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19 de setembro de 2010

Deu na New Yorker: ódio do futebol encobre desprezo por hispânicos

Os americanos odeiam futebol? Não o futebol regular, naturalmente. Não o futebol da primeira das dez jardas, da jogada longa, dos acertos tardios e dos times especiais, das cheerleaders pneumáticas em roupas curtas, das concussões cerebrais em série — o jogo que todos os americanos amam, com exceção de alguns cabeçudos. Não aquele. O outro. Aquele cujo princípio básico do jogo é chutar uma bola com o pé. Aquele que o resto do mundo chama de “futebol”, exceto quando é chamado (por exemplo) futbal, futball, fútbol, futebol, fotball, fótbolti, fussball ou (como na Finlândia) jalkapallo, que traduz literalmente como “futebol”. Aquele.

A questão é colocada agora — como surge periodicamente por oito décadas — por conta da Copa do Mundo, o torneio global quadrienal do esporte que aqui é chamado de soccer. “Soccer”, por sinal, não é um neologismo ianque mas uma palavra de impecável origem britânica. Deve-se a sua invenção a um esporte rival, o rugby, cujos proponentes estavam lutando uma batalha perdida pela marca “futebol” mais ou menos na época em que estávamos preocupados com uma guerra mais sanguinária, a Guerra Civil. O apelido do rugby era (e é) rugger e seus jogadores são chamados ruggers — uma coisa da classe alta, que usa “champers” para champagne. “Soccer” é o equivalente de ruggers no palavreado de Oxford. O “soc” é diminutivo de “assoc”, para “futebol de associação”, as regras que foram codificadas em 1863 pela toda poderosa Football Association, a FA — a FA sendo no Reino Unido o que a NFL, NBA e MLB são nos Estados Unidos. Mas onde estávamos? Ah, sim. Os americanos odeiam futebol? Soccer, quero dizer?
Aqui está uma resposta plausível: nós não odiamos.

Os que não odeiam somam cerca de 20 milhões que ficaram dentro de casa em um sábado de clima agradável para ver Gana se juntar à Inglaterra, Eslovênia e Argélia na lista de países que este ano foram derrotados ou empataram com os Estados Unidos na Copa do Mundo. Ficamos decepcionados — Gana venceu por 2 a 1 e mandou nosso time para casa desde a África do Sul. Ainda assim, 19,4 milhões, o número registrado pela audiência do Nielsen, é um monte de gente. Não foi apenas o recorde de pessoas que viram um jogo de futebol nos Estados Unidos. É mais gente, na média, que aqueles que viram a World Series [Nota do Viomundo, que torce para os Yankees, de Nova York: final do "campeonato mundial" de beisebol dos Estados Unidos, disputada entre dois times americanos] do ano passado, transmitidas em horário nobre. É alguns milhões a mais que os que viram o Kentucky Derby [principal prova de turfe] ou a final do Masters de golfe ou a Daytona 500, a jóia da coroa da NASCAR [categoria mais popular de automobilismo nos Estados Unidos].

E nós não apenas assistimos. Nós praticamos. É estimado que haja cinco milhões de adultos americanos praticando soccer nos Estados Unidos de forma regular. As crianças são doidas por futebol, especialmente as mais novas. Mais crianças americanas praticam futebol, informalmente ou em ligas organizadas, que qualquer outro esporte coletivo. O soccer pode ser importado, assim como toda nossa população não nativa, mas está a caminho de se tornar algo tão americano quanto a pizza, o taco e as batatas fritas [french fries]. (E a maternidade: apesar da Sarah Palin, as “soccer moms” — um termo introduzido no mundo político em 1996, por um consultor republicano — representam um traço demográfico chave).

[Nota do Viomundo: "Soccer moms" são as mães que levam os filhos para jogar futebol em ligas locais nos fins-de-semana, ou que vão levar e buscar os filhos e filhas nos treinamentos de futebol que acontecem nas escolas. Elas ficam incentivando as crianças ao lado do campo e trocam figurinhas sobre os assuntos essenciais do subúrbio americano, inclusive sobre política. Subúrbio nos Estados Unidos não é pejorativo, são os condomínios abertos de classe média]

Naturalmente, o soccer tem enfrentado desafios nos Estados Unidos, a maioria deles devido a ser uma novidade na arena do comércio americano. O entusiasmo das crianças é ótimo, mas se fosse suficiente a Nike inventaria uma divisão dedicada à queimada. Comparado com seus rivais já estabelecidos, o soccer é ruim para a exploração televisual. O caráter contínuo do jogo, de ação quase ininterrupta, nega os intervalos necessários para promover cerveja e para permitir que se vá à geladeira apanhar uma. O expediente de vender espaço no corpo dos jogadores — encher os uniformes com logos corporativos do pescoço ao umbigo — é bem menos que satisfatório. Além disso, o campo de futebol é bem maior que o grid do futebol americano ou o diamante do beisebol e a coreografia do jogo exige ângulos abertos de câmera. Na TV, os jogadores aparecem minúsculos — um problema para aqueles que não estão equipados com as telas enormes de TV.

Os americanos odeiam o soccer? Bem, alguns de nós desgostamos moderadamente — não do jogo em si, mas do que acabou representando. Mas nesta primavera os ataques anti-futebol da direita deram um salto equivalente à venda das TVs gigantes. Em 1986, Jack Kemp, o ex-quarterback do Buffalo Bills que se tornou deputado republicano, foi à tribuna do Congresso para se opor a uma resolução que apoiava a tentativa dos Estados Unidos (que acabou bem sucedida) de sediar a Copa do Mundo de 1994. Nosso futebol, ele declarou, incorpora o “capitalismo democrático”; o futebol “deles” é “socialismo europeu”. Kemp, no entanto, estava brincando.

Hoje os conservadores que atacam o futebol não parecem estar de brincadeira. As reclamações deles são variações do tema “não americano”. “Eu odeio o soccer talvez porque o mundo goste tanto dele”, Glenn Beck, a estrela da Fox News, proclamou. (Também, “as políticas de Barack Obama são uma Copa do Mundo”). O que realmente incomoda “os bobos críticos da esquerda”, editorializou o Washington Times, é que “os esportes mais populares nos Estados Unidos — futebol, beisebol e basquete — tiveram origem aqui na Terra dos Livres”. No site do American Enterprise Institute o colunista do Washington Post Marc Thiessen, autor de discursos de George W. Bush, escreveu que o “soccer é um esporte socialista”. Também, que é “um esporte coletivista”. Também, “talvez em tempos de Barack Obama o soccer vai finalmente pegar nos Estados Unidos. Mas suspeito que socializar o gosto dos americanos em relação a esportes é uma tarefa mais difícil que socializar nosso sistema de saúde”.

E, então, há G. Gordon Liddy. Soccer, ele disse aos ouvintes de seu programa de rádio, “vem da América Latina e primeiro temos de lidar com este termo, hispânicos. Isso indicaria o idioma espanhol e, sim, essas pessoas na América Latina falam espanhol. Isso é porque os conquistadores que vieram da Espanha — como você sabe entre eles não estava um grande número de caucasianos — conquistaram os indígenas, conquistaram os indígenas e os indígenas adotaram o idioma de seus conquistadores. Mas o que chamamos de hispânicos na verdade são indígenas sul americanos. E este jogo, penso eu, se originou com os indígenas sul americanos e em vez da bola eles usavam uma cabeça, a cabeça decapitada de um guerreiro inimigo”.
O convidado de Liddy, um “crítico de mídia” conservador chamado Dan Gainor, respondeu cautelosamente (“o soccer é um jogo tão básico que provavelmente você pode seguir várias pistas sobre suas origens”), mas ao mesmo tempo afirmou que “toda a questão hispânica” está entre as razões que fazem “a esquerda” promover o jogo “em escolas do país”.

Nós odiamos o soccer? Isso depende de quem “nós” pensamos que somos. Uma das coisas que o charmoso livro “Como o soccer explica o mundo”, de Franklin Foer, explica, é como o futebol, com a globalização e seus efeitos unificadores, nos dá oportunidade para a expressão de ideias nacionalistas, não necessariamente anti-liberais, e para a expressão do tribalismo, que quase sempre é anti-liberal. A soccerfobia da direita americana é tribalismo mascarado de nacionalismo. Um de cada quatro telespectadores daqueles vinte milhões que viram o jogo Estados Unidos vs. Gana estava assistindo a Univision, a principal rede de televisão hispânica dos Estados Unidos. Os outros três eram — bem, quem sabe… Liberais provavelmente, ou algo pior [Nota do Viomundo: A palavra "liberal", nos Estados Unidos, é usada em contraposição a "conservador"]. Deu. Cartão amarelo ou vermelho. Talvez o soccer nunca se torne o jogo americano (embora já seja um deles), mas os Estados Unidos são jogo para o soccer. Somos a Terra dos Livres, não? Podemos ser a terra do chute livre, também?

