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18 de janeiro de 2011

Eduardo Galeano - Futebol ao Sol e à sombra


“Foi um processo irreversível. Como o tango, o futebol cresceu a partir dos subúrbios. Era um esporte que não exigia dinheiro e que podia ser jogado sem nada além da pura vontade. Nos baldios, nos becos e nas praias, os rapazes nativos e os jovens imigrantes improvisavam partidas com bolas feitas de meias velhas, recheadas de trapos ou de papel, e um par de pedras para simular o arco. Graças à linguagem do futebol, que começava a tornar-se universal, os trabalhadores expulsos do campo se entendiam muito bem com os trabalhadores expulsos da Europa. O esperanto da bola unia os nativos pobres com os peões que tinham atravessado o mar vindos de Vigo, de Lisboa, Nápoles, Beirute ou da Bessarábia, e que sonhavam fazer a América levantando paredes, carregando caixotes assando pão ou varrendo ruas. Linda viagem a que havia feito o futebol: tinha sido organizado nos colégios e universidades inglesas, e na América do Sul alegrava a vida de gente que nunca tinha pisado numa escola.”

Trecho de Futebol ao Sol e à Sombra, de Eduardo Galeano.

O futebol nas repúblicas socialistas soviéticas

Farenc Puskas
Uma das grandes frustrações dos torcedores brasileiros é o fato de que apesar de todas as conquistas do nosso futebol, nenhuma seleção brasileira conseguiu, até o momento, conquistar uma medalha de ouro em Jogos Olímpicos. Durante muito tempo, as Olimpíadas permitiam apenas a participação de atletas amadores.

Assim, os jogadores de futebol brasileiros que participavam dos Jogos eram em sua maioria muito inexperientes. O Brasil não podia enviar os seus melhores jogadores profissionais. Por outro lado, na época da Guerra Fria, a União Soviética e os seus países-satélites no Leste europeu viam nas Olimpíadas uma oportunidade para fazer propaganda do regime socialista.

Amadorismo profissional
Oficialmente, os atletas desses paises eram amadores, pois jogavam em times de unidades militares ou de operários de fábricas. Um exemplo era a seleção húngara de futebol, que conquistou a medalha de ouro em 1952, nos jogos realizados em Helsinque, na Finlândia. Teoricamente, seus jogadores eram membros do exército húngaro, que, em suas horas de vagas, jogavam futebol.

Na prática, eram atletas profissionais, cujo prestígio no esporte permitia que usufruíssem privilégios negados para a maioria de seus compatriotas: podiam passar direto pela alfândega e contrabandear objetos que eram considerados artigos de luxo nos países socialistas, como, por exemplo, relógios de pulso fabricados no Ocidente.

Ferenc Puskas: um craque húngaro
Entre os craques da seleção húngara de 1952, estava o atacante Ferenc Puskas, o "Major Puskas", considerado um dos maiores nomes do futebol de todos os tempos, ao lado de Pelé, Maradona, do holandês Cruyff e do alemão Beckenbauer. Na Copa de 1954, realizada na Suíça, a seleção húngara era a favorita, mas acabou perdendo a final para a Alemanha. Os alemães marcaram três gols e os húngaros marcaram dois, dos quais, um foi anulado.

Em 1957, após uma excursão ao Brasil, vários jogadores húngaros aproveitaram uma estada na Áustria para "desertar" e jamais voltar para a Hungria. Esses jogadores pretendiam tentar a sorte nos clubes dos países capitalistas da Europa ocidental, onde ganhariam mais dinheiro e teriam mais liberdade. Foi assim que Puskas acabou entrando para o time do Real Madrid.

O esquema 4-2-4
Os húngaros foram os inventores do esquema tático que, no Brasil, recebeu o nome de 4-2-4. Aqueles que insistiam em misturar qualidade técnica no esporte logo rotularam o futebol jogado pelos húngaros de "futebol socialista".

Depois de 1956, o esquema foi trazido ao Brasil pelo técnico húngaro Bela Guttmann, que trabalhou no São Paulo Futebol Clube. O segundo clube brasileiro a usar esse esquema foi o Santos. Inventado pelos húngaros, esse esquema tático foi aperfeiçoado pelos brasileiros. Foi usando esse esquema que o Brasil conquistou as Copas de 1958, na Suécia, e de 1970, no México.

Alemanha versus Alemanha

Em 1974, a Copa do Mundo foi disputada na Alemanha Ocidental. Naquela época, ainda existia o Muro de Berlim, que dividia a Alemanha em duas: a Alemanha Ocidental, capitalista, e a Alemanha Oriental, socialista. Aquela Copa foi marcada por um jogo inusitado entre as duas Alemanhas.

Foi a única vez em que as duas seleções se enfrentaram em uma Copa do Mundo. O time da Alemanha Ocidental foi calculista e preferiu perder para a Alemanha Oriental por 1 x 0, para não cair no grupo de Brasil e Holanda, que era a grande favorita, na segunda fase da Copa. O Brasil foi goleado pela Holanda por 2 x 0 e perdeu a disputa pelo terceiro lugar para a Polônia por 1x0. A Alemanha Ocidental venceu a Holanda na final por 2x1 e ganhou o campeonato.

Túlio Vilela*, formado em história pela USP, é professor da rede pública do Estado de São Paulo e um dos autores de "Como Usar as Histórias em Quadrinhos na Sala de Aula" (Editora Contexto).

7 de dezembro de 2010

É hoje que Cantona vai ganhar um estandarte vermelho


Por: José Milhazes, baseando-se no site do KPLO (Comunistas de São Petersburgo e da Região de Leninegrado):

A Organização Comunistas de São Petersburgo e da Região de Leninegrado decidiu condecorar Eric Cantona com um Estandarte Vermelho “pela ideia de destruir o poder absoluto do capital mundial financeiro-especulativo”.

“O camarada Cantona, depois de tomar consciência de que errou quando jogou pelo Manchester United e dançou a mando da batuta sanguinária da FIFA, passou claramente para as posições do marxismo criativo”, escreve esta organização estalinista no seu sítio na Net.

