte 1)
Cientista social com atuação na área de Antropologia do Esporte conta sobre a Democracia Corintiana e os reflexos desse movimento no futebol atual
José Paulo Florenzano –A importância dela reside no fato de romper com a hegemonia do modelo do futebol-força, propondo para a modalidade o reequilíbrio entre os exercícios do corpo e os exercícios da mente. A Democracia Corinthiana reintroduz no espaço do futebol as aulas de filosofia, pois se pensarmos o que era o ginasium na antigüidade clássica, vemos que era o local onde os gregos exercitavam o corpo, buscando esculpir o ideal do belo, mas era também onde, por vezes, os filósofos realizavam as suas palestras e diálogos
José Paulo Florenzano –Como todo e qualquer movimento social, político e cultural, a Democracia Corinthiana também teve uma série de contradições. A principal delas era o fato de tentar conciliar dois projetos antagônicos: um modelo de futebol empresa, isto é, a Democracia Corinthiana tentava legitimar-se diante dos demais atores do futebol e da imprensa esportiva como uma proposta de modernização do futebol, com inscrição publicitária na camisa e uma série de ações voltadas para esse modelo. Ao mesmo tempo, inclusive porque ela estava inserida no contexto da redemocratização da sociedade brasileira e, nesse sentido, partilhava com uma multiplicidade de sujeitos coletivos, o ideal da autonomia também desenvolve o exercício da democracia direta.
José Paulo Florenzano –Existem outros exemplos, porque o papel do ídolo no futebol, enquanto esse ele pode favorecer o clube e os produtos que se associam ao mesmo é algo muito mais antigo do que se está habituado a reconhecer. Poderíamos mencionar casos desse tipo desde o Friedenreich que fez anúncios publicitários, assim como Leônidas da Silva, o qual foi contratado pelo São Paulo em uma estratégia de popularização do clube. Enfim, esse tipo de estratégia é muito mais freqüente do que parece.
José Paulo Florenzano –Na realidade, nós estamos prisioneiros a um modelo global de futebol, e temos que perceber qual é o papel do Brasil nesse cenário. Parece que aqueles que detêm o poder de decisão no futebol brasileiro se saem muito bem na participação que o país tem nesse modelo que é a de fornecer atletas. Por isso, talvez, não haja tanto interesse em reposicionar o Brasil nesse quadro.
José Paulo Florenzano –Eu penso que existe muita idealização desse pensamento do amor à camisa. Muitos atletas que tiveram amor à camisa acabaram na miséria. Por outro lado, existe uma perda de identidade, de se mencionar o nome de um jogador e, rapidamente, lembrar-se do clube em que ele atua.
José Paulo Florenzano –A identidade de um clube também sofre mudanças ao longo do tempo. Por exemplo, o Palestra Itália foi fundado para representar os diversos grupos italianos em São Paulo. Era ele que conferia essa identidade italiana a essas comunidades. Em um determinado momento, ele é obrigado a mudar de nome e se transforma em Palmeiras e, a partir daí, abre-se para outros grupos dentro da sociedade.
José Paulo Florenzano –No caso do São Paulo, esse tipo de contratação passa pelas contratações de Leônidas da Silva, e depois pela do Didi, que teve uma curta passagem pelo clube, nos anos 1950. Outro caso, como foi citado, foi o do Bobô. Porém, não sei até que ponto essas contratações podem ser incluídas na conta de uma estratégia de popularização do clube, mas certamente, esse fator também é um efeito que deve ser levado em consideração.
José Paulo Florenzano –Já houve uma mudança muito significativa. Ficou para trás a idéia do futebol como o “ópio do povo”, discurso que associava a modalidade a um mecanismo de alienação e um certo preconceito que impedia a academia de reconhecer o futebol como um objeto de estudo e um acesso privilegiado para a compreensão da realidade brasileira.
José Paulo Florenzano –O Museu do Futebol é uma idéia extraordinária e, aos poucos, ele irá se aprimorando, com a contribuição de jornalistas e historiadores, e com a participação dos seus assessores.