Escrito por Hendrik Hertzberg,
na coluna The Talk of the Town,
New Yorker, 12 a 19 de julho de 2010

23 de agosto de 2010

Da Copa ao 'Comando Africano' do USA

Hugo R. C. Souza

O esmero dos velhos e novos demagogos em prol do embuste da "Copa do Mundo social" é gigantesco. Na África do Sul ainda segregacionista, ainda injusta, e ainda governada por lacaios das potências e, portanto, ainda semicolônia, o corrupto Jacob Zuma, gerente sul-africano, e o corrupto Josef Blatter, chefe da todo-poderosa e bilionária Federação Internacional de Futebol (Fifa), juntaram-se no show de abertura da Copa para insistir na ladainha de que começava ali uma festa do povo. Mais agigantado ainda, entretanto, é o ânimo das massas sul-africanas oprimidas para desmascarar a burguesia festeira de riso fácil.

À farsa dos "centros sociais" erguidos pela transnacional escravocrata de materiais esportivos Nike no bairro popular do Soweto, ao embuste da campanha "1 Goal", com a qual a Fifa tenta emplacar a cobrança genérica e inócua por educação para todas as crianças africanas como contraponto ao alto faturamento dos ricos na Copa, à falácia dos "benefícios sociais" que a Copa, dizem, trará para os povos da África em geral e para o povo sul-africano em particular, a tudo isso, as massas trabalhadoras respondem com mobilizações e retumbantes protestos contra as políticas de degradação das condições de vida e de exploração extremada da mão de obra local avalizadas pela gerência Zuma, e das quais tiram proveito os organizadores do evento, seus patrocinadores oficiais e as empreiteiras contratadas para erguer os estádios e fazer outras obras no país sede do campeonato mundial de futebol profissional.

Exemplo disso foi a manifestação de cerca de 400 operários realizada logo após a partida da Copa entre Alemanha e Austrália, na cidade de Durban no dia 13 de junho, em frente ao estádio Moses Mabhidas. A revolta dos trabalhadores explodiu porque, enquanto transnacionais como Visa, Adidas, Sony e Coca-Cola colocavam seus painéis publicitários no estádio, os operários que ergueram a arena esportiva tiveram seus pagamentos cortados em mais de um terço, de 250 rands por dia, o equivalente a míseros US$ 33, para ainda mais míseros 190 rands.

Os 'embaixadores' do Africom

Enquanto transcorre a lucrativa festa futebolística promovida pela Fifa, por uma dúzia de transnacionais e pelo governo oportunista da África do Sul, acirra-se a corrida imperialista em todo o continente africano, seja por meio dos chamados investimentos estrangeiros diretos, terreno onde a China revisionista vem ganhando espaço com uma massiva compra de terras junto às classes dominantes locais, seja pelo caminho da "ajuda humanitária", corolário politicamente correto que visa amenizar a truculência dos esforços pela partilha do mundo, ou ainda pela via clássica e cara mais evidente da ferocidade imperialista: o aumento da presença militar.

É neste cenário que o USA vem reforçando seus esforços de dominação na África por meio do seu chamado "Comando Norte-Americano para a África", o Africom. Trata-se de um destacamento do exército ianque alocado no continente africano para garantir os interesses dos monopólios do USA naquela tão castigada região do mundo, cujos povos vêm há séculos sendo penalizados pelos processos de colonização e recolonização por parte das potências. Os chefes militares do Africom chegam a ser chamados de "embaixadores".

No último dia 13 de junho, por exemplo, dia seguinte à abertura da Copa do Mundo, o chefe adjunto do Africom, o "embaixador" Tony Holmes, chegou a Cabo Verde, na costa oeste da África, a fim de "reforçar a cooperação" entre o USA e o arquipélago cabo-verdiano, onde já existe um Centro de Operações de Segurança Marítima (COSMAR) financiado pela Casa Branca.
Criado em outubro de 2007, o Africom se encontra sediado em Stuttgart, na Alemanha (país onde há o maior número de bases militares ianques fora do USA), contando com um efetivo de 1.300 funcionários civis e militares, mas seus comandantes estão procurando o melhor lugar para instalar um grande destacamento em solo africano, e os governos da Libéria e do Marrocos já se oferecem para receber as tropas do famigerado comando.

Fonte: A Nova Democracia

16 de agosto de 2010

Bola da Vez: Andrew Jennings

Entrevista do Bola da Vez dia 14 de Agosto de 2010
ESPN Brasil

Em entrevista ao programa Bola da Vez, ele afirmou que a reputação do brasileiro só é boa por aqui e denunciou pelo menos dois graves casos na passagem de Havelange pela Fifa.
Jennings é mais crítico ainda com Jack Warner, vice-presidente da Fifa. O jornalista chega a analisar que o mundo seria melhor sem ele.
Andrew Jennings também disse ter conhecimento da operação nos bastidores que trouxe a vitória à candidatura de Londres para ser sede da Olimpíada de 2012

Parte 1:



Assista as demais partes da entrevista:

10 de agosto de 2010

África do Sul - alguns dados do país que sediou a Copa do Mundo


O salário de um operário sul-africano equivale a aproximadamente R$ 350,00.

Segundo relatórios da ONU, a África do Sul é um dos dez países com maior desigualdade de renda no mundo.

79,8% da população sul-africana é composta de negros, 9,1% de brancos, 8,9% de mestiços e 2,1% de hindus e asiáticos.

44% da população desse país vive na zona rural.

Mas 5,7 milhões de pessoas (mais de 10% da população) estão infectadas pelo vírus HIV (Aids). A cada ano são 500 mil novos casos, 20% deles entre crianças. Estudos contabilizam uma média de mil mortes por dia em decorrência da doença.

27% da população está desempregada. 65% dos desempregados tem menos de 35 anos de idade.

Na África do Sul ocorrem em média 28 mil assassinatos ao ano, número quase absoluto entre as populações mais empobrecidas.

Dados do Banco Mundial apontam que 34% dos sul-africanos vivem com menos de dois dólares por dia (menos de R$ 4,00).

Apenas 5% dos negros sul-africanos conseguem chegar à universidade.

Para a organização da copa do mundo de futebol, no país, foram desembolsado aproximadamente R$ 4,5 bilhões.

Retirado do jornal A Nova Democracia.
Para ler o artigo completo acesse: http://www.anovademocracia.com.br/no-67/2878-africa-do-sul-enquanto-a-copa-cega-e-ensurdece-o-mundo

13 de julho de 2010

Fifa ignora caos aéreo e mantém elogios à África do Sul

Depois da crise na segurança, a última semana da Copa do Mundo de 2010 viveu um de seus problemas mais graves sobre gestão. O congestionamento das zonas de estacionamento do aeroporto de Durban provocou atrasos em voos e truncou o funcionamento do aparato. Nem isso, porém, foi suficiente para manchar a imagem da África do Sul para a Fifa.

Na última quinta-feira, a entidade promoveu entrevista coletiva em Johanesburgo para falar sobre saldos da Copa do Mundo de 2010. Assim como vinha fazendo em todos os eventos relacionados ao torneio, fez contundentes elogios à África do Sul e ao comitê organizador local (COL).

“Como presidente da Fifa, eu estou satisfeito demais. Quando o troféu for entregue às mãos de um novo campeão, tenho certeza que o que ficará é a imagem de uma excelente Copa do Mundo. Temos muitos fatores que comprovam isso”, disse Joseph Blatter, presidente da Fifa.

O dirigente usou diferentes argumentos para reforçar seus elogios à África do Sul. Sua explicação passou por temas como audiência, número de espectadores nos estádios e até o fair play: “Tivemos menos lesões nessa Copa, o que comprova que os atletas estão respeitando mais seus companheiros. Também não tivemos nenhum caso positivo de doping em todos os exames realizados antes e durante o torneio”.

Blatter também dividiu o mérito pelo sucesso da Copa do Mundo com todo o continente africano. “O povo daqui pode ficar orgulhoso e o futebol daqui pode ficar orgulhoso de tudo que foi feito na competição. É possível notar um grande esforço de todos os envolvidos”, encerrou o mandatário.

O discurso de ode à África do Sul também foi feito por dirigentes locais. Issa Hayatou, presidente da Confederação Africana de Futebol (CAF), estava no evento e reforçou as palavras de Blatter. A diferença é que ele retribuiu à Fifa o tom elogioso.

“Antes de a bola rolar, muita gente dizia que não seria possível fazermos a Copa. Houve erros, mas hoje eu posso dizer que nós fizemos. Antes mesmo da decisão, só posso agradecer a todos. Agradeço principalmente à Fifa, que teve a coragem de fazer a Copa do Mundo vir para a África”, disse o dirigente do futebol no continente.

Fonte: Máquina do Esporte.

10 de julho de 2010

O fim da patriotada nos pés dos mercenários da seleção brasileira

Após quase um mês de histeria midiática no país, a seleção brasileira de futebol foi eliminada nas quartas de finais da Copa do Mundo da África do Sul pela equipe da Holanda, perdendo o jogo por 2 a 1. Mesmo que a escrete de Dunga tivesse passado para outra fase, toda a ilusão em torno da Copa e seu significado para os trabalhadores obriga-nos a fazer uma necessária reflexão de classe: o futebol profissional há muito superou a categoria de esporte para se converter em um dos principais aparelhos estratégicos-ideológicos do modo de produção capitalista levados a cabo pelos grandes proprietários dos meios de produção.