“Os membros da Comissão Ideológica do CC do PC consideram que a nova forma de luta de classes, inventada por Cantona, entrará nos anais do movimento revolucionário mundial. Dezenas de milhares de europeus e muitas centenas de habitantes da antiga URSS preparam-se para a hora “X” e atirar a sua pedra virtual”, sublinha-se no comunicado.

Os comunistas decidiram “condecorar Cantona com um estandarte vermelho pelo contributo para o processo revolucionário”.

O comunicado termina com uma célebre frase do poeta revolucionário soviético Vladimir Maiakovski: “Chegou o teu último dia, burguês!”.

26 de novembro de 2010

Da "pequena forma de dizer não"

Os jornais desportivos já quase não falam dos quatro irmãos Starostin. Afinal Nikolai, o mais velho dos quatro, morreu há já década e meia, aos 96, encerrando definitivamente um ciclo de glória, perseguição e resgate que durou quase meio século. Em conjunto com Aleksandr, Andrey e Pyotr, constituíra, na década de 1930, o núcleo motor da equipa de futebol do Spartak de Moscovo. Os «irmãos Starostin» foram por esses anos terríveis – os do pior período das purgas estalinistas e das grandes fomes – os mais populares jogadores da União Soviética, responsáveis pelo futebol tecnicista, ao «estilo europeu», do Spartak de Moscovo. Os seus êxitos rapidamente incomodaram o regime, que apoiava as outras duas grandes equipas da capital, o CSKA, clube do exército, e o Dynamo, do NKVD/KGB, ambos partidários de um jogo mais atlético, mas não o Spartak. Os Starostin acabaram por ser acusados de «vedetismo» e, a dada altura, indiciados por integrarem uma pseudo-conspiração destinada a assassinar José Estaline.
A enorme popularidade de que dispunham salvou-os do pelotão de fuzilamento – a acusação foi convertida numa outra, menos grave – mas não de passarem dez anos em campos do Gulag, onde «terminaram a carreira» jogando futebol em equipas de prisioneiros. Alguns testemunhos referem que para a sua desgraça não terá contribuído pouco uma derrota humilhante um dia imposta pelo Spartak ao Dynamo, numa altura em que neste actuava um jovem de fugaz carreira desportiva de nome Lavrenti Beria, nem mais nem menos do que o futuro «comissário dos assuntos internos», o chefe da polícia politica. Nikolai e os irmãos, bem como outros responsáveis, jogadores e adeptos do Spartak envolvidos na mesma purga, apenas foram definitivamente reabilitados, alguns deles a título póstumo, na época de Kruchtchev. Toda a história, muito útil para perceber uma «pequena forma de dizer não» conservada como instrumento de resistência na era de Estaline, é-nos contada em Spartak Moscow. A History of the People’s Team in the Workers’ State, de Robert Edelman. A Cornell University Press publicou-o em 2009.

12 de julho de 2010

Futebol e política: Hitler e o propósito nazista

Após a conquista de duas Copas pela seleção italiana durante o regime fascista de Benito Mussolini e sua aliança com Hitler que já comandava a Alemanha, o mundo se viu diante de um dos períodos mais negros da história da humanidade. A Segunda Grande Guerra estava prestes a eclodir e não havia espaço para o futebol. Não do jeito que costumamos vê-lo.

Der Arienparagraph

Em 1933, o futebol alemão já tinha sido atingido pelo anti-semitismo nazista, e os judeus foram proibidos de atuar nos clubes alemães, conforme determinava o Arienparagraph – “Parágafo Alemão”. A Alemanha perdia assim, muitos talentos, como foi o caso de Gottfried Fuchs, estrela dos Jogos Olímpicos de Estocolmo, em 1912, que marcou 10 dos 16 gols na vitória sobre a Rússia. Fuchs conseguiu fugir para o Canadá e livrar-se de Hitler.

Amistoso contra a Inglaterra

O regime nazista também se utilizou do esporte como forma de aproximação internacional, e se durante a República de Weimar, o país conseguiu realizar cerca de 20 encontros por ano, o regime nazista foi além chegando a 78 participações internacionais só em 1935. Um desses encontros deu-se com a seleção inglesa em dezembro do mesmo ano, no White Hart Lane, campo do Tottenham Hotspur, clube ligado à comunidade judaica inglesa. Claro que a chegada da seleção alemã nazista não foi recebida amistosamente, especialmente porque a Alemanha já outorgara leis anti-semitas, conhecidas como Leis de Nuremberg, que definia a essência racial de um legítimo alemão, tornando-a como base jurídica para a segregação dos judeus. Torcedores do Tottenham protestaram contra a realização de uma partida contra os nazistas, considerada como “uma afronta não somente à raça judaica, mas a todos aqueles que amam a liberdade“. A seleção alemã perdeu o amistoso por 3 a 0, e o único incidente que resultou em prisão, rolou dentro do estádio com a detenção de Ernest Woolwy, que desobedeceu às regras e empunhou uma gigantesca bandeira com a suástica nas tribunas do White Hart Lane.

Asbjorn, Isaksen e a fúria de Hitler com o primeiro grande vexame nazista

Seguindo o modelo de Mussolini, Hitler utilizou as Olimpíadas de Berlim como palco de demonstração da “grandiosidade” do regime nazista. Berlim fora transformada em sua arquitetura e sofreu melhorias em suas ruas, estradas e aeroportos. O Estádio Olímpico foi reconstruído com citações helênicas e abriu espaços enormes para a evolução de massa das SS, SA e Juventude Hitlerista. A abertura dos Jogos foi programada para dar ao mundo inteiro, a exata dimensão do Reich dos Mil Anos. Depois de 8 anos fora do calendário olímpico, o futebol voltava e foi pelos pés de Magnar Isaksen, um norueguês judeu e de seu técnico, Asbojorn Halvorsen, também judeu de origem, que a Alemanha foi eliminada dos jogos para aumentar mais ainda o ódio do Füher, que se retirou do estádio minutos antes de terminar a partida. No início da Segunda Grande Guerra, quando as forças de Hitler começavam a impor uma nova ordem européia, adversários esportivos como Asbojorn foram chamados para prestar contas. Seu destino era o campo de concentração em Alsace, nas proximidades de Hamburgo e aquele que fora um dos maiores jogadores de sua época, se resumia a um ser humano que pesava 40 kilos, acometido de tifo, desinteria e desnutrição.