José Paulo Florenzano – É muito difícil manter-se na trajetória que o Pelé conseguiu ficar, com todo o sucesso por ele obtido. Esse autocontrole ao longo de toda a sua carreira, é um ponto que merece ser destacado. Logo, esse aspecto dele falar sobre ele mesmo afastando-se da figura Pelé é o mínimo que podemos citar nesse sentido.
24 de dezembro de 2008
Crise mundial pode tirar maior patrocinador da Premier League

Por conta disso, apesar de ser um dos torneios mais rentáveis do planeta, a liga de futebol inglesa deve ter que procurar um novo patrocinador de peso, já que as empresas estão receosas em aumentarem seus investimentos em fatores considerados supérfluos como os patrocínios.
O terceiro maior banco britânico detém os direitos da liga desde 2001, mas o atual contrato de 65 milhões de libras (cerca de 101 milhões de dólares) acaba no final da temporada 2009/2010.
Membro do departamento comercial e de marketing do banco, Libby Chambers afirmou que a parceria foi importante para dar visibilidade internacional ao banco, mas isso não significa que o futebol ficará de fora da revisão. "Haverá uma revisão de nossos patrocínios a fim de avaliar se estamos tendo forte retorno dos investimentos internacionais", afirmou.
O Barclays também patrocina os torneios de golfe Scottish Open e Singapore Open, o torneio de tênis Dubai Championships e a Churchill Cup de rúgbi. Além disso, em junho deste ano, o banco assinou o contrato para patrocinar o final da temporada da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP), oferecendo US$ 7 milhões (cerca de R$ 16,45 milhões) anuais.
Fifa retira punições de Peru, Samoa e Kuwait

A decisão acaba com as pretensões do Fluminense, vice-campeão da Copa Libertadores deste ano, e do Internacional, campeão da Copa Sul-Americana, de ocupar as vagas daquele país na Copa Santader Libertadores de 2009.
As vagas dos times peruanos estavam em aberto na tabela da competição continental, divulgada nesta semana. Agora, o Universitario, o Universidad San Martín e o Sporting Cristal estão liberados para participarem competição sul-americana.
"Foi possível aproximar no Peru as pessoas e os políticos. Nós esperamos que continue a funcionar", afirmou o presidente da Fifa, Joseph Blatter. A Fifa havia punido o futebol peruano após a intervenção do governo federal sobre a FPF. O presidente da Federação, Manuel Burga, reeleito em 2007, não era reconhecido pelo governo. Além disso, o IPD havia pedido uma mudança na diretoria da entidade, alegando que a FPF não aceitava as leis do país.
Depois que o Peru perdeu o direito de sediar o Campeonato Sul-Americano sub-20, em 2009, para a Venezuela, devido à punição, as entidades peruanas entraram em acordo no dia 13 de dezembro. O resultado das negociações foram enviados à Suíça, sede da Fifa.
A Fifa também retirou as suspensões que havia imposto Samoa (por má administração) e Kuwait (pot interferência política). "Nós retiramos a suspensão ao Kuwait temporariamente", afirmou Blatter. "Se as leis no Kuwait não forem mudadas para dar autonomia às organizações de esportes, então isso irá ao congresso. Se o congresso decidir suspender o Kuwait, a decisão durará por pelo menos um ano", concluiu.


23 de dezembro de 2008
18 de dezembro de 2008
Gravado hino em homenagem à Resistência Coral
Á convite do músico, membros da Resistência Coral estiveram presentes no estúdio para uma participação especial na gravação, deixando a marca da torcida na canção com um incisivo grito de guerra.

Não é a primeira vez que o funcionário público Virgílio César grava músicas relacionadas ao Ferroviário. Virgílio compôs as canções Ferrão Setentão e Levada do Ferrão, lançadas em CD em meados de 2008 pela AAFAC (Associação dos Amigos do Ferroviário), numa compilação que além de destacar os novos trabalhos, resgata ainda as tradicionais e antigas músicas corais.
Virgílio César entrou para o seleto grupo dos compositores corais, formado por nomes como Zezé do Vale, J. Augusto, Zé Limeira, Olavo Barros, entre outros.
