O mundo em 1958 já vivia uma nova situação revolucionária. Dois anos antes eclode na Hungria uma grande revolução anti-burocrática, com as tropas da URSS sufocando o levante. Na URSS, Nikita Kruchev assume o posto de primeiro-ministro para depois denunciar os crimes de Stálin, a quem servira servilmente por mais de 30 anos.
Na Indochina (atual Vietnã) os franceses assassinam milhares para tentar manter o controle da colônia insubordinada, derrotas como a Die Ben Phu, para os guerrilheiros, já comandados pelo general Niag e por Ho Chi Min, põem em cheque a sua presença na região. Explode a sangrenta guerra Civil no Líbano, até então considerado a “Suíça do Oriente Médio”. A Argélia e outros países africanos ardem em busca de sua independência, que conquistariam na década seguinte. Em Cuba, os guerrilheiros liderados por Fidel Castro e Che avançam contra a ditadura sanguinária de Fulgêncio Batista. Na Colômbia uma guerra civil de dez anos entre liberais e conservadores é capitalizada pela reação democrática, abrindo caminho para o surgimento de uma guerrilha de esquerda que daria origem às FARC’s e ao ERP.
No Brasil, ainda repercute os ecos do suicídio de Getúlio Vargas, que morre para “entrar na história”. Tanto é que seu afilhado político, João Goulart – o Jango, é eleito como vice-presidente (a chapa presidencial não era casada). O presidente eleito, Juscelino Kubitscheck, governaria com a espada do golpe militar pairando sobre sua cabeça. O que aconteceria alguns anos depois.
Depois do Brasil em 50 e da Suíça em 54, mais uma vez foi escolhido como sede um país que não esteve no centro da segunda guerra. A Suécia, que, comparativamente a outros países, sofrera menos com o conflito, foi a escolhida. Os fantasmas da destruição nazista ainda assombravam o velho continente.
Além da Suécia, participaram França, Alemanha Ocidental, País de Gales, URSS, Irlanda do Norte, Iugoslávia, Tchecoslováquia, Hungria, Inglaterra, Escócia, Áustria e, pelas américas, Brasil, Paraguai, Argentina e México.
Pernas tortas
No Brasil, João Havelange acabara de ser eleito presidente da CDB, a Confederação Brasileira de Desportos, que englobava vários esportes, em uma época em que a CBF não existia. Havelange era um “craque” da natação e quando novo, disputara torneios nas águas, então límpidas, do Rio Tietê. Após um início desastroso, a seleção brasileira se redime e faz uma preparação física e psicológica primorosa, incorporando desta vez dirigentes e craques paulistas. Claro que, em meio a essa preparação, os cartolas não deixariam de cometer suas gafes, como ao colocar o extraordinário Garrincha na reserva por conta de suas pernas tortas (que entortavam os “Joãos” da vida) e por não conseguir passar nos rígidos testes psicológicos do Dr. João Carvalhaes. Bem, esse acabaria como mais um “João” no caminho de Garrincha que voltaria ao time titular a pedido dos jogadores mais experientes.
Essa copa revelou lendas do futebol mundial como Didi, “o príncipe etíope”, Nilton Santos, “a “enciclopédia do futebol”, Garrincha, “a alegria do povo” e um garoto de apenas 17 anos e futuro rei do futebol, Pelé. Jogadas antológicas, como o gol de Nilton Santos contra a Áustria. O botafoguense avançou pela esquerda, ignorou os berros do treinador Vicente Feola, mandando-o voltar, e atuou como um moderno ala, o “lençol” seguido de gol do menino Pelé em cima de um boquiaberto zagueiro sueco.
Mas Pelé, Garrincha e Vavá só foram efetivados no time titular após pedidos de Didi e Nilton Santos. Os dois primeiros estavam barrados certamente por serem jovens e negros, já que seus titulares (também bons jogadores) eram brancos e mais experientes. Porém ambos, assim como Vavá, estavam inspirados e puseram abaixo sólidas defesas como a da URSS (do lendário goleiro Lev Yashin), do País de Gales e da França (uma das zagas menos vazadas).
Estes craques comandaram um time que encantou o mundo; na primeira fase: 3 x 0 na Áustria, 0 x 0 com a Inglaterra, 2 x 0 na URSS; nas quartas-de-final: 1 x 0 no País de Gales; na semifinal: 5 x 0 na França e 5 x 2 na Suécia na finalíssima. Com esta campanha, o Brasil mostrou ao mundo um futebol-arte mais desenvolvido e organizado e faturou a taça.
O resultado elástico pode esconder a qualidade da equipe sueca, perigosa não só por que jogava diante de sua torcida, mas também por que vencera a sensação França do craque Kopa e do artilheiro da Copa Just Fontaine (até hoje o maior artilheiro de uma só edição com 13 gols). A França obteria a terceira colocação, seguida da Alemanha.