Meses antes da Copa de 1938, a Alemanha já sob o comando de Hitler, anexou a Áustria aos seus domínios. O país passou a ser considerado território alemão naquilo que ficou conhecido como Anschluß ou Anschluss, desiginação alemã para conexão ou anexação. Assim, a Alemanha se utilizou de jogadores austríacos para ajudar na formação de sua seleção no mundial. Só por aí, a história do regime nazista com o futebol, começa com uma emocionante e corajosa demonstração de rebeldia e aversão ao propósitos de Hitler.

Por Hitler, não!

No dia 10 de fevereiro de 1903, nascia na Morávia, aquele que seria o exemplo de resistência ao mais sanguinário regime da história da humanidade. Matthias Sindelar mudou-se para Viena com os pais quando tinha 2 anos. Seu nome de batismo era Matěj Šindelář e começou a jogar futebol nas ruas da cidade. Em 1918 iniciou sua carreira pelo Hertha Viena e por lá permaneceu até 1924, quando se tornou jogador da equipe principal do Wiener Amateur, clube que deu origem ao Áustria Viena. Disputou a Copa de 1934 pela Áustria e por sua elasticidade, ganhou o apelido de “Homem de Papel”. Ajudou a seleção austríaca a se classificar para a Copa de 1938, na Itália de Mussolini, mas se recusou a defender a Alemanha. Antes do mundial, Áustria e Alemanha se enfrentaram no jogo de despedida da seleção austríaca e fiou combinado que o resultado do jogo seria um empate. A seleção austríaca parece ter deixado a inferior seleção alemã acreditar no resultado, quando Sindelar marcou o primeiro gol e comemorou efusivamente em frente aos oficiais alemães que acompanhavam o jogo da tribuna. O jogo terminou 2 a 0 para a Áustria. Sindelar nunca serviu aos alemães nazistas e foi encontrado morto junto com sua namorada no início de 1939. Sua morte foi dada como acidental por asfixia através de monóxido de carbono, mas por sua morte repentina e pela falta de testemunhas, evidenciou-se que o Homem de Papel morrera pelas mãos dos nazistas, especialmente por ter sido revelado posteriormente que Sindelar estava sendo investigado pela Gestapo (Polícia Secreta do Estado) que o taxou de “pró-judeu” e “social-democrata”. O nazismo perdia ali, o primeiro embate onde tentava utilizar o futebol como instrumento de imposição e fortalecimento de regime.

F.C. Start e o Jogo da Morte

O regime nazista utilizou o futebol para encobrir as dificuldades pelas quais as forças alemãs começavam a passar nos campos de batalha. O noticiário esportivo tratou de preencher espaços para evitar que a divulgação de notícias sobre o desgaste da máquina de guerra chegasse aos ouvidos dos aliados. Como as competições internacionais ficaram suspensas por conta da guerra, era primordial que diversas partidas fossem realizadas nos territórios dominados pelos alemães para que sua “superioridade” fosse efetivamente provada. Passando por cima do que ficou conhecido como “Pacto de Não Agressão” firmado com Stálin, Hitler invadiu Kiev e foi aí que provou o gosto amargo da vergonha. Com a dissolução das equipes Dinamo de Kiev e Lokomotiv pelos nazistas, vários jogadores de origem judia, foram “contratados” por Iosif Kordik, dono de uma padaria que era fundamental para o abastecimento da cidade, incluindo ai, as tropas nazistas. Nos momentos de “folga”, jogar futebol era a diversão mais que natural para os atletas e ali se formou o F.C. Start, o time que preferiu a morte a saudar Hitler. A equipe que representava a seleção alemã se chamava Luftwaffe, e era composta por oficiais da Força Aérea. Em agosto de 1942, foi marcado um jogo entre o F.C. Start e o Luftwaffe que ficou marcado como o Jogo da Morte – Macth Smerti. Antes do iniciar a partida, o juíz adentrou o vestiário dos ucranianos exigindo que os nazistas fossem cumprimentados à sua moda, ou seja, braços estendidos e a evocação “Heil Hitler!”. Após a saída do árbittro, os jogadores se reuniram e decidiram não reverenciar o invasor e no momento da apresentação das equipes, os jogadores do F.C. Start bradaram a plenos pulmões “FitzcultHura!”, o que significava uma tradicional saudação esportiva na União Soviética. No jogo, superioridade ucraniana: 5 a 1 para o F.C. Start. Inconformados com a derrota, os jogadores do Luftwaffe pediram revanche e três dias mais tarde ela aconteceu com nova vitória dos ucranianos: 5 a 3. Dias mais tarde a “Padaria Número 3″ foi invadida pela Gestapo e os jogadores do F.C. Start presos, levados para campos de concentração e oito deles foram executados meses depois. Há até hoje em Kiev, um monumento erguido em homenagem aos corajosos jogadores do F.C. Start.

A campanha futebolística do Füher não foi de toda má, mas não foi pelo futebol que o regime nazista impôs sua vontade. Dentro de campo, muitos opositores respeitaram a condição do jogo: somos todos iguais.

Fonte: Futebol para meninas.

10 de julho de 2010

Futebol de classe: a importância dos times de fábrica nos primeiros anos do século XX

Há várias décadas, o futebol é considerado o esporte mais popular do planeta, constituindo-se num dos maiores fenômenos de massa de todos os tempos. Na América Latina, a importância a ele atribuída alcança níveis extraordinários, tendo sido responsável até mesmo por guerras, como foi o caso do conflito envolvendo Honduras e El Salvador no ano de 19691.

