28 de fevereiro de 2007

Breve História do Ferrão

A ORIGEM OPERÁRIA

"Um dos mais importantes exemplos da democratização e popularização do esporte bretão no Brasil foi a fundação de um time vocacionado para a vitória, o FERROVIÁRIO ATLÉTICO CLUBE, cujo nascimento se deu pela ação de empregados da rede de Viação Cearense (RVC, depois Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima, RFFSA, atual Companhia Ferroviária do Nordeste, CFN).

Em 1930, a RVC instalou oficinas de manutenção de locomotivas, carros e vagões na então distante região do Urubu, precisamente onde hoje se encontra a sede da CFN, na Avenida Francisco Sá - tal logradouro corresponde à antiga Estrada do Urubu, no período importante via de comunicação com Ferroviário em 1938a então distante Barra do Ceará, onde havia um hidroporto no qual pousavam hidroaviões trazendo destacados [sic] visitantes da cidade. À época, Fortaleza restringia-se praticamente ao seu centro histórico. Naquela área, ao longo dos anos, concentrou-se toda uma população humilde, na maioria fugida das secas, fome e latifúndios do sertão. Não foi coincidência que, no intuito de servir-se da mão-de-obra barata representada por essa população carente, instalaram-se na zona oeste da capital várias indústrias. Em consequência, ocorreu o aparecimento na região de inúmeras favelas, modestas residências, bairros operários, em geral menosprezados e esquecidos pelos poderes públicos.

Com uma grande quantidade de tarefas e serviços para executar, em 1933 a direção da RVC determinou a realização de horas extras noturnas (das 18 às 20h) nas citadas oficinas do Urubu, visando assim recuperar mais locomotivas, carros e vagões. Encerrando-se o expediente normal às 16h25min, decidiram os operários mais jovens, sobretudo aqueles que moravam longe, aproveitarem o "intervalo forçado" para divertirem-se, passarem o tempo, jogarem "foot-ball". Cotizaram o dinheiro para a compra da bola e armados de pás e enxadas. limparam um terreno vazio dentro das oficinas, tirando matos, arrancando tocos, nivelando-o. Para completar a co
nstrução do campo, confeccionaram traves a partir de tubos retirados de caldeiras de velhas locomotivas.

Daí em diante, no finalzinho da tarde, tornou-se sagrado o ´racha` entre os operários nas oficinas do Urubu. Para maior deleite, improvisaram até dois times, "Matapastos" e "Jurubeba", nomes de ervas, uma ´homenagem` irônica dos proletários aos matos que havia no terreno e que deram tanto trabalho na preparação do campo.

Nem guerra entre torcidas, nem paz entre classes! Com o sucesso das "peladas", veio a feliz idéia de organizar "algo maior". Em reunião na casa do mecânico José Roque (o ´Gordo`), os boleiros da RVC decidiram unir Matapastos e Jurubeba para formar um time de fato, capaz de jogar pela periferia nos finais de semana e até participar de campeonatos suburbanos. Dentro do óbvio, a equipe recebeu o nome de FERROVIÁRIO (...), por pouco não sendo chamado também de "ferrocarril", a exemplo de outros clubes sul-americanos oriundos de companhias férreas. Escolheu-se ainda um uniforme com listas verticais nas cores vermelho, preto e branco (...)

As "movimentações esportivas operárias" não passaram despercebidas a Valdemar Caracas, então influente chefe do escritório de manuntenção da RVC e igualmente apaixonado por futebol. (...) Valdemar Caracas (...) se dispôs a organizar melhor a equipe nas horas vagas que tivesse. Reuniu os "atletas-trabalhadores" e, juntos, "refundaram" ou fundaram formalmente o Clube (...), o qual recebeu o "nome completo" de FERROVIÁRIO FOOT-BALL CLUB, denominação alterada anos depois, por sugestão de Caracas, para FERROVIÁRIO ATLÉTICO CLUBE. (...) Nascia assim, naquele dia 9 de maio de 1933, entre humildes empregados da RVC, o Ferroviário, para ser um dos orgulhos do futebol e povo cearenses."

