5 de dezembro de 2009

À procura de Eric: comédia de Ken Loach retrata mais que o futebol e a classe operária

Muitos se surpreenderam ao saber que o novo filme do cineasta britânico Ken Loach se tratava de uma comédia. Á procura de Eric (Looking for Eric), porém, apesar do gênero, nada deve à filmografia de Loach, conhecido por seu cinema engajado e por explorar uma temática sempre ligada à classe operária. Fazem parte dessa lavra, por exemplo, filmes como Pão e Rosas, Meu nome é Joe e talvez seu filme de maior sucesso, o épico Terra e Liberdade, sobre a guerra civil espanhola.

No novo filme de Loach, temos a história do carteiro Eric Bishop (Steve Evets), homem de meia idade em constante crise e que, como seus companheiros, encontra no futebol sua principal válvula de escape. Após sofrer um acidente de carro e começar a fumar maconha para aliviar a tensão, Eric começa a receber a “visita” do ex-jogador francês Eric Cantona, seu ídolo, numa espécie de alucinação.

Quem faz o papel da visão de Cantona é o próprio jogador, famoso por sua carreira no Manchester United. Como uma espécie de guru, Cantona ajuda o carteiro a enfrentar seus problemas. Sempre com frases feitas e ajustáveis a qualquer contexto, como “sempre há mais alternativas do que imaginamos”, ditas com um olhar confiante, o jogador tece diálogos hilários com o protagonista, numa crítica ácida e irônica aos manuais de auto-ajuda, tão em voga nos últimos anos.

A imprensa apresenta À procura de Eric como um filme que “une comédia e futebol”, numa enorme simplificação. O futebol, claro, está lá. A crítica à mercantilização dos grandes clubes. A relação da classe trabalhadora com o esporte, como uma catarse coletiva. “É o único momento em que podemos gritar, rir, chorar sem sermos presos pela polícia”, diz em determinado momento o carteiro.



Os principais lances da carreira de Cantona também estão lá, mostrados como flasbacks entre as longas conversas do jogador e seu discípulo. Em um desses diálogos, muito bonito por sinal, Eric pergunta ao ex-atleta qual a melhor jogada em toda a sua brilhante carreira. Para a surpresa do carteiro, Cantona afirma que não fora um de seus inúmeros gols, mas sim um passe certeiro a um companheiro do Manchester que finalizou a jogada.

O ídolo representa para Eric um momento feliz de sua vida, perdido no passado. Assim como as imagens pouco nítidas dos gols e jogadas dos anos 80 e 90, a vida do carteiro também parece ter estacionado em algum momento de sua trajetória. Loach, no entanto, surpreende ao conduzir bem uma comédia, arrancando risos e, ao mesmo tempo, emocionando a plateia. Um crítico maldoso chegou a dizer que havia sido a primeira vez que saía feliz de um filme do diretor britânico.

Outros aspectos da vida da classe trabalhadora, porém, também estão lá. A violência urbana e policial, os dramas familiares, a angústia e a frustração de uma vida aparentemente sem sentido. A saída que o cineasta aponta, no entanto, passa longe do individualismo holywoodiano. Aqui, Eric não “ergue a cabeça e vai à luta”. A exemplo de Pão e Rosas, a perspectiva indicada por Loach é coletiva.

Diego Cruz da redação do Opinião Socialista.

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