Ao analisarmos a história dessa modalidade, constatamos a existência de equipes formadas a partir de diferentes origens. Elas podem estar ligadas a grupos étnicos: Vasco da Gama, Tuna Luso, Cruzeiro e Palmeiras (Brasil), Central Español (Uruguai), Audax Italiano e Palestino (Chile); cidades: Coritiba, Marília, Fortaleza, Caracas, Bucaramanga; personagens históricos: Bolívar e Jorge Wilsterman (Bolívia), O'Higgins e Colo Colo (Chile), Jorge Newberry (Argentina), Saprissa (Costa Rica), Juan Aurich (Peru); instituições de ensino: Universitário (Peru), Newell's Old Boys e Estudiantes (Argentina), Universidad Autonoma de Guadalajara (México), Universidad de Chile; bairros: Botafogo, Boca Juniors, Madureira, Campo Grande; e fábricas: Cruz Azul (México), Talleres de Córdoba (Argentina) e Bangu. Giulianotti (2002) afirma que o futebol moderno possui três formas fundamentais de identificação social: nação, localidade e classe (p.55). É exatamente a respeito do surgimento de um novo tipo de identidade de classe a partir do desenvolvimento do futebol no interior do ambiente fabril que nos dedicaremos no presente trabalho.

Iniciaremos com um breve histórico acerca da criação do futebol moderno e da sua rápida difusão pelo planeta. Posteriormente, analisaremos a sua chegada à América Latina, o estranhamento inicial por ele provocado, culminando na formação de uma Liga Contra o Foot-ball fundada pelo escritor Lima Barreto, e a resistência enfrentada por parte da militância anarquista e comunista. Por fim, estudaremos a importância que os times de fábrica tiveram não somente para o desenvolvimento do esporte, como também das sociedades locais, colaborando para a superação de barreiras raciais e sociais, e com a mudança nas relações de trabalho a partir do surgimento da figura do operário-jogador, uma espécie de transição entre o amadorismo e o profissionalismo.
Para tal, optamos por um estudo mais detalhado acerca do Bangu Atlético Clube, devido ao fato dele historicamente constituir-se no mais importante time de fábrica do país, por ter sido a primeira equipe a romper com a barreira da cor da pele no nosso futebol e por ser um marco numa nova perspectiva nas relações patrão-empregado no Brasil.

Assim sendo, não teremos a preocupação de percorrer a história do futebol brasileiro e latino-americano até os dias atuais. O nosso recorte temporal se limitará até o início da década de 1930, época da implantação do profissionalismo no nosso país, período áureo dos times de fábrica.

25 de junho de 2010

Futebolistas revolucionários de 68



As dimensões que atingiu a revolta popular entre maio e junho de 1968 na França realmente foram descomunais, atingindo praticamente todas as frações do proletariado. E o que fizeram os trabalhadores do futebol em 68? Essa imagem ai é o cartaz-comunicado do Comitê de Ação dos Futebolistas, datado de maio-junho de 1968. No início do cartaz está escrito:

"Nós, jogadores de futebol de vários clubes da região de Paris, decidimos ocupar hoje o prédio principal da Liga Francesa de Futebol, da mesma maneira que os trabalhadores e estudantes estão ocupando suas fábricas e faculdades. Por que? Para restaurar à 600,000 jogadores franceses de futebol e os milhões de seus amigos o direito de desfrutar o futebol como deve ser: o futebol que foi tirado deles pelas autoridades da Liga para servir aos seus interesses lucrativos! ... "

Para mais informações sobre história social consultar:
Instituto Internacional de História Social (Amsterdã, Holanda)

22 de junho de 2010

O futebol no regime de Mussolini

Antes de falarmos sobre o uso do futebol para fins políticos, vale dar uma rápida explanada sobre onde e como surgiu a prática política. Estudos indicam que a política surgiu basicamente após o surgimento das cidades, tendo como ponto de partida, a Grécia Clássica, num período da história onde os homens começaram a trocar o pensar mítico pelo pensar racional. Trataremos cada caso separadamente, para que cada aspecto da utilização do futebol como material de fortalecimento de governos, seja bem explicado e conhecido.

Mussolini e o futebol

A Itália de Mussolini utilizava-se da cultura física como aspecto fundamental para a solidificar sua ideologia fascista. A partir de 1925, l’Opera Nazionale Dopolavoro, financiou e coordenou a construção de vários estádios, piscinas, pistas de ciclismo e atletismo. Mas o Duce demoraria um tempo para perceber que poderia se utilizar do futebol para tentar manipular a massa.Em 1926, Mussolini ansiava tanto em ser um dos maiores governantes do mundo, que resolveu alterar as regras do futebol através da Carta de Viarregio. Este documento fixava regras para jogadores estrangeiros, definia novos status para jogadores de futebol além de uma série de alterações no calcio.

Nesta mesma época, o calcio rivalizava e disputava espaço no gosto da população com a volata, modalidade que misturava futebol e rugby e que fora inventada por Augusto Turati, uma das figuras-chave do fascismo. A intenção era provar que a volata era um esporte genuinamente italiano, que os ingleses degeneraram com uma infinidade de regras, porém a volata não durou por muito tempo, caindo no esquecimento por volta de 1933.

Atento, Benito Mussolini tratou de assumir os encargos para sediar a Copa do Mundo de 1934, modo pelo qual o Estado Fascista viu chance ímpar de fortalecer uma infinidade de metáforas belicistas, perfeitamente aplicáveis aos valores do regime. Imediatamente após a confirmação da realização do II Mundial de Futebol na Itália, Mussolini tratou de vincular a conquista ao sucesso dos dez anos de regime fascista. Para a propaganda do Mundial, uma das imagens de cartazes, era a de um jogador com a bola no pé e a típica saudação fascista.