Confira a letra do Hino à Ultras Resistência Coral:
ULTRAS RESISTÊNCIA CORAL
Nasceu da luta social
Pra combater qualquer discriminação
No nosso futebol e em qualquer canto da nação
Não somos meros torcedores do FERRÃO
Somos trabalhadores que engrandecem um país
Não admitindo qualquer forma de exclusão
Igual a que sofre o povão e o FERRÃO
História bonita do nosso FERROVIÁRIO
Que surgiu da mão do operário
Tal qual a RESISTÊNCIA CORAL
Na luta de classes somos revolucionários
A ULTRAS RESISTÊNCIA CORAL
É hoje opção de nossas vidas
Nem paz entre as classes
Nem guerra entre as torcidas
De esquerda, anti-racista, anti-capitalista
Nada diminui nossa paixão incendiária
FERROVIÁRIO, orgulho da classe operária!
(Link alternativo: http://www.badongo.com/audio/12551523)
Ficha técnica:
Compositores: Virgílio César Aires e Leonardo Carneiro
Voz: Virgílio César e participação especial de membros da Resistência Coral
Gravação e mixagem:
Arão Stúdio - Produção sonora
(85) 8898.0154 / 30817914
email: araostudio@hotmail.com


Resistência Coral presente em ato contra o assassinato do torcedor são-paulino
Por KADJ OMAN
Treze.
O número de pessoas que compareceu ao ato de domingo contra a morte do torcedor são-paulino pela polícia em Brasília.
Menos do que os que estavam na fila para o Museu do Futebol, no último dia da exposição sobre as "marcas do Rei".
Menos do que o número de blogs que retransmitiram o chamado pra ação, que até notícia na "Folha Online" virou.
Menos até do que o próprio número de jogadores do Autônomos FC que compareceu ao habitual jogo do time aos sábados.
Desanimador, um fracasso, prova de que o futebol não tem a ver com política, diriam alguns.
Não para nós.
Poucos, mas loucos.
Que armaram a quadra, esperando a polícia aparecer para o jogo.
Que distribuíram panfletos sobre o que se passava para os que apareceram pra conferir aquela agitação estranha.
Que decretaram o W.O. da polícia depois de esperar mais de uma hora.
E que disputaram uma partida ali mesmo, todos contra todos, sem muitas regras, como é o futebol de rua.
Três corinthianos, três andreenses, dois juventinos, um santista, um flamenguista, dois portugueses e um torcedor do Ferroviário-CE, membro da Resistência Coral.
Escalados como um time, um único time, autônomo e reivindicativo de uma liberdade cada vez mais tomada.
Pouca gente? Um retrato do Brasil? Fosse a Argentina estariam milhares de hinchas pelas ruas?
Talvez.
Mas, se não se pode superestimar o que foi na verdade uma confraternização de amigos, também não se pode tirar mérito desses 13 primeiros que saíram de suas casas em um domingo frio e com cara de chuva pra firmar presença em algo que julgam essencial para o futebol e a sociedade.
Porque não se pode tirar leite de pedra, também.
Esperar milhares com três dias de agitação apenas e após o término das atividades futebolísticas oficiais seria um deslumbre.
Desvalorizar os 13 que compareceram, um desdém.
O que podemos, e devemos, é tomar na medida certa este 14/12, como um ponto de partida para construir algo maior.
Porque já se disse que não começou em Seattle.
E não vai terminar em Atenas.
Política não tem nada a ver com o futebol?
Há controvérsias:
Torcida do Bayern München no jogo contra o Lyon pela UEFA Champions League em 10 de dezembro último.
Fonte: Blog do Juca Kfouri
13 de dezembro de 2008
A força que vem dos ventos

O torcedor coral que for a Vila Olimpica Elzir Cabral vai se deparar com uma grande novidade. Devido aos altos custos com energia elétrica, recentemente o presidente Paulo Wagner Pinheiro dotou o complexo coral de um sistema de geração de energia própria para bombear água para a irrigação do campo.
O cata-vento possui várias utilidades, seu nome está associado comumente ao aproveitamento da energia eólica em aplicações engenhosas, como a moenda (os moinhos de vento), o bombeamento de água, ou em conceitos mais modernos, para geração de energia elétrica, através dos aerogeradores.
