3 de novembro de 2009

O problema sócio-econômico do futebol cearense

Sou um dos mais ferrenhos críticos ao calendário do futebol cearense. Há quase três anos, tenho publicamente batido na tecla de que o atual modelo enfraquece o futebol local como um todo, privilegiando e protegendo apenas os clubes que disputam a Série B nacional, excluindo a maioria esmagadora das equipes. O problema se repete há tempos sem que nada seja feito de concreto, num total desrespeito ao que reza o Estatuto do Torcedor que prevê, no mínimo, dez meses de competições oficiais para todos.

Enquanto Ceará e Fortaleza oferecem o pão e o circo, a discussão sequer é lembrada. O silêncio vergonhoso de quem teria a obrigação de promover o debate acoberta não apenas uma injustiça - e ilegalidade - esportiva, mas uma questão seriíssima em nível sócio-econômico. Há uma altíssimo nível de desemprego entre os profissionais da bola, que na melhor das hipóteses, são submetidos a contratos temporários de apenas três ou quatro meses no ano inteiro.

Semana passada, o promissor zagueiro Tonton foi vítima desse calendário excludente. Tendo que se submeter a faturar, em nome da própria sobrevivência, míseros 200 Reais para disputar uma partida de liga interiorana, o ex-beque do Horizonte faleceu em acidente automobilístico. Tonton é apenas mais um exemplo, pois, na prática, todos os dias inúmeros atleta locais passam fome por não ter onde trabalhar, diante da curiosa inoperância de seu próprio sindicato.

A FCF acena mudanças a partir da criação de uma copa estadual, já anunciada, que premiará o campeão com uma vaga para a Copa do Brasil no ano seguinte, a exemplo do que acontece em todos os outros estados brasileiros. Já não era sem tempo. O problema do desemprego será minimizado e ainda exigirá dos clubes um nível de planejamento que a maioria não está acostumada - e essa lógica inclui o Ferroviário. Melhor para o futebol cearense, que passará por um processo de seleção natural onde os bons, comprometidos e organizados ficarão, o que a médio e longo prazo, fortalecerá o nosso desporto.

Vai sempre haver quem ache ruim, afinal de contas é bem mais fácil permanecer na inatividade e na zona de conforto, local onde podem ser realizados os negócios mais escusos, longe dos holofotes durante a maior parte do ano, o que muitas vezes inviabiliza um processo de mudança. Vamos ver se os dirigentes eleitos da nova FCF cumprirão a promessa e quebrarão o status quo. Se assim o fizerem, estarão contribuindo para um futebol cearense mais forte e merecerão o respeito de uma legião de desportistas que vêem o esporte de uma forma muito mais ampla do que simplesmente a rivalidade nos gramados.

Postado por Evandro Gomes


Fonte: Portal oficial do Ferroviário

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