Estádios construídos para a Copa

O governo fascista começou a cosntrução de grandes templos esportivos bem antes de pensar em sediar o Mundial. Em 1927, era inaugurado o Littoriale, em Bologna. Em Roma, em 1928, foi inaugurado o Estádio do Partido Nacional Fascista. Em 1929, foi a vez do Il Testaccio di Roma, mais conhecido como giallorossi, por ter suas arquibancadas pintadas de amarelo e vermelho. Esta foi uma das primeiras obras do fascismo a receber a benção da igreja católica.

Em 1932, era inaugurado o Stadio del Littorio, em Trieste. Ainda foram construídos o L’Ascarelli di Napoli e Il Comunale di Torino, que por ser o mais imponente complexo esportivo do país, logo passaria a ser chamado de Benito Mussolini.

O Mundial

A abertura do Mundial demonstrou o quanto o povo apoiava Mussolini e o quanto a sua “preocupação” com o calcio, com a construção de estádios e mudanças nas regras para jogadores estrangeiros, elevariam o status do regime fascista. Apesar do prestígio alcançado especialmente com a presença do Duce em todos os jogos, a Azurra não teria um caminho fácil e, ficaria evidente que o preparo físico era fundamental para seguir adianta na competição. Com um regulamento que previa jogos no dia imediatamente posterior, caso uma partida terminasse empatada, a cada jogo da Azurra, era um bombardeio de propaganda fascista, utilizando amplamente os símbolos nacionais, como o uniforme preto, a bandeira e o hino, além da presença do Duce em todos os jogos da seleção italiana sempre comemorando cada vitória da Azurra com os “camisas-negras”.

Jogos marcantes Copa de 34

Italia x Espanha – Jogo de 210 minutos onde o herói da partida foi Giuseppe Meazza, autor dos gols da vitória que foi retirado de campo desmaiado. Uma das maiores demonstrações do espírito de sacrifício que o regime fascista exigia.

Itália x Tchecoslováquia – Final. Jogo com prorrogação, onde a Itália venceu por 2 a 1. Os tchecos nunca aceitaram o resultado, alegando que momentos antes da partida, o juíz fora visto na companhia do Duce em seu camarote.
Antes da Copa, porém, Mussolini utilizou amplamente o futebol como mecanismo de aproximação com outros governos. Um evento futebolístico poderia (e ainda pode, na verdade) ser um poderoso aliado para os governos em suas tentativas de aproximação e conclusão de seus interesses políticos.

Slavia x Juventus - Quando o time italiano viajou a Tchecoslováquia para o amistoso, foram recebidos com repulsa pelos tchecos, já que italianos e alemães se aproximavam aos poucos e com receio dos anseios de expansão de Adolph Hitler, que já governava a Alemanha. Na ocasião deste jogo, o embaixador italiano na Alemanha disse: “…as copas, os campeonatos, são situações muito importantes, mas há alguns casos em que se dá prioridade à suscetibilidade nacional, que então é posta em jogo em cada competição esportiva.”

Inglaterra x Itália, a Batalha de Highbury – Em 1934, apenas alguns meses depois de conquistar o Mundial, a seleção italiana enfrentou a seleção da Inglaterra no estádio de Highbury. Os inventores do jogo venceram por 3 a 2 numa partida violenta, em que muitos jogadores deixaram o campo com ferimentos consideráveis, entre eles, Eddie Hapgood, que teve seu nariz fraturado. Meazza mais uma vez foi a alma do regime fascista em campo marcando os dois gols da Azurra.

A Azurra de Mussolini na Copa de 1938 – França

Os jogadores da Squadra Azurra foram recepcionados da pior maneira possível ao chegarem ao pais sede da Copa de 38: a França. Os franceses já haviam se posicionado como antifascistas e lideravam esse movimento na Europa. A relação entre Itália e França já estava deteriorada especialmente depois de Mussolini hostilizar o governo francês em uma de suas declarações. O vagão do trem no qual se encontrava a seleção italiana em sua chegada à França, foi recepcionado por cerca e 3.000 antifascistas com gritos de “fascistas”, vaias, insultos os mais variados. Dentro de campo, na estreia com a Noruega, a saudação à romana da seleção de Mussolini, fez o estádio parecer que ia explodir.


Mussolini não media esforços para que a campeã Itália alcançasse o bi-campeonato, e enquanto as demais seleções viajavam de trem, a Azurra tinha um avião à sua disposição. Na semi-final, os azurri enfrentaram o Brasil e o discurso utilizado após a vitória italiana foi tipicamente fascistas: “Saudamos o triunfo da inteligência itálica contra a força bruta dos negros”.

Contra a Hungira, na final, uma história ficou bem conhecida. Contam que um telegrama foi enviado à concentração italiana, enviado pelo próprio Mussolini. A mensagem era clara: “Vencer ou morrer”. A Azurra sobreviveu vencendo a Hungria por 4 a 2 e seus jogadores foram recebidos em casa como verdadeiros gladiadores. O Fascismo saiu fortalecido, especialmente através de sua propaganda de governo, onde se colocava o esporte como meio exitoso para os fins do regime e aprofundamento da fidelidade nacional.

Fonte: LANCE!NET.

20 de junho de 2010

Tunél do tempo: Ex-jogador do Ferroviário marcou gol inédito em Copa do Mundo.

Ex-jogador das categorias de base do Ferroviário, Chun Soo-Lee, da Seleção Coreana, fez o primeiro gol de um jogador com passagem no futebol cearense numa Copa do Mundo.
Já tendo disputado a Copa de 2002, Chun Soo Lee marcou o primeiro gol da Coréia do Sul na estréia de sua seleção contra o Togo, na Copa de 2006, na Alemanha. A Coréia venceu por 2x1 e Chun Soo-Lee teve ótima participação.

Chun Soo-Lee foi atleta do Ferroviário durante o ano de 1996. O jogador coreano, trazido na época pelo ex-atacante Mirandinha, desenvolveu suas habilidades nas escolinhas da Barra, num intercâmbio inédito desenvolvido naquela oportunidade pelo presidente Clóvis Dias.