Globalizado, desde o seu nascedouro – a partir dos clubes nacionais – o futebol brasileiro deságua na CBF até desembocar na Fifa, o esporte-indústria cimentou-se sobre uma estrutura mafiosa, cujos dirigentes remetem livremente a paraísos fiscais (empresas off-shore) grandes quantidades de capital para lavar dinheiro de negociatas, trambicagens, fraudes. A enorme quantidade de capital exportado serve para corromper e controlar sistemas obscuros de apostas clandestinas em todo o mundo (Falta! O mundo secreto da Fifa: subornos, compra de votos e escândalos com ingressos, Andrew Jennings, 2006).

Dentro desta perspectiiva, o mundo do futebol encerra em si mesmo um paradoxo: sendo uma “indústria” altamente rentável, globalizada, supranacional, inculca fortes sentimentos localistas, regionalistas e nacionalistas. Por isso, o clima “patrioteiro”, tão exacerbadamente difundido pela mídia burguesa na época das copas do mundo, não poderia ser outra coisa senão uma artificialidade, cuja essência não tem qualquer correspondência com os verdadeiros sentimentos nacionalistas de cunho progressivo. A caricatura de “nacionalismo” incentivada pela mídia e as grandes empresas transnacionais (!) serve apenas para euforizar e estupidificar as massas para que consumam produtos anunciados antes e durante a copa.

MERCENARISMO, CANELADAS, PISÕES, VIOLÊNCIA E BELICOSIDADE NO FUTEBOL COMO EXPRESSÃO DA IDEOLOGIA BURGUESA

“Patriotismo” e moderno futebol brasileiro são binômios irreconciliáveis. A começar pelo fato de quase todos os jogadores da seleção brasileira atuam fora do país, os quais são considerados no mercado como objetos de troca e venda nas mãos dos patrocinadores e empresários multinacionais, os que, de fato, mandam e desmandam na seleção brasileira e nas demais. Desta forma, jogadores trocam de camiseta a quem melhor lhes pagar cotas de patrocínios, salários, venda de imagem etc. Trata-se do que há de mais extremado no que tange a difusão do mercenarismo dentro do futebol, plenamente em correspondência às necessidades mercadológicas das grandes corporações capitalistas. Só para situar, tropas mercenárias estão sendo utilizadas em grande quantidade na guerra do imperialismo ianque contra o Iraque, Afeganistão e prepara o terreno para invadir nestes moldes o Irã.

A entidade máxima do futebol mundial, a Fifa e suas confederações, passa a desenvolver a filosofia da maximização do lucro a partir da copa de 1950, ou seja, vincular drasticamente o futebol à indústria do esporte. No entanto, foi na década de 80 do século passado que esta orientação se aprofundara através da comercialização milionária de jogadores em todo o mundo, os quais eram cotados inclusive nas bolsas de valores. O Brasil tornou-se um celeiro para o “Velho Mundo”.

Desde então o futebol brasileiro começou a ser europeizado, ou seja, a prática do uso excessivo da força, da correria e da violência em detrimento do futebol arte tão peculiar ao que o Brasil outrora praticava. Neste sentido, na copa da África do Sul o que predominou foi um festival de caneladas, pisões desleais, expulsões e notória falta de criatividade. Atitudes estas marcaram a atuação de Kaká, adepto da bispa Sônia da arqui-reacionária Igreja “Renascer em Cristo” e de “badboy” Felipe Melo que agrediram belicosamente seus adversários. Kaká foi belicoso até mesmo contra quem o criticava fora dos campos. Precisamente falando, foi o futebol pancada de resultados que vingou nesta copa, principalmente advindo do selecionado brasileiro dirigido por Dunga, um ícone do futebol truncado, defensivo e de resultados... péssimos resultados. Deslealdade, individualismo, competição, destruição sem criar nada de novo, estagnação (tediosa retranca armada pela comissão técnica) eis, em poucas palavras, o que representa a ideologia burguesa dentro dos campos de futebol.

O capitalismo tudo destrói de forma impiedosa. O futebol não poderia fugir à regra histórica da luta de classes. A atual lógica do mercado extirpa a alma do futebol, a alegria de jogar, a paixão e o espírito de coletividade. A “Era Dunga” matou soberbamente estas perspectivas grandiosas sob o signo do lucro de clubes e entidades corruptas. Por isso fomos eliminados nas quartas de finais...

Fonte: Liga Bolchevique Internacionalista.

7 de julho de 2010

Tristeza não tem fim

Acabou-se a Copa do Mundo. Pelo menos para os brasileiros e argentinos, após a derrota de ambas as seleções diante da Holanda e Alemanha, respectivamente. Minha primeira análise destas derrotas esportivas será, precisamente, “esportiva”. Ou mais exatamente “psicológico-esportiva”.

Ainda que entrem vários outros fatores, acho que em ambas as derrotas há a responsabilidade dos dois técnicos. Dunga e Maradona são dentro do campo de futebol (e seguem sendo) dois técnicos, duas personalidades opostas. Inclusive parecem ser opostos em suas opiniões sobre temas políticos. Neste último sentido, é muito provável que Maradona seja visto com muito mais simpatia pelos ativistas de esquerda.

No entanto, apesar das diferenças, ambos têm uma característica comum: os dois são soberbos e personalistas ao extremo. E essa característica foi impressa em suas equipes, apesar de que isso (como não podia ser de outra maneira) tenha se expressado em erros bem diferentes entre as duas equipes.

Dunga atou a seleção brasileira a uma confusa “táctica de jogo”, e assim matou a criatividade natural do jogador brasileiro. Em um jogo que o Brasil estava ganhando, com uma equipe jogando muito melhor do que a Holanda, ao invés de pedir a seleção brasileira para continuar atacando, Dunga mandou jogar atrás, de contra-ataque, e assim permitiu a reação da equipe holandesa. Esclarecemos que a Holanda de hoje não é a “laranja mecânica” dos anos 1970. Parece mais com um “limão mecânico”, por seu escasso vôo futebolístico individual. Mas teve força e vontade suficiente para virar a partida.

Maradona, por sua vez, igual aos tempos em que era jogador, apostou todas suas fichas na criatividade individual dos jogadores, sem nenhuma consideração pela táctica nem a adaptação necessária diante de diferentes rivais. Contra a Alemanha, pretendeu jogar da mesma forma quando enfrentou a Coréia do Sul. Manteve uma defesa frouxa e deixou Mascherano sozinho no meio para marcar todos os alemães que passavam por aí, na velocidade de um Porsche. Uma tarefa que nem Patoruzú (1) poderia cumprir.

Poderá se alegar a favor de Dunga que seu ciclo, considerado globalmente, foi muito exitoso. Mas isso não impediu que perdesse uma partida fundamental diante de um rival um pouco mais que medíocre. E, o mais importante, a seleção nunca jogou do jeito que os brasileiros gostariam de vê-la. Poderá se alegar a favor de Maradona que sua aposta foi a favor de um futebol vistoso. Mas isso não impediu que a equipe argentina diante da Alemanha se assemelhasse à cavalaria polonesa enfrentando aos tanques alemães na Segunda Guerra (2).

Países exportadores de matérias primas


Minha segunda análise vai ser político-econômica. Na atual estrutura de nações, Brasil e Argentina são países semi-coloniais, cujo papel essencial na divisão internacional de trabalho é ser provedores de matérias primas para os países imperialistas. Este papel repete-se neste “show business” que representa o futebol mundial.

Nas praias e morros do Brasil, nos pampas e “potreros” (3) da Argentina formam-se muitos dos jogadores que, depois, vão brilhar nos torneios do imperialismo futebolístico dominante; isto é, o europeu. Os contratos e salários do campeonato espanhol, italiano, inglês ou alemão são muito superiores aos que se pode pagar por estas terras. Assim o destino inevitável de todo bom jogador sul-americano é emigrar para a Europa. Desta forma, a estrutura do futebol repete o mesmo “saque de recursos naturais” que se produz em outros ramos da economia.

A ilusão da “igualdade”


Mas a cada quatro anos a Copa do Mundo produz uma ilusão. Os países europeus nos “emprestam” esses jogadores para armar nossas equipes de futebol “nacionais” com possibilidades de vencer as seleções europeias. Até hoje, pelo menos metade das Copas disputadas foram ganhas por seleções sul-americanas. Assim, se alimenta a ilusão de “recuperar”, pelo menos no terreno do futebol, parte do que o imperialismo nos rouba quotidianamente.

Mas os dois últimos mundiais parecem querer acabar inclusive com esta ilusão. Muito se falou (apressadamente) de que este era o “mundial sul-americano”. Mas, nos três confrontos com equipes européias, os sul-americanos foram eliminados. Como diz a formosa canção de Vinicius de Moraes, “Tristeza não tem fim”.

Claro que o Uruguai ainda segue defendendo a “honra sul-americana”, e suspeito que a “celeste” tenha hoje a maior torcida virtual do planeta: mais de 500 milhões de latino-americanos clamando pela “vingança” frente aos europeus.

