9 de junho de 2007

Reformas Neoliberais até no futebol

As reformas neoliberais entram em campo. Sócrates, o genial capitão da maravilhosa seleção de 1982, perdeu a paciência com o governo Lula.


Em sua coluna semanal na revista Carta Capital (24/11/2004), Sócrates (foto) convocou os jogadores de futebol a cruzar os braços e ficar nos vestiários. Para ele, só uma greve dá jeito na situação a que chegou o esporte mais popular do País. Segundo o capitão, o "Ministério do Esporte - sem qualquer oposição do núcleo do governo, é bom frisar - de cara já se alinhou com a classe dirigente e para ela ofereceu as mãos, os pés e tudo o mais que fosse pedido".

Mas não é este o maior problema. O ministério comandado pelo "perna-de-pau" Agnelo Queiroz (PC do B) tem outros gols contra de que se envergonhar. Trata-se de uma possível medida provisória que retiraria direitos trabalhistas dos jogadores. Entre outras coisas, a medida dispensaria os clubes de pagar adicional noturno, horas extras e o chamado direito de arena, que equivale a 20% do valor dos contratos com as emissoras de TV. Tudo isso para tentar resolver os problemas financeiros dos clubes. Problemas causados por todo tipo de barbaridade. Desde má administração até desvio de dinheiro. O fato é que os clubes são empresas como quaisquer outras e seus dirigentes são patrões. O governo não tem que ficar socorrendo patrões incompetentes ou corruptos.

Realmente é de perder a paciência. E Sócrates tem moral para falar. Foi um dos líderes da chamada "Democracia Corinthiana", movimento da virada dos anos 1970 para os anos 1980. O movimento era contra a concentração, defendia a organização dos atletas como qualquer outro trabalhador, jogaram com camisas do clube incentivando o voto nas eleições de 1982 e seu líderes participaram ativamente da campanha pelas Diretas Já, em 1984. Portanto, é um dos responsáveis pelas poucas, mas valiosas, conquistas daqueles que jogam futebol, daqueles que apenas torcem e também dos que nem gostam do esporte. Também ajudou muito na vitória eleitoral do atual governo.

O problema é que o apelo de Sócrates pode não ter resposta. A verdade é que cerca de 90% dos 20 mil jogadores profissionais no Brasil ganham de 1 a 3 salários mínimos. E dos 10% que ganham acima disso, apenas 3,7% recebem mais de 20 salários mínimos. (Dados do Departamento de Registro e Transferência da Confederação Brasileira de Futebol publicados na Folha de S. Paulo, de 29 de fevereiro de 2000).

Mas a impressão que a grande maioria de nós tem é a de que jogador de futebol é milionário. E essa impressão também deve fazer efeito entre os próprios atletas. Muitos acham que, um dia, serão "descobertos" e também passarão a receber salários elevados. Afinal, essa imagem é difundida diariamente pelos meios de comunicação, não só nos programas esportivos de rádio e tevê. Também nas publicações e programas de fofocas, em entrevistas com celebridades do futebol e até em revistas eróticas. E o governo Lula aproveita tudo isso para justificar ataques a seus direitos. É como se os jogadores ganhassem muito. Fossem mercenários etc.

São trabalhadores. Se alguns poucos ganham muito dinheiro, é porque geram muito mais dinheiro para as marcas de que fazem propaganda. Além disso, têm uma vida profissional curta, que pode ser ainda mais abreviada por mortes súbitas. Foi o que aconteceu com o jogador Serginho do São Caetano, que morreu durante uma partida. Tudo indica que seus patrões sabiam de seu problema de saúde, mas nada fizeram para preservar a vida do jogador.


Sérgio Domingues

Fonte: SITE REVOLUTAS

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