Além de Chun Soo-Lee, o então treinador coral Mirandinha trouxe mais quatro jogadores, três japoneses e mais um coreano. Além da lateral-esquerda, Lee também joga bem na frente, como ponta. Desde que saiu do Ferroviário, o jogador passou por clubes do futebol coreano e pelo Real Sociedad e Numancia, ambos da Espanha.

Fonte: Site do Ferrão.

17 de junho de 2010

Para acabar com a negociata no futebol! Somos todos St. Pauli!!!!!

Em seu ano do centenário, o St. Pauli, clube ícone da esquerda alemã, conseguiu, dia 8/06, o acesso para a primeira divisão do Campeonato Alemão, da qual estava fora desde a temporada 2001/2002.

"Foi fantástico. Depois de quase falir, conseguimos chegar lá. Todo o distrito está em festa. Havia comemorações de mais de 80 mil pessoas", disse Maarten Thiele, estudante de Ciências Sociais e torcedor há 9 anos do St. Pauli.

"A comemoração foi incrível. Conseguimos o acesso fora de casa e eu estava lá, acompanhando o time. Invadimos o campo e celebramos com os jogadores, todos se abraçaram, pularam e cantaram. Eu não conseguia acreditar. Foi um dos dias mais felizes da minha vida", disse.

Localizado no bairro portuário de Sankt Pauli, ponto tradicionalmente alternativo de Hamburgo, é hoje um dos clubes mais populares e queridos da Alemanha, com 11 milhões de torcedores.

A razão de tanto carinho vem do pouco tradicional perfil do clube: é contra o racismo, o fascismo, a homofobia e o machismo por estatuto e é identificado com os movimentos anticapitalistas europeus. Seu presidente não é um bilionário, dono de grandes corporações e de reputação duvidosa, como o italiano Silvio Berlusconi, dono do Milan. Corny Littmann é homossexual e diretor teatral. Patrocionado por uma loja de artigos eróticos, tem na bandeira pirata, com a caveira e os ossos entrelaçados, seu emblema extra-oficial.

O bairro de Sankt Pauli recebeu milhares de imigrantes na década de 60, o que fez com que o tradicional clube que lá existia desde 1910 se identificasse com a emergente luta da classe trabalhadora da periferia de uma das cidades mais ricas da Alemanha. Hoje em dia, o estádio é rodeado por ocupações do movimento anarquista e as ruas do bairro se tornam festas gigantes sempre que tem jogo do time local. Manifestações fascistas, de extrema direita foram banidas dos jogos do time na década de 80, quando o hooliganismo xenófobo crescia assustadoramente na Europa.

Após a conquista do acesso, haverá um grande festival de cultura(http://community.fcstpauli100/) e um torneio antiracista (http://www.antira-stpauli.org/), cuja renda será revertida para iniciativas sociais do distrito. A iniciativa parte de uma torcida organizada (ultras) que realiza ações sociais para imigrantes sem moradia.

Muitos dos fãs também se organizam em grupos de luta por direitos do torcedores e contra a mercantilização do futebol. Na segunda divisão, aconteceram partidas nas segunda-feiras, o que a torcida considerou injusto, pois muitos trabalhadores não puderam comparecer. Em protesto, a torcida passou os primeiros 20 minutos de uma partida entoando músicas contra as emissoras de televisão. Dentro e fora do estádio, abundam cartazes de conotação política. Se o clube mantém seu caráter independente, sem dúvida essa força vem das arquibancadas. "É mais do que somente futebol. Há uma identificação com o bairro, com a sua gente. Ser anticapitalista, é um estilo de vida", disse Thiele.

Com apoio massivo pelo mundo, são mais de 500 fãs clubes, e contando com a simpatia de bandas como o Bad Religion e Asian Dub Foundation, o St. Pauli tem uma alta média de público - quando estava na terceira divisão chamava 15 mil pessoas por jogo contra a média de 200 da competição. A torcida faz de cada jogo um evento político com bandeiras, mensagens politizadas e cantos contestadores. Os punks, com seu visual chamativo, também marcam presença nas arquibancadas e atraem bastante atenção da mídia.

O clube sempre começa seus jogos com uma música da banda de rock AC/DC e toca a Song#2 do Blur quando saem gols. O St. Pauli também tem um dos últimos placares manuais do futebol europeu. Toda vez que um gol é marcado, um funcionário atualiza a plaquinha. O Estádio Millertorn, casa do St. Pauli, não pode vender por determinação estatutária o nome a uma marca, como aconteceu com o Bayern de Munique e uma empresa de seguros que financiou a Allianz Arena. "Uma vez uma empresa tentou colocar um mascote no estádio. Foi expulso com um banho de cerveja". disse Maarten. O mesmo já aconteceu com uma propaganda machista, que foi jogada ao lixo pela torcida.

Até o ídolo do time participa deste espírito coletivo. Afinal, ele poderia ser mais uma vítima da xenofobia contra imigrantes, um problema bastante atual na Europa. Alemão e filho de pais turcos, Deniz Naki se identificou especialmente com o clube. Durante a disputa da segunda divisão, fez um gol contra o Hansa Rostock, equipe relacionada com a direita alemã. Na comemoração, dirigiu-se a torcida adversária, fez o gesto de que iria cortar-lhes o pescoço e fincou a bandeira pirata no gramado.

Na última vez em que esteve no topo do futebol alemão, derrotou o campeão mundial Bayern de Munique e alguns preconceitos. O que reservará a próxima temporada? Para Thiele, as expectativas superam o futebol: "espero que ele mantenha sua atitude, que estar na primeira divisão não signifique fazer concessões. Tenho confiança de que continuaremos nadando contra a corrente", afirmou.

Escrito por: Pedro Ribeiro Nogueira.