NOTAS


(1)Patoruzú foi um famoso personagem dos quadrinhos argentinos que representava um índio tehuelche de excepcional velocidade e força.

(2)Em 1939, o exército alemão invadiu a Polônia, com as armas mais modernas da época, entre eles os tanques Panzer. O exército polonês resistiu com meios muitos mais obsoletos como sua força de cavalaria e foi derrotado.

(3) “Potrero” significa literalmente “lugar onde pastam e descansam os potros”. Por extensão, é o lugar onde se jogam partidas de futebol improvisadas, como as “peladas” no Brasil


Escrito por: Alejandro Iturbe.

1 de julho de 2010

Dunga e as estruturas de poder do futebol brasileiro

Subindo a escada já no último degrau

Carlos Caetano Bledorn Verri atende pela alcunha de Dunga e recebeu uma oportunidade rara sob todos os pontos de vista. Temos de reconhecer que nenhum trabalhador, de ofício algum, seja ele ou ela classista ou arrivista identificado pelo selo de “profissional”, jamais inicia sua trajetória no mundo do trabalho pelo topo e consagração em sua carreira. Nem mesmo os mais críticos contra a marketização, inimigos viscerais da ampliação dos espaços de mercado na sociedade – como este aqui a escrever – vão admitir um neófito dar o primeiro passo a partir do posto máximo imaginável. Dunga, que justiça seja feita mais se parece com o anão zangado, atingiu o topo do mundo sem subir degrau algum. Jamais treinara nem sequer time de futebol de botão (outro patrimônio cultural dos povos brasileiros) e começa a coordenar a seleção mais cultuada do planeta.

A Confederação Brasileira de Futebol é uma entidade privada, supostamente federalista, mas na prática reflete um poder executivo quase imperial de seu presidente. Assim o foi na Era João Havelange (quando ainda havia a CBD), e após o mesmo passara com o almirante Heleno Nunes. Vale observar que este naval fora o “gênio” que forçou o capitão de artilharia do Exército e egresso de sua Escola de Educação Física, Cláudio Coutinho, a deixar o Falcão no Brasil e escalar o volante do São Paulo, Chicão, para a Copa de 1978 na Argentina. Dizem os porões que o volante são paulino era cutuado com um “Deus da Raça” do DOPS. Não me espanta. Seguindo na trajetória da entidade, já como CBF, houve a vexatória dupla de comandantes políticos, Octávio Pinto Guimarães e o então deputado Nabi Abi Chedid; culminando no Reinado de Ricardo Teixeira, o ex-genro (de Havelange). Este operador da Bolsa de Valores, amo e senhor da estrutura máxima do futebol identidade do país, atingiu o poder em 16 de janeiro de 1989.

Já naquele hoje distante primeiro ano à frente da entidade, indicara o ex-preparador físico do Flamengo e recém iniciado treinador de futebol, Sebastião Lazaroni, que recebeu o comando da seleção. Na seqüência, o gênio da CBF queima a carreira de Paulo Roberto Falcão como técnico, colocando-o na fogueira da Copa América do Chile. Neste caso, o de Dunga, o padrão se mantém. Ricardo Teixeira indica alguém com trajetória vencedora dentro das quatro linhas, uma pessoa com a marca da seriedade e empenho no trabalho, mas sem nenhuma experiência prática. Independente de valorarmos ou não o trabalho de Dunga (e me incluo nos críticos), um analista político tem como dever interpretar que fatos assim só ocorrem em organizações quase autocráticas, quando um Executivo “manda prender e manda soltar”, ou “bate, prende e arrebenta”, seguindo apenas os seus próprios critérios. Ou seja, desde que atenda os anseios dos aliados empreendedores econômicos do negócio da bola, o Presidente Imperador faz o que quiser.

Para quem imagina que exagero, basta uma lembrança. Indicar Dunga para a seleção brasileira sem nunca haver treinado nem time de pelada varzeana, é a réplica do padrão do ocorrido na noite anterior da final da Copa do Mundo de 1998 e que resultara na escalação de Ronaldo Nazário fora de toda e qualquer condição de jogo. Posteriormente o fato rendeu, gerando a CPI da Nike e da CBF, cujos relatórios foram velados e o livro escrito por um de seus relatores teve a edição apreendida das livrarias e distribuidoras. A bancada da bola, a cartolagem com mandato federal ou amizades planaltinas, é poderosa. Por estes e outros fatores, seria inimaginável supor que Dunga não tenha (ou tinha) uma boa relação com a diretoria da Confederação em geral e com seu presidente em particular. Este ato, relacionado com o padrão de jogo por ele imposto, mais a pregação da “ideologia da superação” e a abundância de patrocinadores, conforma um cenário perfeito para taxar Dunga e Jorginho de chapas-branca e subordinados.

Não seriam os primeiros tampouco. É o padrão da CBF (como na antiga CBD) e que muito poucos dele discordaram. Um exemplo máximo é o eterno saudoso João Sem Medo Saldanha, alegretense e gaucho sem acento, de outra estirpe, distinta do natural de Ijuí. Ou seja, qualquer pessoa com um mínimo de senso de rebeldia e dignidade, tem razões e motivos para discordar e até antipatizar com Dunga, seus métodos e aliados. O que ninguém esperava era a reação deste treinador para com a emissora líder da TV brasileira.

O entrevero de fundo

Assim como tenho diversos motivos para não suportar o técnico da seleção brasileira (por fatores futebolísticos mais que nada), confesso que me surpreendi com sua reação perante a TV Globo e ao vivo. Explico. Não foi a primeira vez e pelo visto nem será a última situação em que Carlos Caetano colide de fronte com a mídia comercial, oligopolista e corporativa brasileira. No caso dos conglomerados midiáticos nacionais, boa parte de seus funcionários na função de repórteres “apanharam” (na gíria jornalística) em coletivas e demonstraram indignação posterior. O silêncio de sempre vinha da amiga e parceira de Ricardo Teixeira, as Organizações Globo. Não me recordo de um ato de solidariedade desta emissora para com os colegas empregados nas concorrentes. E, grosserias sempre foram manifestadas pela dupla da comissão técnica em posto de comando. Sim, pois além de Dunga, Jorge de Amorim Campos sempre se indigna com as críticas e levanta a voz, repudiando as supostas posturas antipatriotas de coleguinhas da imprensa os atacando.

É preciso tecer algumas considerações:

Ninguém pode ocupar um posto de exposição pública e sentir-se imune às críticas. Assim, quem senta diante de uma roda de repórteres corporativos com um painel de patrocinadores atrás, tem uma previsão de comportamento estudado, trabalhado através de media training e decorando respostas água com açúcar, reforçando o senso comum, condensando idéias de consentimento forçado e ausentando-se de polêmicas. Ao menos nisso, segundo meu ponto de vista, Dunga se porta bem.

Carlos Caetano tem o dever de ouvir opiniões alheias e respeitar todas as formas de críticas. Ao mesmo tempo, não tem nenhuma obrigação de reconhecer um mandato societário da mídia corporativa. Os repórteres falam em nome de suas empresas, seus produtos irão para uma grade montada sobre um modelo de negócios e tudo está entreverado com entretenimento. Já resta pouca ou quase nenhuma vocação de jornalismo como paladino da cidadania na mídia corporativa esportiva brasileira e mundial. A liberdade de imprensa defendida por editores e patrões, é a liberdade de empresa. Quem mais executa a censura são as chefias a mando de anunciantes ou sócios majoritários. Os bastidores do futebol brasileiro revelam um nexo político-financeiro-criminal e até os adolescentes sabem disso. O padrão é o mesmo em poderosas ligas estrangeiras, como a inglesa, onde tem tudo menos capital inglês controlando seus clubes-empresa. Esse é o pano de fundo e é muito mais relevante do que a possível operação pubiana do marido da obispa Caroline Celico, operadora midiático-financeira da “Igreja” Renascer em Cristo no Estado Espanhol, o meio campista Ricardo Izecson dos Santos Leite (Kaká).

Nesse sentido entendo que Dunga está no seu direito, tanto o de reagir como bem quiser (e sentir as conseqüências da ação) diante de provocações de toda ordem. O exercício arbitrário das próprias razões até crime é, mas de peso leve, de tipo crime de honra. Não havendo violência gratuita, ele que reaja como bem entender e que sirva de lição. A gritaria é ampla: “O técnico da seleção não é um modelo de comportamento!”. É verdade; mas a crítica sobre ele se dá na relação de seu temperamento com os anseios de exposição midiática para atender as cotas de patrocínio e a figura de relações públicas que a bola como negócio exige de suas estrelas. Certa vez afirmei serem os boleiros de dimensão internacional uma espécie de commodity que anda, fala e faz besteira com a própria reputação e a alheia. Sob esse ponto de vista, Dunga é um desastre andante e falante. Para mim, nesse item, Carlos Caetano fez um golaço, lavando a alma na peleia simbólica de milhões de brasileiros.