TIME DA ESQUERDA E DA LUTA DOS OPERÁRIOS

"Os anos 60 foram conturbados para o Brasil. Em 1964, um golpe civil-militar depôs o presidente João Goulart, iniciando tenebrosa ditadura a qual se estendeu até 1985. O Regime Militar não deixou de refletir-se no futebol, usado para angariar simpatias e apoios populares. Não foi coincidência que, dentro da lógica "Brasil potência", "país do futuro", "Brasil ame-o ou deixe-o", inaugurou-se pelo país afora vários Ferroviários em luta! estádios de futebol, como o Castelão em 1973.

A repressão, entretanto, era forte contra aqueles que ousavam questionar a ditadura. Há, inclusive, um fato interessante: muitos dos comunistas e pessoas militantes de esquerda das décadas de 1950/60 tinham preferencialmente o FERROVIÁRIO como o time do coração. Um dos mais fortes redutos do PCB-CE (Partido Comunista Brasileiro, secção Ceará) no meio sindical cearense estava na RVC/RFSSA, destacando-se ali a liderança do sindicalista Francisco Pereira da Silva, preso quando do golpe em 1964. Os ferroviários chegaram em 1° de abril a entrar em greve e tentar mobilizar a população contra a quartelada em Fortaleza - locomotivas foram mesmo sabotadas e vagões descarrilados! Vários trabalhadores da RVC/RFFSA foram detidos, humilhados e demitidos."

Fonte: "FERROVIÁRIO: Nos Trilhos da Vitória", de Airton de Farias.

25 de fevereiro de 2007

Manifesto de Lançamento

Em épocas de crises, guerras e revoluções, o capitalismo desfere golpes cada vez mais constantes contra a classe operária. Para responder a estes ataques é necessário erguermos trincheiras e a bandeira da resistência.

Muitos dizem que o esporte, especialmente o futebol, não é um campo privilegiado da luta de classes. Mas entendemos que a burguesia, enquanto classe dominante, se apropria das produções da humanidade – como o esporte, a ciência e a arte – para extrair lucro. Conseqüentemente, o esporte passa a ser um dos meios de continuação da política. Acreditamos ser possível sintetizar a luta de classes e o esporte, em particular o futebol, em um só sentimento classista.

A ULTRAS RESISTÊNCIA CORAL nasce da fundição da luta da classe operária com sua paixão pelo futebol, precisamente pelo FERROVIÁRIO ATLÉTICO CLUBE, um clube surgido genuinamente da classe operária, de dois times de final de expediente de trabalho, em que operários ferroviários reuniam-se para jogar após a dura e alienante jornada de trabalho. Desde então nossa classe passou a ter porquê sentir orgulho no futebol, pelos títulos, pelos gols e pelas jogadas inesquecíveis. Mas a isso seguiram-se derrotas no campo, na luta de classes. O FERRÃO foi sendo escanteado, depreciado por adversários, por cronistas futebolísticos da mídia burguesa que, implicitamente, tentaram destruir a consciência de classe “forjada na refrega e no fogo” do férreo torcedor coral. O “TUBARÃO DA BARRA” passou pelo risco de fechar as portas, de perder sua estrutura no bairro operário da Barra do Ceará. Mas sua torcida fez do sacrifício o suporte para manter erguida nossa sede, a Vila Olímpica Elzir Cabral. As barras de linha de trem, que literalmente sustentam a estrutura de concreto, e os vigorosos punhos operários, que mantêm erguida a bandeira coral, jamais hão de ruir.