Alguns estudiosos acreditam estar na Pérsia 915 a.C, hoje Irã, a origem do cata-vento. A energia obtida com os cata-ventos prestou muitas aplicações no passado, moer grãos e bombear água foram apenas algumas delas. Eles foram utilizados também para extração de óleo, transformação do papel, preparação de pigmentos e tinturas, dentre outras. Foram também a principal fonte de energia durante toda a Idade Média.
Apesar de parecer ultrapassado, é justamente a energia eólica que sinaliza ser a solução para geração de energia no futuro. Investir na geração de energia que vem dos ventos além de ser uma política ecologicamente correta, incorre em baixos custos comparados com obras como hidroelétricas. Vale ressaltar também que é uma fonte de energia inesgotável comparada com as energias geradas pelos combustíveis, gás natural e atômica.
12 de dezembro de 2008
Ato contra a morte de Nilton César de Jesus
Daqui de Fortaleza nos solidarizamos com Nilton e com todas as milhares de vítimas que sofrem cotidianamente a violência da repressão policial, seja ela nos estádios, nas periferias ou na luta de classes.
3 de dezembro de 2008
O silêncio do PV
A situação é pouco esclarecida pelos órgãos públicos.
E 2009 promete ser mais um ano inativo para o PV.
Confira a matéria veiculada no Grande Jornal, da TV O POVO, desta quarta-feira.
Postado por Equipe do Blog - esportes@opovo.com.br
Jogador belga é punido por saudação nazista em campo

Velasco, que defende o Helmond Sport, estendeu o braço em direção a um rival do RBC Roosendaal, em partida na sexta-feira. O gesto foi interpretado como uma alusão ao cumprimento usado pelos alemães no período do governo de Adolf Hitler.
Em entrevista após a partida, que terminou empatada por 1 a 1, o jogador afirmou que fez a saudação porque o adversário estava se comportando como um alemão em campo.
O Helmond Sport afirmou que não vai recorrer da punição de cinco partidas. Antes mesmo da pena imposta pela federação, o clube já havia suspendido o meia por uma partida.
Atleta da saudação "black power" diz que acredita em sucesso de Obama

Smith ficou conhecido pelo protesto que fez no pódio dos Jogos do México. Ao lado do também americano John Carlos, vencedor da prova, o velocista fez a saudação do "black power" ("poder negro") ao receber as medalhas.
Na manifestação, os atletas ergueram o punho com luvas pretas durante a execução do hino americano e abaixaram a cabeça em sinal de protesto ao racismo.
Smith, que está em Madri para receber um prêmio, afirmou a vitória de Obama foi importante pela sua capacidade de representar as pessoas e liderar o país.
"Foi uma vitória esperada e necessária, não pela cor de sua pele, mas por sua personalidade e capacidade de liderança. Obama representará o povo e acho que será capaz de mudar as coisas", disse.
Outro que recebeu elogios do ex-atleta foi o jamaicano Usain Bolt, vencedor e recordista mundial dos 100m e 200m nos Jogos Olímpicos de Pequim.
"Bolt já tem os recordes dos 100m e 200m. Ele foi enviado por Deus ao atletismo, mas tem que trabalhar para ser o melhor", disse.
Em relação a seu famoso gesto em 1968, Smith disse que a idéia tinha o objetivo de chamar a atenção "não só para a defesa dos direitos dos negros, mas de todas as pessoas".
Entretanto, o ex-atleta disse que o incidente fez com que sua vida corresse perigo na época. Smith afirmou que recebeu ameaças de morte e enfrentou vários tipos de problema.
O ex-velocista também se mostrou insatisfeito com o tratamento que recebeu do Comitê Olímpico Internacional (COI) e do comitê de seu país.
"Os comitês não se desculparam. No americano, se aproximam de mim para dizer que sentem muito, mas sorrio, sei que é mentira. Acho que deveria ter um lugar no Hall da Fama dos Jogos Olímpicos, mas os dirigentes esportivos são estúpidos", afirmou.