Já da parte da Globo, a irritação tem sua origem na proibição de exclusivas e no fim de privilégios em zonas mistas especiais. Em 2002 a emissora transmitiu a Copa sozinha e no desastre de 2006, teve “concorrência” apenas na TV paga através do Band Sports. Na ocasião, Carlos Caetano era funcionário da família Saad e comentava a Copa da Alemanha para a concorrente da família Marinho. Aprendeu na planície a dureza que é enfrentar uma tropa completa estando em minoria. Deve ter visto poucas e boas também; afinal, estamos na era do jabá eletrônico e das estruturas de poder atravessadas pelo marketing e o comércio de imagens. Sabendo disso, atormentado com as reclamações vindas por cima (entre direções), Dunga se estourou diante da humanidade através das telas de TV.

Além da irritação da TV líder pela perda dos privilégios que sempre tivera, também consta o fato do exagero de treinos fechados. Os repórteres afirmam que assim eles não conseguem produzir “conteúdo” para alimentar as redes. Essa é uma meia verdade. A outra ponta é a captura de imagens das placas dos patrocinadores. Exposição de imagem é a moeda de troca do emprego de dinheiro em troca da estampa das logomarcas nos uniformes de treino e jogo, além das peças publicitárias, utilizadas pelos jogadores da seleção. Sem essa cobertura, Dunga ganha no controle do grupo, mas ao mesmo tempo diminui a satisfação dos aplicadores no seu investimento comum. Por estas duas brigas simultâneas, é do senso comum que o atual treinador tem seus dias contados, tanto diante de uma possível eliminação e mesmo saindo campeão do mundo.

A estrutura de poder do futebol brasileiro passa por quatro patas basilares e não tolera muita divergência. São elas: a geração e venda de imagens (via TV, e recentemente via TV paga, como nos canais Premiere Futebol Clube, pertencente da Globo via cabo e satélite); a negociação de direitos econômicos de jogadores (onde operam investidores e milionários mais reconhecidos, tendo ou não uma empresa laranja à frente, a exemplo da MSI); a negociação de direitos de imagens e publicidade (onde lidera a co-proprietária do futebol nacional, a empresa Traffic de J. Hawilla, patrão de Kleber Leite por exemplo) e; a comandância mais tradicional pela via da cartolagem, como é o caso de Ricardo Teixeira. Nenhuma dessas quatro partes sustenta ou tolera um comportamento independente e autonômico, mesmo que expresse um pensamento conservador e patrioteiro, ainda que tenha a sua imagem vinculada a uma série de patrocinadores de grosso calibre. Uma commodity não pode gerar incerteza no investidor. Dunga gera, e por isso, com o perdão do trocadilho, que ele – ganhando ou perdendo - já era.

Comentário final

Dunga e Jorginho passaram do limite de boa convivência com a mídia corporativa e isto acarreta uma sentença punitiva. Não nos espantemos se estiverem preparando matérias de fôlego, cujas pautas de gaveta já devem inclusive estar prontas, e apontando no lide a fritura do atual técnico da seleção.

Ao mesmo tempo, reafirmo que simpatizar com a atitude de Dunga diante da mídia corporativa não implica uma adesão nem ao seu estilo de jogo (que considero medíocre e medroso) e menos ainda uma defesa de sua permanência no cargo. Isso sim seria misturar futebol com política, elogiando um comportamento rebelde e a partir daí reconhecendo uma suposta expertise como treinador – característica que não reconheço de jeito algum. Podemos e devemos elogiar a conduta diante de um dos poderes de fato do país e não respaldar o desempenho no ofício que exerce. Tal é o caso.

Vejo que o episódio abriu precedente e pode e deve ser repetido sempre que alguém sentir-se acuado diante da indústria da mídia. E, por se tratar de futebol, a incidência e seu efeito didático são imensos. Cabe aos batalhadores da democracia na mídia como dos intérpretes e analistas do oligopólio trabalhar o fato para além do episódico e pontual. Se redescobertas e postas à público, as estruturas do futebol brasileiro são insustentáveis sob nenhum ângulo. Eis um bom momento.


Fonte:
Site Estratégia e Análise.

25 de junho de 2010

Copa do Mundo 2010: “somos todos explorados e hipnotizados”

Este ano a Copa do Mundo esta sendo um balão de oxigênio (para a crise) após a África do Sul. Como sempre, de quatro em quatro anos, somos obrigados a olhar o mundo à nossa volta como se fosse uma bola de futebol, durante um mês, sob o risco de passar por um estraga-prazeres, chato ou um traidor da pátria se falarmos alguma coisa contrária ao senso comum dos fãs do esporte, da Copa.

Devemos fingir que não sabemos que, ao contrário do mito veiculado no filme Invictus, a África do Sul continua sendo um dos países mais violentos, racistas e desiguais do mundo.

Que a expectativa de vida sul-africana é de 50 anos e a taxa de analfabetismo nos adultos, é pelo menos de 15%! Quase 43% da população vive abaixo da linha da pobreza, o desemprego é oficialmente de 20% (mas algumas estimativas extra-oficiais avançam o número para 40%) e 1,1 milhões de famílias ainda vivem em favelas.

Graças ao silêncio resignado da FIFA, as máfias especializadas no tráfico de seres humanos vão organizar a deportação de milhares de mulheres para serem exploradas sexualmente pelos torcedores, jogadores, cartolas e autoridades, agravando ainda mais o risco de propagação da AIDS num país onde 5,7 milhões de pessoas estão infectadas e 58% delas não têm acesso aos medicamentos.

No país, abusos contra as crianças, o tráfico de pessoas, estupro e maus-tratos são crimes recorrentes. Segundo a Anistia Internacional, as violações dos direitos humanos dos refugiados, dos que pedem asilo político e dos imigrantes são comuns e agressões freqüentes, e em grande escala contra as mulheres. A violência xenófoba é diária, mesmo com a grande mídia neste momento desenvolvendo uma campanha desmentindo isso, para tranqüilizar as multidões que desejam assistir a Copa do Mundo.

Como de costume, a polícia e todo um arsenal de segurança serão implantados durante a Copa a fim de proteger os turistas de gangues e controlar as violências múltiplas das torcidas.

O Chefe da Polícia sul-africana anunciou 45 mil policiais ao redor de cada estádio da Copa. As competições desportivas são sempre boas oportunidades para desenvolver o controle das populações, comercializar e testar novos equipamentos de repressão.

Os cinco novos estádios construídos e os cinco estádios reformados da Copa do Mundo custariam inicialmente mais de um bilhão de euros, mas o custo total de despesas se elevou para mais de 7 bilhões, revelando um gasto muito acima do que o inicialmente planejado.

Por outro lado, os salários dos trabalhadores na construção e reformas dos estádios foram uma miséria. Não à toa aconteceram vários movimentos grevistas reivindicando melhorias salariais. Mas, este dinheirão todo foi parar em algum lugar: nos bolsos da FIFA! Além dos bolsos da corrupção e do superfaturamento, envolvendo empresas e autoridades.

O total das receitas da FIFA no ano de 2009, em conexão com a Copa do Mundo da África 2010: 1,06 bilhões de dólares dos quais 196 milhões de dólares só de benefícios com a internet. Isto sem mencionar os patrocinadores oficiais que estão no ranking dos lucros estratosféricos e que conquistam sempre novos mercados graças às competições desportivas internacionais como esta.

Ademais, o que se esquece quando se apaixonam pela Copa do Mundo é que, o garoto chinês (crianças entre 13 e 17 anos) que fabrica o boneco de pelúcia leopardo “Zakumi”, adotado como mascote da Copa de 2010, trabalha na linha de produção 13 horas por dia por um salário de 2,5 euros (menos de 6 reais). No fundo, nós, trabalhadores e trabalhadoras, somos todos explorados e hipnotizados pelo entretenimento do futebol.

E cada um deverá apoiar a sua bandeira nacional, incluindo as mulheres que estão, infelizmente, cada vez mais envolvidas neste jogo de estúpidos. Aceitar as regras de um jogo mercadológico, violento, desigual e sexista, que reforça a alienação de todos e de todas, não pode e não deve ser entendido como uma conquista social.

Então, e se nós disséssemos stop!? Chega de palhaçadas!

Trabalhadores e trabalhadoras de todo o mundo, vaiemos à bandeira e à seleção nacional!

Fonte: CMI-Portugal.

Texto originalmente escrito por um anarquista francês, mas com pequenas modificações para dar um sentido mais geral de compreensão.

La foto del mundial que no hicieron circular

Sucesso do futebol nos EUA revolta a direita americana

A direita americana está furiosa. E a razão é o futebol. O sucesso da Copa está causando reação raivosa dos conservadores do país, especialmente na imprensa. O 19º Mundial da história é um marco por lá, com audiências espantosas para um povo que jamais deu importância ao futebol jogado com os pés e com uma bola de fato redonda.

O futebol é feito para pobres e a esquerda está empurrando isso para as escolas americanas. Isso é consequência do bronzeamento da América, afirmou o analista conservador Dan Gainor, numa referência ao fato do presidente Barack Obama ser negro. Nós não gostamos da Copa do Mundo, não gostamos de futebol. O resto do mundo gosta das políticas do Obama, nós não, disse Glenn Beck, comentarista da Fox News, canal tradicionalmente conservador.