Desta copa em diante, para muitos, como o dramaturgo e cronista Nelson Rodrigues, o Brasil teria superado o seu “complexo de vira-lata” e ascendido à elite do futebol mundial no primeiro pedestal. O presidente Juscelino Kubitscheck telefonaria para Havelange ao final do torneio - “Durante a Copa do Mundo na Suécia, substituí vários ministros e não houve uma única palavra a respeito nos jornais. Estou pensando em fazer novas mudanças em futuro próximo. Qual a data da próxima Copa do Mundo?”.
O que ficou no imaginário da Copa de 58 é o triunfo de uma das melhores gerações de jogadores brasileiros, e o nosso primeiro título, o “espanta vira-lata”.
Fonte: Portal do PSTU
No Brasil, ainda repercute os ecos do suicídio de Getúlio Vargas, que morre para “entrar na história”. Tanto é que seu afilhado político, João Goulart – o Jango, é eleito como vice-presidente (a chapa presidencial não era casada). O presidente eleito, Juscelino Kubitscheck, governaria com a espada do golpe militar pairando sobre sua cabeça. O que aconteceria alguns anos depois.
Depois do Brasil em 50 e da Suíça em 54, mais uma vez foi escolhido como sede um país que não esteve no centro da segunda guerra. A Suécia, que, comparativamente a outros países, sofrera menos com o conflito, foi a escolhida. Os fantasmas da destruição nazista ainda assombravam o velho continente.
Além da Suécia, participaram França, Alemanha Ocidental, País de Gales, URSS, Irlanda do Norte, Iugoslávia, Tchecoslováquia, Hungria, Inglaterra, Escócia, Áustria e, pelas américas, Brasil, Paraguai, Argentina e México.
Pernas tortas
No Brasil, João Havelange acabara de ser eleito presidente da CDB, a Confederação Brasileira de Desportos, que englobava vários esportes, em uma época em que a CBF não existia. Havelange era um “craque” da natação e quando novo, disputara torneios nas águas, então límpidas, do Rio Tietê. Após um início desastroso, a seleção brasileira se redime e faz uma preparação física e psicológica primorosa, incorporando desta vez dirigentes e craques paulistas. Claro que, em meio a essa preparação, os cartolas não deixariam de cometer suas gafes, como ao colocar o extraordinário Garrincha na reserva por conta de suas pernas tortas (que entortavam os “Joãos” da vida) e por não conseguir passar nos rígidos testes psicológicos do Dr. João Carvalhaes. Bem, esse acabaria como mais um “João” no caminho de Garrincha que voltaria ao time titular a pedido dos jogadores mais experientes.
Essa copa revelou lendas do futebol mundial como Didi, “o príncipe etíope”, Nilton Santos, “a “enciclopédia do futebol”, Garrincha, “a alegria do povo” e um garoto de apenas 17 anos e futuro rei do futebol, Pelé. Jogadas antológicas, como o gol de Nilton Santos contra a Áustria. O botafoguense avançou pela esquerda, ignorou os berros do treinador Vicente Feola, mandando-o voltar, e atuou como um moderno ala, o “lençol” seguido de gol do menino Pelé em cima de um boquiaberto zagueiro sueco.
Mas Pelé, Garrincha e Vavá só foram efetivados no time titular após pedidos de Didi e Nilton Santos. Os dois primeiros estavam barrados certamente por serem jovens e negros, já que seus titulares (também bons jogadores) eram brancos e mais experientes. Porém ambos, assim como Vavá, estavam inspirados e puseram abaixo sólidas defesas como a da URSS (do lendário goleiro Lev Yashin), do País de Gales e da França (uma das zagas menos vazadas).
Estes craques comandaram um time que encantou o mundo; na primeira fase: 3 x 0 na Áustria, 0 x 0 com a Inglaterra, 2 x 0 na URSS; nas quartas-de-final: 1 x 0 no País de Gales; na semifinal: 5 x 0 na França e 5 x 2 na Suécia na finalíssima. Com esta campanha, o Brasil mostrou ao mundo um futebol-arte mais desenvolvido e organizado e faturou a taça.
O resultado elástico pode esconder a qualidade da equipe sueca, perigosa não só por que jogava diante de sua torcida, mas também por que vencera a sensação França do craque Kopa e do artilheiro da Copa Just Fontaine (até hoje o maior artilheiro de uma só edição com 13 gols). A França obteria a terceira colocação, seguida da Alemanha.
Desta copa em diante, para muitos, como o dramaturgo e cronista Nelson Rodrigues, o Brasil teria superado o seu “complexo de vira-lata” e ascendido à elite do futebol mundial no primeiro pedestal. O presidente Juscelino Kubitscheck telefonaria para Havelange ao final do torneio - “Durante a Copa do Mundo na Suécia, substituí vários ministros e não houve uma única palavra a respeito nos jornais. Estou pensando em fazer novas mudanças em futuro próximo. Qual a data da próxima Copa do Mundo?”.
O que ficou no imaginário da Copa de 58 é o triunfo de uma das melhores gerações de jogadores brasileiros, e o nosso primeiro título, o “espanta vira-lata”.
Por Dirley Santos, do Rio de Janeiro (RJ)
Fonte: Portal do PSTU
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