Saiba mais sobre o St. Pauli:
http://gazzetta. blogsport. de/, http://usp.stpaulif ans.de/, http://www.stpauli- fanladen. de/english/, http://www.myspace. com/punkrockstpa uli

16 de junho de 2010

A ligação íntima entre futebol e política

A Copa do Mundo e as eleições dividem as atenções da agenda pública brasileira em 2010 e a forma como isso é noticiado gera diversos debates. Com a proposta de reunir pessoas qualificadas para falar sobre os dois temas mais importantes do ano, acontece nesta semana em Curitiba o evento “Agenda 2010: futebol e política”, no Paço da Liberdade.

Na última quarta-feira (05), primeiro dia do evento, a conversa passou por vários aspectos relevantes em relação ao tema e criticou o jornalismo nacional. A proposta inicial na discussão foi abordar a forma como a mídia se porta frente às relações entre grandes eventos, como os que vão acontecer no Brasil e no mundo neste ano.

O primeiro ponto abordado foi a divisão ou, na visão dos debatedores, a não-divisão entre os temas. De acordo com eles, o debate político que a eleição normalmente causa vem sendo ofuscado pelo mundial da África do Sul. Segundo o repórter da revista Carta Capital, Leandro Fortes, o que, em partes, explica essa disparidade é o fator emocional relacionado à Copa do Mundo e a falta disso em relação às eleições.

Ele argumenta que o brasileiro cria, principalmente em época de Copa do Mundo, uma identificação muito forte – e artificial – com o país, o que não ocorre na hora de escolher os governantes. "A concentração do imaginário do povo se volta para a celebração do grande evento esportivo e a concentração midiática segue a maré", opina Fortes.

Jornalismo de torcida

Uma das maiores críticas levantadas no debate foi relacionada à qualidade e aos propósitos do jornalismo – tanto o político quanto o esportivo. Fortes defende a idéia de que a maior – e pior – semelhança entre esses dois tipos de textos está na forma como a defesa de certos times, seleções e candidatos são feitas. “Não existe de fato cobertura política no Brasil”, critica.

Segundo ele, o que existe, tanto na área esportiva quanto política, é um jornalismo declaratório, o que vai contra a base da profissão. ”A função do jornalista é usar uma linguagem simples e crítica”, alega, num misto de diagnóstico presente e solução para o futuro.

Esporte e política

Para o mestre em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP) Joaquim Toledo Junior, a política e o esporte estão relacionados também no legado deixado por eventos como Copa do Mundo e Olímpiadas para as cidades-sede. O professor da PUC-SP e doutor em ciências sociais José Paulo Florenzano aponta outra relação entre as duas esferas, ele considera que houve tentativa dos meios políticos de se apropriar do discurso esportivo. Segundo o professor, isso ocorreu através da utilização das vitórias esportivas em prol da legitimação do governo. Florenzano levantou dois exemplos contrastantes: as copas de 1970 e 1974.

Na primeira, a escolha do selecionado brasileiro sofreu influências que ficaram marcadas na história. Entre os agentes dessa influência, além da comissão técnica, do grupo de jogadores e da opinião pública, estava o governo, na figura do presidente Emílio Garrastazu Médici. Conta-se que o presidente exigiu a escalação de determinados jogadores, fato que causou, meses antes da copa, a troca de João Saldanha por Zagallo no comando da equipe.

Em 1974, os jogadores brasileiros, respaldados pela vitória em 1970 e insatisfeitos com as críticas da imprensa, assinaram um manifesto em que prometiam não falar mais com os jornalistas, episódio que ficou conhecido como o Manifesto de Glascow.

Fonte: Jornal Comunicação.

11 de junho de 2010

VENCER OU MORRER (Futebol, Geopolítica e Identidade Nacional)

As relações entre Estado e futebol sempre foram nebulosas, muito especialmente os Estados autoritários, o que, porém, não equivale a dizer que dirigentes eleitos democraticamente também não tenham procurado se apropriar do prestígio que o esporte oferece, aproveitando-se da fama que equipes e jogadores conquistam em campo. Também não foram poucos os governos — e não só na América do Sul — que trataram de consolidar a idéia de orgulho nacional através das vitórias de seus selecionados.

É o que mostra Gilberto Agostino, historiador associado ao Laboratório de Estudos do Tempo Presente da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em seu trabalho Vencer ou Morrer: futebol, geopolítica e identidade nacional, sem deixar de registrar que o esporte também já serviu a nobres ideais em busca da liberdade (quem tem mais de 30 anos deve se lembrar da seleção polonesa na Copa do Mundo de 1982, na Espanha, sempre acompanhada nos estádios pela bandeira do movimento sindical Solidariedade).

Em sua pesquisa, Agostino recorda que foi no condado de York, em Sheffield, centro industrial de aço, na Inglaterra, que nasceu em 1855 o primeiro clube voltado especificamente para o futebol. Aliás, o futebol desde suas origens esteve ligado aos trabalhadores, em função da gradativa ampliação dos horários de lazer, especialmente com a folga após o meio-dia de sábado. O autor lembra que a final da Copa da Footbal Association, a primeira liga da modalidade, em 1877, no Crystal Palace, em Norwood, subúrbio de Londres, reuniu mais de 27 mil pessoas — a maior parte operários.

No Brasil, o futebol logo conquistou adeptos na incipiente classe trabalhadora do Rio de Janeiro, o que levou alguns intelectuais a condená-lo. O escritor mulato Lima Barreto, por exemplo, foi um dos organizadores da Liga contra o Futebol. Mais tarde, o romancista Graciliano Ramos também iria questionar o esporte bretão, dizendo que o futebol não iria conquistar o sertão. Já o escritor Coelho Neto, figurão bem situado na sociedade carioca, não só foi entusiasta do futebol como dois de seus filhos, Mano e Preguinho, tornaram-se grandes jogadores. Ele morava em frente ao campo do Fluminense e virou torcedor desvairado de um clube que não aceitava negros em seu time. Foi o Vasco da Gama, clube criado pelos comerciantes portugueses do Rio de Janeiro, o primeiro a escalar negros em sua equipe.