A direita pode não gostar, mas o crescimento da popularidade do futebol nos EUA parece irreversível. O empate entre a seleção americana e a Inglaterra foi visto por 17 milhões de pessoas, mais do que as quatro primeiras partidas da decisão da NBA, entre Celtics e Lakers. Segundo reportagem de O Estado de S. Paulo, hoje há mais crianças americanas praticando futebol do que beisebol, basquete e futebol americano juntos.

Este esporte foi criado por índios sul-americanos, que, em vez de bola, jogavam com a cabeça de seus inimigos, afirmou o radialista e ex-agente do FBI G. Gordon Liddy que mostra bastante conhecimento sobre a modalidade criada por seus colonizadores, os ingleses.

Fonte: www.esportefino.net

24 de junho de 2010

África do Sul: Copa do Mundo... dinheiro sujo!

Declaração de ZACF sobre o 2010 Copa do Mundo

A Copa do Mundo de 2010 deve ser exposta publicamente como a grande farsa que é. A Frente Anarquista Comunista Zabalaza (ZACF - Zabalaza Anarchist Communist Front), da África do Sul, condena veementemente o cinismo e a hipocrisia do governo sul-africano que apresenta este momento como uma oportunidade única "apenas uma vez na vida" para a melhoria da situação econômica e social das pessoas que vivem no país (assim como no resto do continente).

Isto é afirmado claramente - a tal ponto que se torna impressionante - visto que esta “oportunidade” tem sido e continua sendo a ganância desenfreada da elite dirigente sul-africana assim como a do capital, nacional ou internacional. Na verdade, a Copa do Mundo, se tiver algumas conseqüências é provável que estas sejam devastadoras - para os pobres da África do Sul e para a classe trabalhadora - já em pleno andamento.

Na preparação da Copa do Mundo, o governo gastou mais de 8,2 bilhões de rands (cerca de R$ 2 bilhões), por exemplo, mais de 1 bilhão para o desenvolvimento das infra-estruturas e 3 bilhões para reformas e construções de estádios que depois da Copa do Mundo jamais estarão lotados. Isto é um tapa na cara de todos aqueles que vivem num país marcado por uma pobreza extrema e com uma taxa de desemprego que gira em torno de 40%.

Nos últimos cinco anos, os trabalhadores pobres têm vindo a manifestar a sua indignação e decepção face à incapacidade do governo para corrigir as enormes desigualdades sociais, organizando, em todo o país, mais de 8 mil manifestações para exigir serviços básicos (água, eletricidade, saúde...) e habitações dignas.

Esta distribuição dos custos, pelo Estado, é mais uma prova dos equívocos do modelo neoliberal capitalista e das suas políticas econômicas de “racionamento”[1], que só serviram para aprofundar as desigualdades e a pobreza.

Apesar das afirmações anteriores, no sentido contrário, o governo acabou por reconhecer, recentemente que "nunca foi a sua intenção" que este projeto chamado Copa do Mundo fosse beneficiário em termos sociais[2].

A África do Sul precisa desesperadamente de infra-estruturas públicas em grande escala, especialmente na área dos transportes públicos que estão quase totalmente ausentes em algumas cidades, incluindo Johanesburgo. O Gautrain (uma espécie de trem bala), lançado em 8 de junho (na véspera da Copa do Mundo), é provavelmente a grande ironia disto: num país onde a grande maioria das pessoas depende, cotidianamente, para percursos de longa distância, de táxis e lotações, sem condições mínimas de segurança, o Gautrain oferece rapidez, transporte de luxo para turistas e para aqueles que viajam entre Johanesburgo e Pretória (distante apenas 54 km).

O mesmo panorama aparece em toda parte: o Airports Company South Africa (ACSA) gastou mais de 1,6 bilhões rans para a modernização dos aeroportos. Já a Agência Nacional de Estradas Sul-Africanas (SANRAL), privatizada, gastou mais de 2,3 bilhões de rans para uma nova rede de rodovias.

Tudo isso explicará a implementação de medidas de austeridade drásticas para recuperar os bilhões gastos nas infra-estruturas, a maioria dos quais são de interesse nulo para os africanos pobres, a esmagadora maioria do país.

Em toda a África do Sul os municípios estão envolvidos em “esquemas” de revitalização urbana, acompanhados pelos seus inseparáveis programas de gentrificação, com o governo tentado, apressadamente, esconder debaixo do tapete a crua realidade deste país.

Em Johanesburgo, mais de 15 mil sem-teto e crianças de rua foram apanhadas e “despejadas” em "abrigos"; em Cape Town, autoridades do município expulsaram milhares de pessoas das zonas pobres e das favelas no âmbito do projeto "World Cup Vanity" (tornar a cidade agradável para a Copa do Mundo). Em Cape Town tentou-se - em vão - expulsar de suas casas 10 mil moradores da favela Joe Slovo com o objetivo de esconder a população dos olhos dos turistas que viajam ao longo da rodovia N2.

Em outros lugares, populares foram despejados para dar lugar aos estádios, estacionamentos para turistas, ou estações[3]. No Soweto, as estradas foram embelezadas ao longo das rotas turísticas e da sede da FIFA, enquanto as escolas ao redor continuam com as janelas quebradas e as instalações em ruínas.

Apesar de muitos sul-africanos não terem caído neste "canto de sereia", outros são inundados e arrastados pela enxurrada de propaganda nacionalista que visa desviar a atenção do circo que é a Copa do Mundo.

Cada sexta-feira no país foi declarada “Dia do Futebol", onde a “nação” é incentivada (e os alunos forçados) a vestir camisas dos Bafana-Bafana (seleção nacional da África do Sul).

Os carros são enfeitados com bandeiras, as pessoas aprendem a "diski dance", que é constantentemente demonstrado em todos os restaurantes turísticos. Já é praxe comprar a mascote Zakumi. E quem se atrever a manifestar dúvidas sobre a Copa é maculado como antipatriota. O exemplo mais significativo disso tudo foi o apelo das autoridades aos grevistas do Sindicato dos Transportes (SATAWU), para que abandonassem as suas reivindicações pelo “interesse nacional"[4].

Num contexto em que quase um milhão de empregos desapareceram, só no ano passado, as declarações do governo, sobre a criação de mais de 400 mil postos de trabalho devido à Copa do Mundo, são descontextualizadas e ofensivas. Os empregos que foram criados, nesta euforia futebolística, são muitas vezes precários ou CDD (contratos com duração determinada), por trabalhadores que não são sindicalizados e recebem salários muito abaixo do salário mínimo.

Para além da repressão contra os sindicatos, os movimentos sociais têm sentido a mesma hostilidade do Estado, traduzida oficialmente pela proibição geral de todos os protestos durante a Copa do Mundo. Jane Duncan (do Instituto para a Liberdade de Expressão) refere-se, com abundância de provas, que essa política foi colocada em prática a partir do começo de março.

Um inquérito as cidades sede da Copa do Mundo, revelou que uma proibição geral de qualquer reunião está em curso. Assim, no município de Rustenberg, “as concentrações estão proibidas durante a Copa do Mundo”.

O município de Mbombela recebeu a informação, da polícia nacional, de que não seriam permitidos “encontros” durante a Copa. O conselho municipal da Cidade do Cabo informou que não continuaria a receber pedidos para organização de marchas, que “isso poderia ser um problema” durante a realização da Copa. Nos municípios de Nelson Mandela Bay e de Ethekwini, a polícia proibiu manifestações durante o período da Copa do Munde[5].

A Constituição da África do Sul, muitas vezes elogiada pelo seu caráter "progressista", está longe de ser a garantia de liberdade e de igualdade. Esta nova forma de repressão entra claramente em contradição com o direito constitucional à liberdade de expressão e de reunião.

No entanto, os movimentos sociais, em Johanesburgo, incluindo o Fórum Anti-Privatização e vários outros não desistiram, e obtiveram uma autorização para uma marcha e manifestação no dia da abertura da Copa, com a ajuda do Instituto para a Liberdade de Expressão. Porém, a marcha deverá ser confinada a três quilômetros do estádio, onde não atrairá a atenção da mídia.

Não foi apenas o Estado sul-africano que realizou uma repressão severa sobre os pobres e sobre qualquer atividade ou manifestação anti-Copa do Mundo, sob um disfarce que representa a África do Sul como um polvo que estende os seus tentáculos em convite a todos e a todas, para que afluam em rebanhos aos seus hotéis de luxo, os quartos de hóspedes e salões de coquetéis, mas também o império criminal legal a que Josepp Blatter e seus amigos chamam FIFA (admiravelmente nomeada THIEFA (clube dos ladrões em inglês) pelo Fórum Social em Durban).

Prevendo com a Copa 2010 um lucro de aproximadamente 1,5 bilhões de euros, a FIFA já arrecadou mais de 1 bilhão apenas com os direitos de transmissão televisiva. Os estádios e as zonas circudantes foram entregues à FIFA durante o período do torneio (como “casulos livres de impostos”, áreas controladas e vigiadas pela FIFA e isentas do imposto normal e outras leis estaduais sul-africanas), incluindo estradas e pontos de acesso. Dessas regiões serão excluídas as pessoas que vendem produtos não licenciados da FIFA. Assim, os que acreditaram que, durante a Copa do Mundo, iriam aumentar a sua renda de sobreviventes, serão deixados de fora no frio "racionamento" neoliberal.