"O então presidente do COI, Avery Brundage, forçou o comitê americano a nos tirar dos Jogos e cassar nossas medalhas. Acabaram com nossas vidas. Eu me divorciei e a mulher de John Carlos se suicidou", acrescentou.
A decepção vai ser grande...
30 de novembro de 2008
Autônomos FC: "futebol com alegria, mais espontâneo, menos mercadológico"
Entrevista concedida pelo Autônomos FC para a ANA, Agência de Notícias Anarquistas.
Criado por punks e anarquistas, desde 1º de maio de 2006, existe na Grande São Paulo um time de futebol autogestionado, com espírito anárquico. O Autônomos Futebol Clube, ou “Auto”, como é carinhosamente chamado por seus “fãs”. “Um time com ideal autogestionário, anti-racista, anti-fascista, contra o futebol mercadoria”, explica Kadj Oman, um dos fundadores do clube. Na entrevista a seguir, ele fala, com a espontaneidade e malandragem libertária de um bom boleiro varzeano, do Autônomos FC e do esporte mais popular do país, cada vez mais industrializado e burocratizado pelos interesses materiais. Mas que, também, sob sol e chuva, terra batida, bola improvisada, descalços, resiste, alegra e encanta nas mais diversas “peladas” das periferias e rincões miseráveis do Brasil. Confira o bate-bola:
Agência de Notícias Anarquistas > Fale um pouco sobre o Autônomos Futebol Clube, sua organização e objetivos, em que contexto ele surge…
Kadj Oman < Bom, no fim de 2005, eu comecei a organizar um campeonato de futebol de salão que se chamava Copa Autonomia. Nele, não havia juiz e as regras eram poucas. Fizemos 10 edições dessa copa sem nenhum problema. Mulheres jogavam, crianças, a gente se divertia (inclusive, dá pra ver o vídeo da 1ª edição do torneio procurando pelo nome no YouTube). Aí, no Carnaval Revolução de 2006, em Belo Horizonte (MG), acabei participando de uma palestra/bate-papo sobre futebol e revolução, e conheci o Mau, o Jão e a Mix, do Ativismo ABC. Compartilhando um pouco das nossas angústias sobre o punk e o futebol, tivemos a idéia de fazer algo nesse sentido quando voltássemos. Aí eu aproveitei que na Copa Autonomia tinha um pessoal interessado na idéia e fundamos o time, pra jogar futebol society, no início. Foi uma época de muitas alegrias e muitas derrotas, tirando as amizades que surgiram. Jogaram suíços (5 ao mesmo tempo, de uma banda de ska), argentinos, australianos, canadenses, colombianos. E muitos brasileiros, punks ou não, afeitos ao ideal de autogestão. Mas o societyera mercadológico demais pra gente, e então fomos pra várzea, onde mais e mais gente foi se interessando pelo time e ele cresceu. Hoje temos dois quadros e um time “júnior”, composto por alunos de um dos zagueiros do time. Sobre a organização, bem, a gente divide tudo, desde lavar os uniformes até ficar de gandula nos jogos, passando pela vaquinha pra pagar o campo em que jogamos, que é alugado. E os objetivos sempre foram o de resgatar o futebol com alegria, mais espontâneo, menos mercadológico, sem se fechar a qualquer um que concordasse com a idéia de autogestão. Faz pouco mais de um mês, traçamos um estatuto, já que o time está cada vez maior e a gente não quer perder o objetivo principal dele, que é se divertir. Lógico que jogamos pra ganhar, até porque fazer as coisas você mesmo pra gente significa fazer o melhor possível, mostrar o quão bom se pode ser assim. Mas não colocamos a vitória acima de tudo - aliás, só nos últimos 4 meses que o time passou a ganhar mais do que perder mesmo.
ANA > E que história é essa de futebol autogestionado?