A ULTRAS RESISTÊNCIA CORAL não enxerga os torcedores de outros times como potenciais inimigos, já que a composição social das torcidas no Brasil é principalmente de trabalhadore(a)s ou jovens filho(a)s de trabalhadore(a)s. Nossos reais inimigos são os cartolas burgueses, capitalistas, que exploram trabalhadore(a)s em suas empresas e ainda comandam nossos clubes, planejando os aumentos abusivos de ingressos, nos impossibilitando de vermos nossos times de coração, limitando, assim, nosso direito ao lazer. Também é verdade que a maioria das torcidas organizadas foram controladas por playboys, filhos de burgueses, que, a partir da máxima capitalista “dividir pra conquistar”, transformam as torcidas em gangues sem a menor identidade, incentivando a violência entre a juventude proletária, que muitas vezes mora no mesmo bairro, estuda na mesma escola, freqüenta o mesmo meio social. Queremos a paz entre nós, proletários, e a guerra aos burgueses, inclusive utilizando da violência revolucionária.

A ULTRAS RESISTÊNCIA CORAL combate intransigentemente a homofobia, pois cremos que cada um tem o direito a fazer a opção sexual que quiser. Incentivamos este segmento de oprimido(a)s a organizarem-se; nossa claque disponibiliza todo espaço para a discussão sem quaisquer constrangimentos.

A ULTRAS RESISTÊNCIA CORAL combate implacavelmente o racismo, dentro e fora das arquibancadas. O capitalismo utiliza o racismo de forma sistemática, inclusive nos estádios. Lutamos intrepidamente contra grupos nazi-fascistas que usam as torcidas para espalhar o ódio racial. Racismo se combate com raça e classe.

A ULTRAS RESISTÊNCIA CORAL não admite machismo em suas fileiras, dando a batalha para que as mulheres operárias se organizem para encampar a luta anti-machista. É inegável que a classe operária está impregnada de preconceitos, conseqüentemente, a luta contra o machismo também deve se dar no interior de nossa classe. E queremos não apenas que as mulheres tenham os mesmos direitos que os homens, aspiramos também a própria superação desses conceitos da sociedade de gênero.

A ULTRAS RESISTÊNCIA CORAL também combate a xenofobia e o nacionalismo. A seleção brasileira é utilizada para tentar amenizar as crises no Brasil e em outros países irmãos, servindo à política de “ópio”, onde se tenta incutir um nacionalismo ufanista, explorando uma paixão popular, o futebol. Essa mesma seleção, que já foi utilizada como propaganda do regime militar na década de 70, agora é usada para amenizar a insatisfação dos haitianos frente a brutal ocupação brasileira do Haiti. Diante do patriotismo que a burguesia quer nos atribuir para defender seus interesses defendemos que “a classe operária não tem pátria”. Solidarizamos-nos com as lutas da classe operária em todo o mundo, defendemos a autodeterminação de povos e nações oprimidas pelas burguesias imperialistas. A classe operária é internacional!

A ULTRAS RESISTÊNCIA CORAL acredita que só é possível obter o direito à vida plena com a abolição do trabalho alienado, conseqüente da destruição do capitalismo. “A emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores”!

A ULTRAS RESISTÊNCIA CORAL, enfim, luta arduamente contra todas as mazelas do capitalismo, dentro e fora dos estádios. Nossa torcida não é de mero(a)s espectadore(a)s de partidas de futebol e da luta de classes, somos expressão do que há de mais ativo nas arquibancadas e na luta operária. Nossa bandeira abriga todos o(a)s lutadore(a)s explorado(a)s e oprimido(a)s que encontram no FERROVIÁRIO um alento, não apenas para torcer, mas, sobretudo, para lutar por nossa causa.

Nossa paixão pelo FERROVIÁRIO é ferrenha e não há de ser corroída pela ferrugem. Nos campos de classe e de futebol a resistência segue adiante!



Nem guerra entre torcidas,
nem paz entre classes!

Nada diminui nossa paixão incendiária,
Ferroviário, orgulho da classe operária!