Mais: a FIFA, como proprietária exclusiva da marca Copa do Mundo e dos seus produtos derivados, dispõe de uma equipe com centenas de advogados e funcionários que percorrem o país para rastrear qualquer venda não autorizada e para fazer marketing da sua própria marca. Os produtos ilegais são apreendidos e os vendedores são presos, apesar do fato da maioria na África do Sul e do continente comprarem os seus produtos no setor do comércio informal. Porque muito poucos sul-africanos têm 400 rand (40 euros) para pagar pelas camisas das seleções e outras “engenhocas” da Copa.

Os jornalistas também foram efetivamente amordaçados neste evento, na hora de se credenciarem, a FIFA incluia a aprovação formal de uma cláusula que impede as organizações de mídia de criticá-la, comprometendo claramente a liberdade de imprensa[6].

A ironia maior desta história toda é que o futebol era originalmente o esporte da classe trabalhadora. Ir assistir aos jogos nos estádios era uma atividade de baixo custo e de fácil acesso para as pessoas que escolhessem passar 90 minutos das suas vidas esquecendo o cotidiano sob a bota do patrão e do Estado.

Hoje, o futebol negócio e a Copa do Mundo trarão lucros exorbitantes para um pequeno grupo da elite mundial e nacional (com milhões de gastos desnecessários, especialmente em um momento de crise capitalista mundial), que cobram aos seus clientes-torcedores- espectadores milhares de rands, dólares, libras, euros, etc., para assistirem futebolistas caindo em excesso e mergulhando em campos super bem tratados e que discutem, através de agentes parasitários, se são ou não dignos de seus salários mirabolantes (Kaká recebe mais de 10 milhões de euros por ano no Real Madri).

O jogo em si, que em muitos aspectos, mantém a sua beleza estética, perdeu a sua alma trabalhadora e foi reduzido a uma série de produtos destinados a serem explorados e consumidos.

Bakunin disse que "as pessoas vão a igreja pelos mesmos motivos que vão a um bar: para hostilizar, para esquecer a sua miséria, para imaginar serem, por alguns minutos, também, livres e felizes”. Talvez possamos dizer o mesmo do futebol negócio, com estas bandeiras nacionalistas agitadas e a sua cegueira, com as estridentes vuvuzelas. Deste modo parece mais fácil de se esquecer do dia a dia, de tomar parte na luta contra a injustiça e a desigualdade.

Mas numerosos também são os que continuam o combate, e a classe trabalhadora, os pobres e as suas organizações não são assim tão maleáveis às ilusões quanto o governo gostaria de crer. Construiremos acampamentos temporários junto aos portões dos estádios onde tiver aglomerações, ações de greve geral - autorizadas ou não.

E apesar dos insultos, das zombarias e os rótulos de "antipatrióticos" e a supressão da liberdade de expressão, vamos fazer ouvir as nossas vozes para denunciar publicamente as desigualdades terríveis que caracterizam a nossa sociedade e os jogos mundiais que se disputam em detrimento da vida daqueles sobre os quais se construíram os impérios que, no fim das contas, serão destruídos.

Abaixo a Copa do Mundo!
Phansi [Abaixo] a repressão do Estado e do nacionalismo que nos divide!
Phambili [Viva] a luta do povo contra a exploração e os lucros!

Fonte:
Anarkismo.net

21 de junho de 2010

Após "verde", Copa abandona seu lixo

Uma das marcas do projeto da Alemanha para sediar a Copa do Mundo em 2006 foi o projeto "Copa verde", conjunto de medidas que o país adotou para reduzir o impacto ambiental do torneio. Quatro anos depois, o tratamento dado ao lixo mostra que a questão ecológica não se tornou um debate constante na competição.

Um dos pontos defendidos pela Alemanha para a "Copa verde" era a coleta seletiva de lixo para reciclagem. Na África do Sul, em vez de latas específicas para cada material, o que se vê é falta até mesmo de receptáculos comuns.

O resultado imediato disso é o acúmulo de lixo nas ruas ao redor dos estádios. Há equipes de limpeza do país trabalhando constantemente antes e depois dos jogos, mas isso tem sido insuficiente para acabar com todo o montante produzido.

A situação é ainda mais curiosa no IBC (International Broadcasting Centre, espaço que reúne as emissoras que detêm direitos de transmissão do evento). O local contém latas para coleta seletiva, mas é comum ver total desrespeito aos materiais indicados pelas cores.

O IBC tem outra situação inusitada: o número de latas de lixo é extremamente pequeno, mas há vasos sem plantas espalhados pelo complexo. Isso transformou as cerâmicas pretas em depósitos de todo tipo de lixo (especialmente copos, latas e cigarros).

O conceito de "Copa verde" também está presente no projeto brasileiro para sediar o evento de 2014. Essa ideia deve nortear todas as reformas de estádios, que seriam feitas com intuito de reduzir impacto ambiental. Na Alemanha, por exemplo, arenas chegam a ter 50% de sua energia gerada por painéis de captação solar.

Fonte: Máquina do Esporte.

18 de junho de 2010

‘Barras bravas’ são presos, e polícia sul-africana planeja deportação

Semanas antes do início da Copa do Mudo de 2010, autoridades sul-africanas se reuniram para discutir uma possível proibição da entrada dos fãs argentinos de olho na segurança das praças esportivas. O objetivo era cruzar informações e impedir a viagem de torcedores que tinham pendências judiciais. Alguns resultados já estão demonstrando a eficácia do planejamento.

Nesta quarta-feira, a polícia local confirmou a apreensão de 17 ‘barras bravas’. Os sul-americanos teriam invadido um local que hospedava 165 torcedores da seleção albiceleste. Agora, eles não poderão mais ficar no país.

Segundo as autoridades, os ‘hooligans’ argentinos tentaram entrar no estádio que recebeu o jogo de estreia da seleção de Maradona, contra a Nigéria, sem ingresso. Além disso, apresentaram comportamento violento em várias ocasiões, algo que também contribuiu para a decisão de prendê-los.

A polícia diz que os 17 homens foram entregues para o Departamento de Assuntos Internos da África do Sul, que será responsável pela deportação. Outros cinco argentinos deixaram a África do Sul de forma voluntária nesta manhã.

Clique aqui
e saiba mais sobre os Barra Bravas.

Fonte: Agência de notícias.

17 de junho de 2010

A Copa do Mundo e a romantização da pobreza


Thiago Hastenreiter, de Santos (SP)


• O mundo assiste o continente africano sediar pela primeira vez a Copa do Mundo de futebol. O berço da humanidade, que teve suas riquezas naturais saqueadas, seus homens e mulheres raptados e transformados em escravos-mercadorias, andava esquecido, submersa nas epidemias de AIDS, até que a África do Sul se tornasse palco do maior espetáculo da Terra.

Muitos duvidaram desse feito, inclusive o atrapalhado (com as palavras) Pelé. Em janeiro desse ano, o ônibus da delegação do Togo, que participava da Copa Africana, sofreu um atentado terrorista realizado por uma organização angolana, o que levou muita desconfiança sobre as reais possibilidades da África do Sul sediar um evento desse porte.

Mas hoje a Copa é uma realidade e África do Sul pavimenta uma estrada que será percorrida amanhã pelo Brasil. O mundo parece redescobrir a África, e a mídia trata de romantizá-la, destacando a euforia de seu povo, suas danças típicas, sua fauna exuberante, seus rituais religiosos obscurantistas e suas “harmoniosas” vuvuzelas.

Os responsáveis pela condição de lumpenização do continente africano, onde as populações esperam cair dos céus os mantimentos para sobreviverem mais um dia, são os mesmos que exaltam a riqueza cultural desse povo sofrido. A pobreza aparece como algo abstrato, vindo quase do além, e é na prática varrida para debaixo do tapete. Para quem não sabe, milhares de famílias foram removidas de suas residências e submetidas a condições ainda piores, em casas de lata de 18m², para não estragar a paisagem no percurso entre os aeroportos e os grandes centros.

Muito se falou das greves da construção civil que ameaçaram o levantamento dos novos estádios meses antes do início da Copa, mas não foi divulgado em que condições trabalhavam esses operários. O salário desses trabalhadores era de 4,50 rands, ou R$1,10 por hora! Esses operários que ergueram verdadeiros santuários do futebol ficarão do lado de fora dos estádios, e assistirão às partidas pela televisão. Ao mesmo tempo tão perto e tão longe do show.

O clima passado pelos repórteres estrangeiros é de como se tivessem vivendo uma aventura, um safári onde, a todo momento, esbarram com o exótico povo africano. O regime do Apartheid, de segregação racial e social, abolido oficialmente em 1990, ganhou uma nova roupagem, muito mais amena, pretensamente mais simpática, mas não menos preconceituosa.