Oman < Pra ser justo, toda a várzea é meio que autogestionada. Surgem campos onde quer que haja um pedacinho de terreno, por mais que a metrópole engula espaços e vomite de volta o futebol society e o futsal, além do profissional, é claro. Mas no nosso caso, a autogestão passa por uma questão estrutural, de não ter presidente, diretor, tesoureiro, nada. Temos sim capitão, técnico, goleiros, laterais-direitos, porque isso não tem a ver com hierarquia necessariamente, e sim com aptidões ou gostos pessoais por jogar aqui ou ali, ou fazer essa ou aquela função. E divulgamos essa idéia de autogestão por onde jogamos, distribuindo panfletos ou no boca-a-boca mesmo. Alguns jogadores que estão com a gente, inclusive, eram de times que enfrentamos e que gostaram do nosso jeito de lidar com as coisas. Então a nossa autogestão é tentar ser o mais livre possível dentro do que se quer ser, mas respeitando os princípios básicos e as responsabilidades inerentes a todo projeto coletivo, como chegar na hora, colaborar com a grana sempre que necessário etc. Claro que no meio disso tudo às vezes surgem conflitos, mas o que seria a vida sem conflitos?
ANA > E qual a relação do Autônomos FC com o anarquismo? A cor do uniforme é mera coincidência? (risos)
Oman < (risos) É não é não. Acontece que o time foi fundado por punks e anarquistas, então na hora de escolher o escudo e as cores do uniforme isso contou. Mas conforme foi crescendo, o Auto (apelido carinhoso do time) foi se abrindo. Nunca foi um time explicitamente anarquista, mas sempre foi um time com ideal autogestionário, anti-racista, anti-fascista, contra o futebol mercadoria. Na verdade, os fundadores e boa parte do time, hoje, é de românticos, que ainda enxerga o futebol como uma crônica continuamente narrada a muitas vozes sobre a vida. Até banda de “rock’n'gol” o time gerou, a Fora de Jogo, que toca trajada com os uniformes do time e fala de futebol (sob uma ótica política) em todas as suas músicas. Além de que, convenhamos, preto e vermelho é uma combinação de cores das mais bonitas que existe. Os anarquistas, além de tudo, sempre tiveram bom senso estético. (risos)
ANA > Como explicar um anarquista ser fanático por futebol, por um time profissional, que cada vez mais são verdadeiros instrumentos capitalistas de manipulação, consumo e controle social? Ou assim como o amor não tem explicação? (risos)
Oman < Olha, explicação mesmo acho que não tem. A gente cresce gostando de futebol, aprende nele e com ele a se expressar, a se entender no meio de um coletivo (a torcida), acaba virando um dos nossos primeiros lugares de socialização. E como é o único que é contínuo pela vida toda, difícil se desligar dele. Até porque existiram muitos times anarquistas na história, o começo do futebol é operário, e ele é mais do que tudo uma festa popular. No início do século anarquistas aqui em São Paulo nomeavam suas equipes de “Flor” ou “Estrela”. Então, sempre que você encontrar um boteco ou padaria com esse nome, são grandes as chances de ele ter um passado anarquista. (risos)
E se o profissional é cada vez mais instrumento de controle, ele permite também nas suas brechas diversos tipos de encontros essencialmente anti-capitalistas, pró-ócio, pró-festa. A Gaviões da Fiel, torcida do Corinthians, por exemplo, se aproximou do MST nos últimos anos, dos Sem-Teto, promove festivais de cinema político, entre outras coisas. Temos que tomar cuidado pra não tomar a festa do povo por ópio, esse velho clichê, porque não é simples assim. O futebol foi apropriado pelo capital, assim como todo o resto, mas o próprio capital, contraditório que é, recria possibilidades dentro do profissional mesmo de ir contra ele (um bom exemplo, embora já meio distante temporalmente, é a Democracia Corinthiana). Cabe encontrar essas brechas, aproveitá-las, aprofundá-las. Durante toda a sua história o futebol opôs controle à festa, foi usado para dominar de um lado e para contra-atacar o domínio de outro. São tantas as histórias possíveis de serem contadas dentro do futebol… Um livro legal sobre isso é o “A Dança dos Deuses - Futebol, Sociedade, Cultura”, do historiador Hilário Franco Júnior. O que podemos e devemos fazer é continuar a contá-las, do nosso jeito, sem deixar que as vendam como mero produto descartável.