Como mostra Agostino, a princípio, não só na Europa como na América do Sul, abriu-se através do esporte um importante elemento questionador do mito da superioridade do homem branco, principal base ideológica do imperialismo, que “justificava”, por exemplo, a presença de europeus na África. Em 1919, por exemplo, foi realizado o primeiro Campeonato Sul-Americano, possibilitando aos brasileiros a conquista de um título que representou um dos maiores orgulhos nacionais da época. Mas, por imposição do presidente Epitácio Pessoa, para essa seleção não foram chamados negros porque poderiam ser chamados de macaquitos pelos argentinos, tal como ainda fazem hoje com jogadores negros brasileiros na Itália e na Espanha.

Como observa o autor, logo os fascistas iriam se aproveitar da força que o espetáculo esportivo podia vir a representar numa sociedade de massas, embora Mussolini, a princípio, tenha dado maior importância aos chamados esportes de guerra: ginástica, boxe, natação, esgrima e tiro. Só mais tarde o futebol seria considerado um esporte condizente com os mais nobres valores do regime. E o Duce logo iria se deixar fotografar ao lado de futebolistas para tentar passar a idéia de força física.

O auge dessa exploração dar-se-ia na Copa do Mundo de 1938, quando a Squadra Azurra derrotou a Hungria na final por 4 a 2. Pouco antes do jogo, os jogadores receberam um telegrama do próprio Mussolini: Vencer ou Morrer. Com a vitória, os jogadores seriam recebidos em Roma como novos gladiadores. “Para o regime, o êxito esportivo e a potencialidade propagandística criavam mais uma vez uma ocasião monumental, capaz de ritualizar a fidelidade nacional e exaltar valores do regime”, observa Agostino.

Também a Alemanha nazista fez dos Jogos Olímpicos de 1936, em Berlim, a apoteose esportiva e estética do Terceiro Reich, aproveitando-se de uma competição pacífica entre nações para promover uma explosão de ódio e terror e de perseguição a judeus, ciganos, comunistas, anarquistas e tantos outros. No Brasil, o fascismo caboclo de Getúlio Vargas não deixou de promover pantomimas no estádio do Vasco da Gama. E, em 1950, depois da redemocratização de 1945, há quem diga que a frustração da derrota brasileira para o Uruguai na final da Copa do Mundo foi motivada principalmente pelo acesso indiscriminado de políticos à concentração da seleção nas horas que antecederam a partida final. Afinal, todos queriam aproveitar a oportunidade para tirar uma foto ao lado daqueles que já eram considerados antecipadamente campeões do mundo.

A maior exploração política do futebol no Brasil, porém, viria vinte anos mais tarde, quando a seleção sagrou-se tricampeã do mundo no México, à época em que a ditadura militar promovia a tortura e a matança indiscriminada de opositores políticos. A cada vitória, uma aclamação popular parecia legitimar o regime, enquanto o próprio ditador de plantão, o general Garrastazu Médici, aparecia no noticiário da TV fazendo canhestramente embaixadas com a bola nos pés.

Em 1978, na Argentina, igualmente sob botas, a Copa do Mundo foi organizada para levar o time da casa ao título e estimular o patriotismo e legitimar o regime espúrio. Muitos jornalistas compararam a cerimônia de abertura dessa Copa à estética política do nazismo. E não estiveram longe da verdade.

Em seu estudo, Agostino lembra ainda que o momento da decolagem da interação do futebol com os meios de comunicação foi a Copa da Suíça em 1954, transmitida pela primeira vez pela TV. Nascia a Eurovisão e começava a declinar o domínio do rádio nas transmissões esportivas. Na Copa da Suécia, em 1958, as transmissões foram para quase todos os países da Europa, embora nem todas as famílias dispussem de televisores. Mas a grande mudança deu-se em 1970, na Copa do México, quando algumas partidas foram disputadas sob o sol do meio-dia para atender a exigências da TV e a propaganda invadiu quase todos os espaços ao redor do gramado. Mais tarde, alcançaria as camisas dos jogadores e muito mais.

Para Agostino, talvez seja impossível resistir a estandardização do jogo, que pode levar a modalidade a uma espécie de Rollerball, como mostrado num antigo filme de Hollywood. Em tempos de globalização, em que a nova ordem financeira internacional alimenta-se da pobreza humana e da destruição do ambiente natural, mais do que nunca, o “colonialismo de mercado” domina o futebol. É o que explica por que os clubes europeus compram por bagatelas os direitos de ter um jogador sul-americano para transformá-lo em máquina de fazer dinheiro. Basta lembrar que o brasileiro Ronaldinho, do Barcelona, foi adquirido ao Grêmio de Porto Alegre por US$ 4 milhões e, hoje, vale pelo menos US$ 150 milhões. Quer dizer, o futebol continua a servir a poderes opressivos, ainda que os opressores usem palavras suaves.

Escrito por: Adelto Gonçalves .

26 de janeiro de 2010

Ferroviário prestes a completar 1700 jogos pelo Estadual

Foto do Campeonato Cearense de 1938

Em pé: José Severiano Almeida (diretor), Oscar Carioca, Procópio, Adelzirio, Dudu, Bitonho, Zeca Pinto (atacantes), Valdemar Caracas (treinador) e Alberto Gaspar de Oliveira (diretor).

Agachados: Baiano, Zimba, Boinha (médios), Zé Felix e Popó (zagueiros);

Sentados: Gumercindo e Puxa-faca (goleiros).

O Ferroviário atingirá no próximo final de semana uma marca histórica no futebol cearense. Desde 1938 disputando o Campeonato Cearense da 1ª divisão, sem nunca ter sido rebaixado ou estado ausente de qualquer edição, o Ferrão está prestes a realizar sua partida de número 1700 pelo Estadual.

O feito acontecerá no próximo domingo, dia 31 de janeiro, no confronto coral contra o Maranguape, válido pela sétima rodada do Campeonato Cearense. O jogo será realizado no estádio Moraisão, às 16 horas.

Fonte: Portal Oficial do Ferroviario