Tratam o racismo como um problema do passado. Antes havia banheiros separados para brancos e para negros. Escolas para brancos e escolas para negros. E hoje todos freqüentam os mesmos lugares. Isso é mentira. Os negros continuam guetizados em seus bairros e ocupam os mais baixos estratos sociais. Enquanto a elite, dona das grandes corporações capitalistas, é branca. Isso é um fato.

Sem dúvida, a revolução democrática que colocou abaixo o regime segregacionista do Apartheid foi uma vitória colossal das massas. No entanto, essa revolução que poderia ganhar um conteúdo também social, foi freada e desviada para dentro da institucionalidade burguesa, através da eleição de Nelson Mandela em 1994. Aí está o motivo pelo qual o imperialismo reverencia tanto a figura de Mandela. Ninguém melhor que o líder negro, que esteve preso por mais de 30 anos, que tinha como lema "Unam-se! Mobilizem-se! Lutem! Entre a bigorna que é a ação da massa unida e o martelo que é a luta armada devemos esmagar o apartheid!", para pregar a conciliação e a paz entre as classes historicamente antagônicas.

Terminada a Copa da África os olhos se voltarão para o Brasil. 2014 é logo ali. Aí, mais uma vez, a pobreza será relativizada e ganhará a melodia do samba, da “mulata” e do futebol.

Fonte: Site do PSTU

Campeões europeus pressionam defesa adversária, mas confirmam fama de falhar em Copas do Mundo

Mesmo com seu toque de bola característico e com domínio quase que total das ações ofensivas, a Espanha não foi capaz de vencer a seleção suíça em sua estréia na Copa da África. Os rivais mostraram a mesma eficácia defensiva do Mundial de 2006, quando terminaram o torneio sem levar sequer um gol.

Durante todo o primeiro tempo, a Suíça não atacou. Seus jogadores de frente, Nkufo e Derdiyok, ficaram isolados sem poder agredir o adversário. Em contrapartida, a Espanha tocava a bola com tranquilidade na intermediária ofensiva, chegando a alcançar 83% de posse de bola com quase 20min. O meio-campo do Barcelona, Xavi Hernández, dominava o setor, ditando o ritmo do jogo. Ao todo foram 80 passes certos do camisa 8, destaque neste quesito.

A Fúria, como é chamada justamente devido ao seu ímpeto ofensivo, atacava com Iniesta, que monopolizava as ações pelo lado esquerdo do campo. Porém, David Villa não dava opções de passe, já que pouco se movimentava, sofrendo com a marcação suíça. O centroavante foi o terceiro jogador do time que menos recebeu bolas, atrás apenas do goleiro Casillas e do zagueiro Puyol.

Na segunda etapa, os espanhóis começaram a demonstrar nervosismo com a dificuldade de marcar. Os suíços aproveitaram para acionar seus atacantes que antes mal participavam do jogo. Aos 6min, após um chutão do goleiro, o ataque suíço tabelou e Derdiyok ficou na cara do gol. Casillas ainda abafou, mas a bola sobrou para Fernandes empurrar para a rede.

Em busca do empate, o comandante da Espanha, Vicente Del Bosque, realizou as três substituições possíveis. Pedro entrou na ponta esquerda no lugar de Iniesta, Navas na direita e Fernando Torres, que volta de uma grave lesão no joelho direito, mais centralizado ao lado de Villa.

O resultado foi uma pressão constante contra o sistema defensivo da Suíça. Até o zagueiro Piquet subia para o ataque como um líbero (veja sua área de atuação). Foram 12 finalizações contra a meta de Benaglio só no segundo tempo.

Entretanto, as tentativas da Fúria esbarravam na zaga adversária. Com um time de alta estatura, os suíços bloqueavam todas as bolas aéreas. Durante toda a partida ocorreram incríveis 45 cruzamentos errados.


A Suíça acabou premiada por sua competência tática e garantiu seus três primeiros pontos no Grupo H. Agora, a seleção já acumula 394 minutos sem levar gols em Copas do Mundo.

Para ver a análise completa da Scout Online, clique aqui.


Fonte: Universidade do Futebol.

Seleção nacional tem estreia difícil, apresenta desenvolvimento na segunda etapa, mas sofre gol nos minutos finais

O maior vencedor da história das Copas do Mundo teve muitas dificuldades diante de um adversário inexpressivo no cenário global. Após o apito inicial, a equipe comandada por Carlos Dunga demorou quase uma hora para vazar o goleiro Ri Myong Guk, da Coreia do Norte. Com Maicon, primeiro, e Elano, na sequência, a seleção brasileira garantiu o resultado positivo, que ficou um pouco abafado pelo desconto de Jy Yun Nam, aos 42min do segundo tempo.

Os três pontos garantidos pela vitória colocaram o Brasil na ponta do Grupo G, já que no duelo entre os outros dois concorrentes, Portugal e Costa do Marfim apenas empataram sem gols – os africanos são os próximos adversários, em duelo no domingo (20).

Diante da teórica equipe mais fraca da chave, a seleção verde-amarela, mais do que nervosismo, apresentou problemas na transição ofensiva e na criação de jogadas laterais. Felipe Melo, alvo de boa parte das críticas de torcedores e imprensa no período de preparação para o Mundial-10, era quem dava início às ações.

O camisa 5 efetuou, apenas nos primeiros 45 minutos, o total de 49 passes. Apesar de a maioria destes ter como direcionamento companheiros que estavam mais próximo dele, Melo se destacou nos lançamentos – foram quatro certos.

Uma das inversões mais longas, inclusive, resultou no gol inaugural. Aos 10min da etapa final, quando o Brasil já exercia um volume mais efetivo no campo de defesa norte-coreano, Melo, posicionado na faixa esquerda da intermediária, lançou Elano. O meio-campista dominou e esperou a passagem de Maicon, que foi à linha de fundo e chutou em direção à meta defendida por Ri Myoung Guk.

O lateral-direito apareceu com propriedade em outras oportunidades. Defensivamente, realizou quatro desarmes, mas quase não foi incomodado pelos atacantes rivais. Apenas Jong Tae-Se, o “Rooney Asiático”, que jogou isolado à frente, despertou a atenção dos zagueiros – em especial de Juan, impecável na maioria dos embates.

Confira no fluxograma o posicionamento de Maicon. Quando o Brasil buscou de maneira mais incisiva o ataque, o jogador da Inter de Milão foi o mais acionado (recebeu 34 vezes a bola), trabalhando passes ao lado de Elano e Daniel Alves. Este substituiu o atleta do Galatasaray no instante seguinte ao gol anotado por ele, após belo passe de Robinho.
No fim, a Coreia do Norte, 105º time do ranking da Fifa, acabou premiada pela sua dedicação. Jy Yun Nam, autor de seis desarmes, encontrou espaço no lado mais forte e seguro do sistema defensivo sul-americano, entre Lúcio e Maicon, e finalizou com força. Júlio César não teve chance de defesa.


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Fonte: Universidade do Futebol.

15 de junho de 2010

A luta de classes na copa

Polícia reprime trabalhadores sul-africanos

Nem tudo se resume a festa e vuvuzela na Copa do Mundo. Na madrugada desta segunda-feira (horário local), após o jogo Alemanha 4 x 0 Austrália, cerca de mil funcionários do estádio Moses Mabhida, em Durban que reclamavam de salários atrasados e falta de condições de trabalho foram duramente reprimidos pela polícia sul-africana. De acordo com os manifestantes, eles tinham sido contratados por 1.500 rands (a moeda sul-africana, o equivalente a cerca de R$ 350) por dia, mas estavam recebendo apenas 190 rands (R$ 45). O protesto começou no estacionamento, que fica embaixo das arquibancadas, e prosseguiu pelas ruas no entorno do estádio, que ironicamente leva o nome do lendário secretário-geral do Partido Comunista Sul-africano. Como de praxe, a polícia utilizou bombas de efeito moral, balas de borracha e cassetetes para reprimir os manifestantes, que revoltados revidaram com pedras e garrafas. Resultado: dezenas trabalhadores feridos. Mas este não é o primeiro protesto relacionado ao Mundial. Antes mesmo do início da competição, trabalhadores envolvidos nas obras entraram em greve pelas mesmas bandeiras.

Fonte: Blog PSTU na arquibancada

13 de junho de 2010

Diego Maradona alfineta Pelé em entrevista

Rival declarado de Pelé, Diego Maradona concedeu entrevista coletiva nesta sexta-feira e não deixou de cutucar o seu desafeto. O técnico da seleção argentina, sem citar o nome do brasileiro, afirmou que a África do Sul tem condições de sediar de forma satisfatória o Mundial, algo que o Rei não acreditava muito.

- A África do Sul vai mostrar para aquele moreno que jogava com a camisa 10 que pode fazer a Copa do Mundo. E parabéns a todos os locais pelo trabalho realizado para chegar a tempo com as obras e por mostrar que aqui vivem com dignidade - soltou.
Confiante também na seleção que tem em mãos, Maradona afirmou que a partir de sábado, quando a Argentina estreia diante da Nigéria, terá início a campanha vitoriosa.

- Amanhã vamos começar a construir uma ilusão - disse.

Fonte: LANCEPRESS!