ANA > Será mesmo que o futebol profissional recria possibilidades de ir contra ele mesmo? Não acredito. O futebol profissional brasileiro está tomado pela maracatuia, pelo mercado, pelo negócio, vide Rede Globo, CBF´s, Trafic´s, Adidas e por aí vai. E por outro lado, os jogadores profissionais, na sua maioria, são despolitizados, sem atitude, vão à mercê dos dirigentes, cartolas. E no grosso as torcidas organizadas não são muito diferentes disso tudo não, também vão a reboque de políticos, dirigentes, cartolas… Na Itália, e em outras partes da Europa, que foi criado um movimento interessante por vários grupos “Ultras”, chamado “Contra o Futebol Moderno”, que luta contra as condições precárias dos estádios, ingressos caros, partidas sendo jogados em horários não-tradicionais, jogadores sendo vendidos como mercadoria, a comercialização excessiva no futebol etc. As torcidas uniformizadas do Brasil poderiam seguir esse exemplo, não?
Oman < Não vou te dizer que o profissional dá possibilidades o tempo todo de se ir contra ele, mas as recria vez ou outra sim. Se está envolto em tudo isso que foi mencionado, me diga, em que é diferente de qualquer outra esfera da sociedade? Tudo foi apropriado pelo capital, as relações sociais baseadas na venda são quase totalitárias, então as brechas são mesmo pequenas, ainda mais em um país onde as organizações sociais são tão marginalizadas e politicamente tão superficiais (não todas). As organizadas seguem o mesmo caminho. Não dá pra esperar delas uma postura que nenhum (ou quase nenhum) outro movimento organizado da sociedade toma, como essa de ir contra o futebol moderno. As poucas torcidas que vejo tentando seguir algum exemplo de fora acabam copiando as formas estéticas, as faixas, os gritos de guerra, mas não o conteúdo das reivindicações. Mas mesmo assim há organizadas indo contra sim. Um exemplo é a Resistência Coral, do Ferroviáio do Ceará, abertamente anti-capitalista, que leva faixas com dizeres como “paz entre as torcidas, guerra ao Estado”. Normalmente são torcidas menores, frutos de movimentos pequenos, como em geral é o anarquismo e o anti-capitalismo no Brasil. Mesmo assim, nas grandes torcidas aparecem às vezes manifestações nesse sentido. Já citei a Gaviões, que este ano levou faixas contra o preço dos ingressos nos jogos fora de casa do Corinthians. A Mancha Verde, do Palmeiras, também recentemente protestou contra o preço dos ingressos no estádio do clube. Eu acredito que os próprios constrangimentos que o capital imprime junta pessoas em direção a lutas por direitos básicos. Essa história da Copa 2014 e seus estádios a la européia vai dar pano pra manga. Já dá, aliás. Ano passado, acompanhando a final da Taça Brahma no estádio do Palmeiras, vi um monte de gente de Itapevi, cidade periférica da Grande São Paulo, se deslumbrando com o Setor Visa, pedaço do estádio com preços altos e cheio de mordomias. Outras pessoas, ao mesmo tempo, achavam aquilo absurdo, porque elitizava o estádio. A força das organizadas, que a mídia insiste em colocar na violência e na coerção, na verdade reside no fato de que elas são aglutinadoras de gente da periferia, que é quem mais sofre com as restrições do capital. Disso sempre pode surgir algo. E há de lembrar também que na mesma Europa contra o futebol moderno estão torcidas neonazistas, que também são contra o futebol moderno, obviamente por outros motivos. A Eurocopa desse ano mostrou neonazistas croatas com faixas com esses dizeres. Então, temos sempre que pensar as possibilidades dentro das realidades históricas, sociais, políticas de cada lugar. Não dá pra querer no Brasil a força de um movimento anarquista organizado como o grego, por exemplo, do dia pra noite. Mas nem por isso não existem possibilidades ou se deve jogar fora o que há.
Confira o restante desta entrevista no blog do Autônomos FC.
Nós da Ultras Resistência Coral ficamos honrados com a lembrança dos camaradas do Autônomos FC e esperamos ansiosamente pelo dia em que poderemos disputar um racha com os camaradas, de preferência em alguma manifestação com bloqueio de rua!